21 DE OUTUBRO DE 2021
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Diz o Sr. Primeiro-Ministro que, de facto, há um problema na Europa, em particular decorrente do frio e do
inverno que se aproxima, bem como da resposta que é dada a este problema no norte da Europa, que está
dependente de combustíveis fósseis para o resolver. No entanto, creio que temos também um problema
estrutural, ao aliar a crise energética, decorrente dos combustíveis fósseis, com uma necessária mudança da
nossa forma de responder às alterações climáticas e à promoção de uma transição energética necessária e
indispensável.
O Sr. Primeiro-Ministro diz que, agora, temos aqui uma oportunidade, mas a questão que lhe coloco é a de
saber se somos mesmo capazes de agarrar esta oportunidade, porque a pior coisa que poderíamos fazer para
defender o ambiente era virar as pessoas contra as políticas ambientais. E não há pior coisa para esse perigo
do que, exatamente, ter na carteira uma ameaça para a resposta às alterações climáticas.
Quando olhamos para a subida dos combustíveis fósseis e vemos o que ela pesa na economia, na vida das
famílias, temos, então, de enquadrar uma resposta estrutural e a longo prazo, que é a transição energética, mas
também uma resposta imediata e urgente para retirar esse peso da carteira das famílias. E a minha pergunta é
muito direta: o que é que o Governo vai fazer sobre isso? É que, manifestamente, aquilo que já fez, que foi
reduzir uma parte do sobrecusto do ISP que atualmente existe, é insuficiente para que o peso deste sobrecusto
dos combustíveis fósseis saia da preocupação das famílias do nosso País. Esta é, creio, uma pergunta para o
Governo português e uma pergunta para a Europa, porque várias das respostas que estão a ser colocadas em
cima da mesa não são positivas para o ambiente. Veja-se o debate em França, em que a grande solução
apresentada é mais nuclear.
Ora, essas não são soluções, essas não são respostas, são mais problemas, e ou temos, de facto, a
capacidade de ter uma política para o futuro ou estamos aqui a cavar ainda mais parte das desgraças que
teremos pela frente.
Mas, colocando a questão na França e passando para uma outra vertente deste debate do Conselho
Europeu, que é a produção e o aumento da produção à escala europeia, registei como, de forma quase de
mansinho, o Sr. Primeiro-Ministro apresentou uma posição estrutural do Governo português em relação a algo
que abalou a confiança transatlântica.
Quando os Estados Unidos destroem o negócio que a França tinha com a Austrália, de milhares de milhões
de euros em material militar, e o Sr. Primeiro-Ministro vem aqui dizer-nos que não é momento para estarmos
com egoísmos vários — aliás, a sua expressão foi: «para termos uma visão ciumenta da política» —, é
claramente um virar as costas a Macron, o mesmo Macron de quem há dois, três anos atrás o Sr. Primeiro-
Ministro dizia que era parte das soluções para a Europa.
Mas é também colocar todas as fichas do outro lado do Atlântico. Com o anterior presidente, Trump, sabemos
que a Europa não contava muito, mas Biden não tem mostrado ter uma visão para a Europa muito diferente
daquela que Trump tinha. E essa é uma das questões que acho ser mais relevante para discutirmos agora,
porque — e para terminar, Sr. Presidente — uma Europa que apostou sempre na perspetiva, na sua relação
com o mundo, naquilo que poderia fazer debaixo da alçada dos Estados Unidos,…
O Sr. Presidente: — Obrigado, Sr. Deputado. Tem de concluir.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — … está agora órfã dessa perspetiva e dessa estratégica e creio que o Governo português, ao insistir nessa estratégia, também nos deve explicar o que prevê que possa advir daí.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: Indo diretamente a algumas questões que aqui colocou, queria começar pelas da energia, até porque estas eram matérias que inicialmente não
estavam na agenda do Conselho Europeu e que passaram, entretanto, a estar, certamente em função do alarme
social que, naturalmente, está a causar a consecutiva subida dos preços da energia e dos combustíveis, subida
essa que naturalmente coloca uma pressão muito significativa sobre as famílias e sobre as empresas e que é,
também ela, indissociável de opções tomadas pela União Europeia e concretizadas pelos governos nacionais.