19 DE FEVEREIRO DE 2021
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É preciso disciplinar o setor e é preciso conhecer o seu desempenho a todas as escalas. É com esta avaliação
que se devem definir as opções estratégicas.
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, por melhor que seja o nosso sistema de resíduos urbanos, por mais eficiente e
abrangente que seja a nossa reciclagem, não é possível responder aos desafios ambientais sem encarar a
questão de fundo que é a redução.
Aliás, a redução ocupa o lugar de topo na hierarquia da gestão de resíduos, porque só produzindo menos
resíduos conseguiremos evitar consequências nefastas para a saúde e para o ambiente, provenientes desses
materiais e das próprias operações do seu tecnossistema de gestão.
Então, porque é nos deparamos com um número absurdo de embalagens que são totalmente dispensáveis,
como produtos básicos de alimentação ou de higiene envoltos em sacos, saquinhos, invólucros, caixas e mais
adesivos promocionais? A resposta é simples: porque a apresentação e embalamento dos produtos é feita para
fomentar o consumismo, é definida por estratégias de marketing para vender mais, incentiva as pessoas a
adquirirem produtos que não necessitam ou cuja embalagem é manifestamente exagerada. E tudo isto não só
significa um desperdício de recursos, como acaba por ser pago pelas próprias pessoas.
Quando o produtor ou distribuidor opta por esse tipo de embalagem e a cobra ao consumidor, o consumidor
não só paga a embalagem que não quer e não precisa como ainda tem de pagar a taxa de gestão
correspondente.
E aquilo que aqui voltamos a dizer é que é preciso coerência. Ou se defende o ambiente ou não. Não vale a
pena defender apenas quando isso se alinha com os poderosos interesses económicos.
O que propomos é apenas o sensato, o lógico: que se definam regras para as embalagens, para que elas
sirvam exclusivamente o seu propósito, e que a apresentação dos produtos se adeque apenas às suas reais
necessidades, com a utilização do mínimo de materiais e embalagens e optando por embalagens reutilizáveis,
acautelando sempre a segurança e a qualidade dos produtos.
Srs. Deputados, há um ano, não quiseram aprovar esta proposta do PCP e argumentaram com a diretiva
europeia sobre embalagens. PS, CDS, IL e PSD impediram que se desse um importante passo.
Hoje, um ano volvido, perguntamos qual é a desculpa para não reduzir drasticamente os resíduos
desnecessários. Não será verdadeiramente o tempo de fazer coincidir as intenções com as ações na defesa do
ambiente?
Nós achamos que é este o tempo ideal e que este é um passo racional, justo e que dá uma mensagem clara
de defesa ambiental. Avancemos.
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente: — Para apresentar a iniciativa do PAN, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Boa tarde, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados.
Os resultados da gestão de resíduos em Portugal são escandalosos. Tínhamos como meta, em 2020, uma
redução da produção de resíduos, face a 2012, de 10%, e aumentámos 13% até 2019.
No capítulo da reciclagem, não nos enganemos: preparámos 41% dos resíduos para reciclagem, mas apenas
reciclámos 15%. Portanto, este diferencial foi incinerado ou aterrado.
Chegámos a 2020 longe das metas que deveríamos alcançar na redução de resíduos, na deposição em
aterro e na reciclagem.
Em matéria de resíduos, que se rege pela política dos três R — reduzir, reutilizar e reciclar —, o primeiro
grande objetivo é a redução da produção de resíduos, a redução de lixo. E é precisamente isso que a iniciativa
do PAN vem propor hoje.
O PAN pretende, num primeiro nível de atuação, que, através da promoção do ecodesign das embalagens
primárias e a minimização da utilização das embalagens secundárias e terciárias, se reduza a produção de
resíduos.
Há certos produtos no mercado que são comercializados com várias embalagens que, tendo objetivos
promocionais e comerciais, não servem propósitos de qualidade ou segurança alimentar. E, nestes casos, o
consumidor, ao adquiri-los, não pode rejeitar as várias embalagens que envolvem o produto. Após a compra,