I SÉRIE — NÚMERO 13
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O Sr. Nelson Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro: Porque não posso deixar passar em branco, vou começar por falar naquilo que o Sr. Primeiro-Ministro já voltou a reiterar sobre o
acordo com o Mercosul.
Apesar de entender aqueles argumentos economicistas do próprio acordo, continuamos a não compreender
como é que um governo que se diz pioneiro na transição energética e no combate às alterações climáticas —
e, de facto, diz querer fazer esse caminho —, depois, não pede a remoção de obstáculos que visam a proteção
do tal desmatamento importado que vemos na Amazónia, onde, como sabemos, para além das questões
ambientais inerentes a esse desmatamento, também têm sido levadas a cabo graves violações dos direitos
humanos, com aquilo que tem sido uma verdadeira chacina de vários chefes indígenas da Amazónia.
Isto é algo que não conseguimos compreender, ou seja, a posição do Governo português nesta matéria, que
pede, efetivamente, a remoção de obstáculos quando existem vários Estados-Membros que, na Europa, pedem
uma maior fiscalização e uma salvaguarda contra estes delitos cometidos pelo Estado brasileiro.
Voltando aqui a falar dos preços da energia, sabemos que a médio e longo prazo temos de apostar nas
energias renováveis e na autonomia energética, de forma a garantirmos que os preços da energia sejam mais
acessíveis e conseguirmos combater a tal pobreza energética. Mas, a curto prazo, também temos um problema
em mãos, que, para além de nacional, é comum a toda a União Europeia.
A Comissão Europeia já instou os Estados-Membros a adotarem medidas concretas que garantam que os
mais vulneráveis poderão continuar a ter acesso à energia e ao aquecimento, nesta fase em que o inverno se
aproxima. Por outro lado, tendo em conta que a principal origem da subida dos preços se prende com a pressão
da procura de gás natural, existem já movimentos a defender a inclusão da energia nuclear como energia verde.
Sr. Primeiro-Ministro, a energia nuclear não é verde, antes constitui umas das fontes de energia mais
destruidoras do nosso planeta. Pergunto-lhe: qual é a posição de Portugal? Vamos aceitar que a energia nuclear
seja classificada como energia verde?
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do PEV.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro: Os preços da energia e a política comercial são temas que vão estar em debate no próximo
Conselho Europeu.
Começando pela energia, quero sublinhar que, sendo a energia um sector estratégico, não pode, a nosso
ver, continuar nas mãos dos privados, até porque aquilo que se está a passar é que os consumidores andam a
alimentar os lucros escandalosos das grandes empresas, enquanto a pobreza energética é uma realidade para
muitas famílias, devido à falta de recursos, mas também aos custos crescentes da energia.
Ora, para nós, é absolutamente imoral que estas empresas continuem protegidas tanto pelo Estado como
pela União Europeia, mesmo quando promovem situações de grande injustiça e de insensibilidade social. Aliás,
o resultado das políticas de liberalização e privatização de alguns setores estão bem à vista: destruição de
empresas estratégicas, retirada da capacidade de intervenção do Estado na defesa do interesse público e
também grandes prejuízos para os consumidores.
Portanto, não basta que os dirigentes da União Europeia analisem o aumento dos preços e as medidas para
fazer face às consequências, é preciso ir mais longe e baixar o custo da energia, porque se impõe uma transição
energética acessível, justa e sustentável, em que o sector energético seja um fator de justiça e bem-estar, ao
serviço das populações.
Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, perguntamos: até onde está o Governo disposto a ir para enfrentar a
especulação e para acabar com a pobreza energética?
Relativamente à política comercial, Os Verdes reafirmam a defesa de um comércio internacional justo,
democrático, que respeite os direitos sociais, a proteção ambiental e o bem-estar animal. No fundo, a defesa de
tudo o que é ameaçado com os acordos comerciais, que visam, sobretudo e principalmente ou quase
exclusivamente, proteger os interesses privados.
Por isso, questionamos em que acordos atualmente em negociação se prevê incluir o tribunal multilateral de
investimento?