I SÉRIE — NÚMERO 18
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Deputada muito bem referiu, porque as entidades que investigam são, muitas vezes, confrontadas com a falta
de meios, sobretudo num tempo em que constatamos uma grande sofisticação dos instrumentos utilizados
para a prática dos crimes de corrupção.
Quanto ao plano legislativo, Os Verdes apresentaram já várias propostas para esse combate,
nomeadamente a criação do crime de enriquecimento injustificado e ocultação de riqueza e o fim dos vistos
gold, um mecanismo que veio mostrar ser um falhanço na criação de emprego e que tem estado também
associado a práticas ilícitas, como a corrupção, o peculato, o branqueamento de capitais, o tráfico de
influências, entre muitas outras. Mais: Os Verdes também apresentaram uma proposta para se caminhar no
sentido de acabar com os paraísos fiscais, que apenas servem para os grandes grupos económicos e as
grandes fortunas criarem mecanismos altamente elaborados para fugirem aos impostos ou, então, para
procederem ao branqueamento de capitais e esconderem outros crimes associados à corrupção.
Recordem-se, aliás, os processos escandalosos do BCP (Banco Comercial Português), do BPP (Banco
Privado Português) ou do BPN (Banco Português de Negócios), que indiciaram práticas relacionadas com
empresas sediadas exatamente em paraísos fiscais e cuja fatura acabou por ser paga pelos contribuintes
portugueses.
Por outro lado, do ponto de vista fiscal, acabam por ser milhões e milhões de euros que os Estados deixam
de receber e que tanta falta fariam aos serviços públicos e para melhorar os padrões ambientais das pessoas.
O que perguntamos, Sr.ª Deputada Mónica Quintela, é se o PSD considera possível e eficaz uma
estratégia de combate à corrupção que deixe de fora o esforço para acabar com estas manobras que os
paraísos fiscais representam e que apenas servem para alguns não pagarem impostos e para dificultar ou até
impedir a investigação de crimes associados à corrupção. No fundo, o que lhe perguntamos é o seguinte:
considera, ou não, que acabar com os paraísos fiscais seria também uma forma indireta de fortalecer a
investigação criminal?
Aplausos do PEV.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mónica Quintela.
A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — Sr. Presidente, agradeço os pedidos de esclarecimento dos Srs. Deputados Nelson Silva, do PAN, e José Luís Ferreira, do PEV.
Começo por responder à última questão do Sr. Deputado José Luís Ferreira, quando pergunta se estamos
disponíveis e o que é que achamos. É evidente que é eficaz, para o combate à corrupção, acabar com os
paraísos fiscais, mas nós não somos utópicos e, como os paraísos fiscais estão espalhados pelo mundo
inteiro, em todo o lado, não podemos correr o risco de ter uma atitude cega, com claro prejuízo relativamente
ao nosso País. Repito: eles estão espalhados pelo mundo inteiro — nas Caimão, nas Ilhas Virgens, na
Europa.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — Isto é para não termos situações como a da Jerónimo Martins, do Pingo Doce, que pôs a sua sede na Holanda.
Portanto, utopicamente, é como toda a ideologia de esquerda: é muito bonita, mas, depois, esbarra na
prática. Tem de haver, e nisto concordamos, uma ação concertada…
Protestos do Deputado do PEV José Luís Ferreira.
… de todos os Estados por forma a que tudo isso seja possível e possa acontecer, e louvamos as
iniciativas que têm tido.
Sr. Deputado Nelson Silva, confesso que, quando o ouvi falar, me lembrei deste velho adágio que a minha
avó costumava dizer: «Presunção e água-benta cada um toma a que quer».
O Sr. Adão Silva (PSD): — Exatamente!