I SÉRIE — NÚMERO 77
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No que diz respeito a Lisboa, se, de facto, o Sr. Ministro sair da estratosfera de Bruxelas e puser os pés na
terra, em Lisboa, o que vai encontrar são solos contaminados e uma inação sua de seis anos, de
reiteradamente ignorar os avisos desta Casa, perguntas de vários grupos parlamentares, declarações políticas
do PSD e até uma resolução aqui aprovada a exigir a publicação do PRoSolos. Portanto, somos dos mais
desprotegidos da Europa neste âmbito. Já por várias vezes elencámos os problemas e o Sr. Ministro
reconheceu que, realmente, havia uma falha grave. Chegou mesmo até a dizer «não há atraso nenhum», mas
agora vem dizer que já está tudo agendado.
Sr. Ministro, o Sr. Presidente da APA disse, no Dia Mundial do Meio Ambiente, que já não esconde a sua
frustração por aquilo que é um atraso da responsabilidade do Sr. Ministro e que o atraso do PRoSolos tem
impedido a APA de mapear os solos contaminados, tem impedido a venda de terrenos e lesou já o País em
dezenas de milhões de euros.
Impõem-se, portanto, explicações cabais. Pergunto-lhe: porque é que há um atraso de seis anos neste
caso?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João
Pedro Matos Fernandes.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bruno Coimbra, nunca
me ouviram dizer que não há um atraso na publicação do PRoSolos. Aliás, maior liberdade e maior
independência entre o Estado e a administração foi ter tido uma seta para baixo por causa de uma afirmação
de um diretor-geral meu e que muito estimo, que é exatamente aquela que reproduziu.
Já agora, e indo atrás, por respeito — que é muito — ao Sr. Deputado Luís Leite Ramos, quero dizer que o
atraso que houve nas respostas, minhas e da minha equipa, às perguntas deste Parlamento é coisa pela qual
me penitencio.
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Ah! Pensei que estava tudo bem!
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Claro que me penitencio. Mas agora os senhores
fazem a pergunta fora de tempo, porque às 963 perguntas que foram feitas falta apenas responder a 12.
Sr. Deputado Bruno Coimbra, o senhor viu os números do Instituto Bruegel e, pelos vistos, não se
questionou. Achou normal que a Dinamarca — diz o documento — despendesse 91% da verba com o
combate à ação climática?
Se assim fosse, sabe o que é que acontecia? O plano era chumbado, porque 20% tem de ser para a
transição digital.
Sr. Deputado, 38% das verbas do PRR são afetas à ação climática. Até porque o Instituto Bruegel — e
reconhece-o de forma muito honesta — pega apenas nos valores que são diretamente adstritos à questão da
ação climática, e nuns até se enganou por excesso. Por exemplo, no que tem que ver com a eficiência hídrica
no Algarve, só 157 milhões é que são para o combate à ação climática e eles contabilizam 200.
Mas do que eles se esquecem, porque não conhecem o programa com rigor, é que, por exemplo, na
habitação, 1,2 bi são dedicados à ação climática e à melhoria das condições de eficiência energética dos
bairros sociais; 315 milhões na saúde têm que ver com a recuperação de equipamentos de saúde e têm
exatamente este objetivo. E, por isso, sim, 38% das verbas do PRR são afetas à ação climática. Isto quer dizer
6,3 mil milhões de euros nos 16,6 mil milhões de euros. É absolutamente objetivo.
E aquilo que lhe posso dizer com satisfação é que com as verbas do PRR, com as verbas do REACT e
com as verbas que estão estimadas para o próximo quadro comunitário de apoio, os 2,3 mil milhões de euros
que herdámos do Governo de V. Ex.ª vão ser 13 mil milhões de euros para o próximo ciclo de financiamento
comunitário.
Aplausos do PS.