1 DE ABRIL DE 2021
83
fragilidades do sistema educativo que se arrastam, sem soluções estruturais, são visíveis. Faltam equipamentos,
professores, assistentes operacionais e condições físicas. O desenho curricular é anacrónico. O ensino
profissional é dual. A inclusão está longe de ter a abrangência necessária.
De reforma em reforma, a educação tornou-se uma gigantesca manta de retalhos na qual as mudanças se
justapõem, sem revogação, aumentando o caos burocrático e a obsessão pelo controlo.
A ressemantização da palavra «autonomia» revela como um conceito rico pode ser esvaziado de sentido. A
dimensão do número de alunos por turma deveria situar-se no âmbito dessa autonomia proclamada e nunca
alcançada. É o ajuste fundamental à diversidade com que a escola pública tem de lidar e a garantia da igualdade.
Há uma relação proporcionalmente inversa entre o tamanho das turmas e o sucesso das aprendizagens. Quanto
menor o número de alunos, maior o sucesso das aprendizagens.
No entanto, alguns diretores negam esta evidência. Nunca se ouvem os pedagogos, os professores e as
estruturas que os representam, por isso o Bloco de Esquerda defende o regresso da gestão democrática às
escolas.
Depois do 25 de Abril de 1974, com a melhoria de condições de vida, mais crianças e jovens puderam
frequentar a escola, que de 600 alunos passou a ter 3000, em turmas de 30 a 35 alunos. A escola de massas
foi dando lugar à escola-depósito, como é o caso da escola a tempo inteiro para pais e mães que trabalham
horas a mais.
A pandemia tornou visíveis os resultados da dispensa de milhares de professores e o retrocesso civilizacional
que foi o encerramento de escolas que, agora, são necessárias.
Muitas crianças e jovens foram prejudicados nas suas aprendizagens e no seu bem-estar social e psicológico.
Por isso, o Bloco de Esquerda retoma a sua proposta de redução do número de alunos por turma, por motivos
pedagógicos.
As alunas e os alunos precisam de encontrar na escola as melhores condições para recuperar de, pelo
menos, dois anos letivos atípicos. A redução do número de alunos por turma de necessária passou a urgente.
A narrativa economicista que diz que as turmas pequenas representam mais custos tem de ser desmontada.
Quanto custam as aulas de apoio e as tutorias? E as outras medidas, como os planos de promoção de sucesso
ou o combate ao abandono escolar? Isto sem falar nos custos das diversas formas de inclusão que têm
repercussões no resto da vida adulta.
Todos estes problemas têm um início e um fim: as turmas gigantes, que não permitem um ensino de
proximidade.
Sobre as provas nacionais de 9.º ano, já há demasiadas evidências sobre a sua inutilidade. Os exames de
11.º e 12.º anos, como modo de ingresso no ensino superior precisa de ser revisto, porque remonta à escola de
massas e à necessidade de criar numerus clausus.
Há décadas que este ingresso se mantém praticamente inalterável, com os exames nacionais a servir para
verificar o que os docentes ensinam e para aferir rankings. É necessário começar também este debate.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula Santos,
do PCP.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP traz a debate um conjunto de
propostas essenciais para responder às exigências colocadas pela epidemia da COVID-19 na proteção da saúde
dos trabalhadores e dos estudantes, no reforço do apoio aos estudantes e na implementação de medidas
excecionais que evitem a penalização dos estudantes e que garantam a continuação, com sucesso, do seu
percurso escolar.
Propomos a redução do número de alunos por turma com o objetivo de assegurar as condições pedagógicas
que permitam o adequado acompanhamento do processo de aprendizagem específico de cada um dos alunos,
por um lado, e, por outro, como medida de proteção da saúde pública e de combate à epidemia, ao assegurar
o distanciamento físico.
Atendendo aos cortes nos salários, ao aumento do desemprego e à perda de rendimento das famílias,
propomos o reforço da ação social escolar para garantir igualdade nas condições de acesso, frequência e