I SÉRIE — NÚMERO 53
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público em educação, aliviou as famílias daquela que, para muitas, era a fatia mais pesada dos encargos com
educação dos seus filhos.
Quero, no entanto, ser muito claro num ponto fulcral, do ponto de vista legislativo, acerca da proposta do
PCP: ela é, claramente, uma antecipação do próximo Orçamento do Estado, na medida em que pretende
produzir efeitos com a entrada em aplicação do Orçamento do Estado subsequente, como aí se diz. E isso tem
uma vantagem, que é mostrar que há alguém que entende que a Constituição é para respeitar, nomeadamente
no que toca à lei-travão, e que as decisões com impacto orçamental são para ser tomadas no momento correto.
Contudo, o último ponto da proposta deixa-nos uma perplexidade, na medida em que parece dizer que o
Governo tentará aplicar a lei antes do prazo em que a própria lei estabelece que ela será aplicada e que produzirá
efeitos.
Seria, assim, uma lei a meio gás, uma lei lusco-fusco, uma lei na forma tentada: não está a produzir efeitos,
mas cabe ao Governo fazer com que produza efeitos. Parece que esta abordagem deveria ser servida, na melhor
das hipóteses por uma recomendação e não por uma lei, evitando, até, lançar a incerteza jurídica sobre pessoas
que estão no terreno a fazer um trabalho onde já há suficiente incerteza provocada pela pandemia.
Há também várias propostas sobre exames, matéria onde tradicionalmente encontramos no espectro político
um leque muito variável de posições, desde os que defendem os exames como o alfa e o ómega da educação,
até aos que rejeitam qualquer forma de avaliação externa.
Para nós, tanto a avaliação interna como a avaliação externa têm o seu papel e devem ser equilibradas ao
serviço das aprendizagens. Por isso, apoiamos a posição equilibrada definida pelo Governo: em mais este ano
de pandemia é suspensa a realização das provas de aferição e das provas do 9.º ano e só se realizam os
exames nacionais que funcionam como provas de acesso ao ensino superior.
Procura-se, assim, conciliar vários valores.
Em primeiro lugar, por razões de saúde pública, é preciso limitar o número de provas a realizar
presencialmente e é preciso definir isso antecipadamente, porque a pandemia já demonstrou que não podemos
ter certezas acerca do que se vai passar daqui a alguns meses. Temos de tomar decisões prudentes, que
permitam às pessoas precaver-se e planear.
Em segundo lugar, é prudente não fazer modificações profundas e definitivas no sistema educativo a meio
de uma pandemia, tal como nos parece que não devemos fazer experiências com a vida das pessoas, o que
estaríamos a fazer variando as regras de um ano para o outro no decurso da mesma pandemia.
Em terceiro lugar, não podemos afunilar a vida dos alunos só no crivo dos exames.
Sabemos hoje, não só por observação direta, mas também pelos estudos que, entretanto, se fizeram —
designadamente o diagnóstico promovido pelo Ministério da Educação desde o ano passado, que foi
apresentado publicamente, pela primeira vez, nesta semana —, que há perdas relevantes provocadas por esta
situação atual no desenvolvimento dos alunos. Mas não são só perdas escolares no sentido estrito. São perdas
emocionais, perdas relacionais, perdas de socialização, perdas a nível dos equilíbrios de inserção social e
familiar.
Nesta situação, seria absolutamente desajustado afunilarmos a resposta educativa nos exames,
desatendendo outras dimensões essenciais.
Daí a opção por suspender as principais provas externas, só se mantendo as provas de acesso ao ensino
superior e os seus resultados só contando para esse efeito. O secundário é concluído com as avaliações
internas.
Ora, qualquer desvio deste modelo seria discriminatório contra alguns alunos, a menos que se realizem todos
os exames terminais de secundário, como em ano normal, o que, manifestamente, não é o caso em tempos de
pandemia.
Aliás, o ano transato mostrou que esta solução era equilibrada e que, na realidade, não atrapalhou o acesso
ao ensino superior, apesar dos compreensíveis receios que alguns expressaram nessa altura, mas foram receios
que não se concretizaram.
Finalmente, sobre a redução do número de alunos por turma, cabe lembrar que está em curso, desde a
Legislatura anterior, o compromisso que o Governo do PS assumiu e tem honrado com pontualidade.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Queira terminar, Sr. Deputado.