14 DE MAIO DE 2021
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O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Maria Cardoso, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. José Maria Cardoso (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Ministra, equipa governamental: Queria trazer aqui algumas considerações sobre o que está em discussão.
O Tratado de Lisboa e a nova estratégia de alto nível da União Europeia introduziram uma nova prioridade
política: a coesão territorial. O conceito surge, pela primeira vez, no Tratado de Amesterdão, em 1997, e tem
orientado a estratégia europeia para o desenvolvimento regional. No Livro Verde sobre a Coesão Territorial pode
ler-se: «A coesão territorial tem o propósito de alcançar o desenvolvimento socioeconómico equilibrado e
equitativo de todos os territórios», ou seja, nenhum cidadão europeu deve ser prejudicado, em termos de acesso
a serviços públicos, habitação ou oportunidades de emprego, simplesmente por viver numa determinada região.
É o atual Governo que reconhece a necessidade e o direito de todos os territórios acederem e atraírem novas
oportunidades, garantindo condições de acesso aos serviços de ensino, de saúde, de justiça, de desporto,
sociais e culturais. Lembro, a este propósito, que só no presente século, no nosso País, foram encerrados 6500
serviços públicos: centros de saúde, valências hospitalares, escolas, postos dos CTT, agências da Caixa Geral
de Depósitos, juntas de freguesia e outros. E onde aconteceu isto? Nos territórios de baixa densidade, com o
argumento de falta de população que justificasse o serviço. Resultado: perdeu população, porque não tem estes
serviços, que são a garantia mínima de satisfação das necessidades básicas, numa espécie de «pescadinha de
rabo na boca».
O Bloco de Esquerda apresentou um projeto de resolução sobre um programa de reabertura de serviços
públicos estruturado, em colaboração com os municípios e de acordo com a avaliação do seu efeito no
povoamento do território — foi rejeitado, nomeadamente pelo Partido Socialista. Nesse sentido, pergunto à Sr.ª
Ministra para quando a implementação de um programa de recuperação de serviços retirados a tantas
populações de baixa densidade por tanto terem contribuído para o seu despovoamento.
Este Ministério é uma novidade, mas o tema não é novo. O nosso País cultivou, durante décadas, as
desigualdades e aumentou as assimetrias regionais ao ponto de se considerar normal esta anormalidade, como
reprodutora das próprias desigualdades. Bipolarizamos a concentração populacional entre a Área Metropolitana
de Lisboa e a Área Metropolitana do Porto, ao mesmo tempo que assistimos, passivamente, ao despovoamento
de todo o interior e do sul do País, num total abandono, sem sequer parar para refletir nas consequências. Não
vale a pena descartar responsabilidades: foram Governos do PS, do PSD e do CDS que governaram o País
durante este período e, por isso, têm essa responsabilidade. Os dados conhecidos mostram-nos que, enquanto
andamos em experimentalismos paternalistas com o interior e com programas de boas intenções, a
desigualdade regional aumentou. Aliás, este é também um problema regional da União Europeia.
Este Ministério tem de ter uma estratégia para inverter esta tendência e não pode dizer que não são da sua
competência determinadas políticas de intervenção. Este Ministério é um espaço de confluência de políticas
setoriais de outros ministérios, é verdade, mas tem competências próprias atribuídas.
Não podemos falar em coesão territorial com medidas mitigadas e avulsas, como tem sido anunciado pelo
Governo. O problema é estrutural e tem de ser visto simultaneamente numa perspetiva local/regional, mas com
uma visão integrada/nacional e com metas e objetivos definidos. É verdade que temos, hoje, um Programa
Nacional para a Coesão Territorial, uma espécie de plano mais — mais coeso, mais competitivo, mais
sustentável, mais conectado, mas colaborativo —, mas não é percetível a tal visão integrada do País, nem as
prioridades de intervenção locais, a partir da realidade concreta de cada território. Não temos um só interior e
não é só no interior que nos debatemos com problemas. Veja-se o que se passa nas áreas metropolitanas,
saturadas de população, onde a não gestão da concentração fez com que as vantagens de escala se tornassem
numa deseconomia da aglomeração.
Precisamos de priorizar intervenções e de monitorizar implementações, aferindo resultados práticos de cada
programa de ação. Temos de saber aproveitar os pontos fortes de cada território, de estabelecer contacto
estreito entre os territórios e desenvolver a cooperação numa visão integrada de relacionamentos e de
otimizações de espaço.
Neste sentido, insisto em algo que o Bloco de Esquerda já apresentou como proposta e que também foi
rejeitada, também pelo PS. Para quando a plataforma digital em sistema de informação geográfica (SIG) como
forma de determinar a localização espacial mais adequada à criação/construção de qualquer infraestrutura, na