I SÉRIE — NÚMERO 46
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Haja coragem para enfrentar os grandes interesses económicos, que são os únicos beneficiários deste
desvario. A mesma coragem que utilizam para aumentar a taxa de gestão de resíduos que será paga sempre
pelos mesmos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para apresentar a sua iniciativa, tem a palavra o Sr. Deputado Nelson Peralta, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. Nelson Peralta (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Este debate sobre política de resíduos
faz uma triagem das posições neste Parlamento e é por isso que entendemos que é útil trazer um debate
comparativo para ser esclarecedor.
A direita decidiu não trazer nenhuma proposta, mas o Partido Socialista decidiu trazer a direita a debate e
apresenta, hoje, uma proposta que a direita, o PSD e o CDS-PP, já apresentaram em 2013 e que o próprio PS
votou contra.
Olhemos para esta proposta. Tem um título pomposo: «(…) medidas necessárias com vista ao reforço da
recolha seletiva em Portugal». O que diz a proposta sobre redução, reutilização e reciclagem? Zero! Sobre
métodos de recolha? Zero! Sobre novos fluxos de resíduos? Zero!
O Sr. João Miguel Nicolau (PS): — E o Bloco de Esquerda?!
O Sr. Nelson Peralta (BE): — A proposta do Partido Socialista é tão-só a de implementar um tarifário
poluidor-pagador, sem qualquer outra medida a montante e onde se assume que o poluidor é quem está em
casa, sem alternativas de consumo, e não todo um sistema económico.
Mas, apesar de esta proposta ser só sobre o tarifário, não diz uma única linha sobre tarifa social. No entanto,
em dezembro, o Governo retirou as obrigações das empresas produtoras e dos hipermercados em matéria de
reutilização de embalagens, mas o Bloco apresentou uma proposta de lei para combater a sobre-embalagem e
o PS votou contra. Mas as empresas do setor continuam a não cumprir uma única meta.
Contudo, perante todos estes «mas», qual é a solução do Partido Socialista? Poupar as empresas do
descartável, poupar as empresas do setor dos resíduos e responsabilizar somente quem está lá em casa.
Falemos da alternativa. O Bloco não descura a importância da responsabilidade individual. Aliás, todos
aprendemos a reciclar com o chimpanzé Gervásio, mas também, mesmo com o chimpanzé Gervásio, foi preciso
investimento público e a criação de um novo modelo de recolha, os ecopontos.
Portanto, que propostas traz aqui hoje o Bloco de Esquerda? Em primeiro lugar, propomos a reorganização
da economia. Se queremos, verdadeiramente, reduzir os resíduos, é preciso reduzir a sua produção na origem,
é preciso haver regulamentação das embalagens, sistemas de tara recuperável, medidas de longevidade dos
equipamentos eletrónicos, e tantas outras medidas de responsabilização das empresas produtoras.
O Sr. Hugo Pires (PS): — Isso são medidas complementares!
O Sr. Nelson Peralta (BE): — Em segundo lugar, propomos a responsabilização do Estado e do seu setor
dos resíduos, com a implementação de novos modelos de recolha, como o porta-a-porta, e com a criação de
novos fluxos de resíduos, como os biorresíduos ou o têxtil. E também são necessárias medidas para aproveitar
corretamente o metano expelido pelos resíduos.
Propomos também medidas sobre a tarifa. Desde logo, queremos a generalização da tarifa social. O setor
dos resíduos é um serviço público essencial e não pode ficar ninguém excluído — ninguém excluído! — deste
serviço, nem pode este serviço ser um sobrecusto sobre as famílias carenciadas.
Propomos, igualmente, que sejam criados mecanismos de apoio à tarifa em zonas de baixa densidade
populacional. Quem vive em aldeias do interior não pode estar sujeito a tarifas mais elevadas só por causa dos
custos da organização territorial.
Propomos, ainda, o fim das rendas excessivas e dos subsídios perversos à queima de resíduos para
produção de eletricidade.