30 DE SETEMBRO DE 2023
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A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — É o que já está hoje no SNS!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Mas, depois, quem quiser aceder a determinados cuidados de saúde, paga mais. É completamente uma lógica de mercado: quer um bocadinho mais da sua subscrição, então, paga um pouco
mais.
O Sr. Bernardo Blanco (IL): — Há dentistas no SNS?
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Isto, aplicado à saúde, é absolutamente pernicioso, não faz sentido absolutamente nenhum, a não ser, lá está, o de a Iniciativa Liberal ser aqui a voz do dono, o lóbi da
hospitalização privada.
Protestos de Deputados da IL.
Mas, mais: este projeto continua a ser absolutamente inútil, porque a privatização que, na verdade, apregoam
— porque é o que vai dar, é o resultado daquilo que é proposto! — já está, aos poucos, a ser levada a cabo pela
política que está a ser seguida pelo Governo e, portanto, continuamos a não ver utilidade nenhuma nisto.
Mas, há mais: a Iniciativa Liberal acha que o Estado deve ser um prestador supletivo e, preferencialmente,
nem deve ser um prestador, o seu papel deve ser o de financiador nesta matéria. Ao contrário do que dizem,
isto não é um modelo inovador nem é um modelo que seja uma novidade, isto é um modelo que existiu nos anos
40 no nosso País. Portanto, não há novidade nenhuma, o que aí há é um recuo bastante grande.
Quando vamos à página 5, vemos que o que a Iniciativa Liberal quer — como qualquer bom liberal, diga-se
de passagem! — é que os privados sejam financiados com dinheiro público, ou seja, todo o financiamento deste
projeto de lei é Orçamento do Estado.
Na verdade, aquilo que já todos percebemos é que, para a Iniciativa Liberal, só há Estado a mais quando é
preciso assegurar determinados serviços públicos e determinados direitos. Quando é para financiar o setor
privado, aí, a Iniciativa Liberal vem sempre pedir mais financiamento e mais impostos. É a incongruência da
Iniciativa Liberal, mas que já foi e tem sido bastante desmascarada.
Mas há mais curiosidades, Sr. Deputado: a Iniciativa Liberal diz que os privados é que vão resolver os
problemas todos e, portanto, quer construir subsistemas constituídos por operadores privados convencionados,
mas há determinadas áreas que, afinal, devem ser da gestão pública. E vamos à página 16 do projeto de lei,
porque, veja-se, a saúde pública e a emergência médica ficam na área do Estado, tudo o resto pode ir para os
privados. E porquê?
A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — É óbvio!
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Porque não funciona!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Poderiam explicar porque é que não ficam, porque é fácil de perceber: a primeira, a saúde pública, não proporciona negócio, obviamente, e a segunda, naturalmente, não terá de dar lucro.
Portanto, é a lógica de que aquilo que para o mercado der prejuízo e não der lucro fica com o Estado, não
queremos e, depois, logo se vê quem é que fornece estes serviços. Tudo o que dá lucro vai para o privado em
subsistemas, subsistemas esses, já agora, que são financiados pelo Orçamento do Estado — é sempre o
Orçamento do Estado a pagar.
A Iniciativa Liberal é muito liberal, muito liberal, mas quando toca a hora de pagar, vai sempre ao mesmo.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É fatal!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Na quarta-feira — e vou terminar, Sr.ª Presidente —, disse que não tinha uma única referência a parcerias público-privadas. Também não é verdade, Sr. Deputado. Na página 35,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ele não leu! Não leu!