I SÉRIE — NÚMERO 14
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A Sr.ª Helga Correia (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutimos hoje o projeto de resolução do Partido Social Democrata de reforço da rede social para a primeira infância, ao qual se juntam
um projeto de resolução e três projetos de lei sobre a mesma matéria.
Sr. Presidente, o nosso projeto de resolução hoje em discussão é o culminar de um trabalho desenvolvido
pelos Deputados do Partido Social Democrata no terreno, nos vários concelhos e distritos do País, no âmbito
de uma iniciativa do Dia da Criança.
Queria dar nota de que ouvimos uma grande parte dos intervenientes ligados à primeira infância, desde as
instituições particulares de solidariedade social (IPSS) às comissões de proteção de jovens e, neste projeto
hoje em discussão, alguns pontos espelham as suas preocupações.
Sr. Presidente, a queda de natalidade é um fenómeno transversal a toda a Europa e que pode colocar em
risco a renovação de gerações. Cabe aos Estados desenvolverem uma política pública integrada de infância,
que permita um reforço do acesso aos serviços e equipamentos sociais de forma a alavancar a renovação
geracional, fundamental para a prosperidade económica futura.
Ademais, as estatísticas disponíveis demonstram que estamos a envelhecer a um ritmo cada vez mais
acentuado.
Na última década, Portugal apresenta um decréscimo populacional de 2% — dados já dos censos
preliminares. Não é de somenos que somos o quarto País mais envelhecido da Europa, que temos a quinta
taxa de natalidade mais baixa da Europa, sendo o número médio de filhos por mulher em Portugal de 1,4,
valor abaixo do mínimo, que é 2,1, o número considerado para a efetiva renovação de gerações dos países
mais desenvolvidos.
Sr.as e Srs. Deputados, a cobertura média das respostas sociais para a primeira infância fixou-se, segundo
os dados da última Carta Social, de 2019 — já disponível —, nos 48,4%, uma taxa que consideramos muito
baixa face à necessidade das famílias.
Se queremos aumentar o crescimento da natalidade ou a fixação de jovens em idade fértil no nosso País
temos de garantir condições, equipamentos a preços comportáveis, com horários adaptados aos dias de hoje,
que permitam uma maior e melhor conciliação da vida profissional e familiar.
Assim, propomos o aumento da cobertura da rede social das creches para 60%, ou seja, o aumento da
capacidade em cerca de 28 000, com especial incidência nas áreas identificadas na Carta Social como as
mais deficitárias, que são os casos de Lisboa, Porto e Setúbal.
Para tal, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o Governo deve recorrer aos instrumentos de
financiamento comunitário de que dispõe, nomeadamente o Plano de Recuperação e Resiliência e o próximo
Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027.
Deve também assegurar os meios financeiros necessários à resposta «creche familiar» de forma a
potenciar o alargamento da rede existente, a sua qualidade infraestrutural e humana, e a garantir o
acolhimento e o acompanhamento adequado às crianças no espaço e no tempo, e assegurar também os
meios financeiros e humanos necessários e adequados ao regular funcionamento das creches municipais.
É também fundamental a criação de apoios às empresas que criem uma entidade que invista na abertura
de creche ou jardim de infância que funcione junto de uma zona empresarial e assuma o estatuto de IPSS,
uma proposta que o PSD tem apresentado recorrentemente e que, recorrentemente, o Parlamento tem
rejeitado.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, importa que o Governo promova a calendarização e a respetiva
divulgação pública das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência para reconversão ou alargamento do
número de equipamentos para a primeira infância e correspondentes vagas e que assegure, até 2025, a
gratuitidade de frequência das creches até ao 5.º escalão.
Para concluir, queria dizer que a transparência é um pilar fundamental na confiança dos cidadãos com o
Estado. Assim, importa que o Governo garanta a monitorização, acompanhamento e divulgação da evolução
do investimento e do crescimento dos equipamentos e respetivas vagas.
As políticas públicas para a infância devem dar resposta às necessidades sociais, económicas e
educacionais dos cidadãos e das famílias, bem como criar a confiança necessária que as leve a optar por uma
solução de terem mais filhos no nosso País.
O Orçamento do Estado para 2022, entregue no Parlamento e agora em análise, não responde às reais
necessidades das famílias, não é um Orçamento familiarmente responsável.