I SÉRIE — NÚMERO 33
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Mas é uma obrigação de transparência que se exige que um membro do Governo faça espontaneamente,
porque é insuportável a suspeita. É evidente que o Governo sabe disso, e como sabe tudo isso, é evidente que
tenta, intencionalmente, atirar areia para os olhos das pessoas. Hoje deu mais um passo, ao vir anunciar que, à
última das últimas horas, quer regular o lobbying, coisa que não fez com uma maioria absoluta de cerca de dois
anos. Uma postura política lamentável e censurável, que em nada contribui para a dignificação da classe política,
que alimenta populismos e que torna imprescindível que se avance para a regulação do lobbying no início da
próxima Legislatura, como forma de acabar com este ambiente de opacidade que sufoca e põe em perigo a
própria democracia.
Não sendo a regulamentação do lobbying o alfa e o ómega que vai resolver todos os problemas,
designadamente os problemas relacionados com a corrupção, trata-se ainda assim de um passo muito
importante num aspeto fundamental da atividade política, que é a transparência, desde logo delimitando-se o
que é lobbying.
Por outro lado, regulamenta-se a representação legítima. Claro que não estamos a falar de representação
ilegítima — essa escapa a este controlo, cabe no domínio do combate à corrupção e tem, obviamente, de ser
combatida, mas não em sede de lobby. Aqui, estamos a falar das entidades que legitimamente representam
interesses em função da sua natureza, em função da sua atividade, e que ficam, desde logo, sujeitas à
integração num registo de transparência que permite saber quem são os seus membros, os seus sócios, e quais
são os seus clientes. Portanto, sabe-se quem é que representam, permitindo saber qual é a sua atividade.
Como é evidente, a partir deste registo, a partir do momento em que sabemos quem são essas entidades e
com quem é que os poderes políticos se reúnem, podemos também saber com quem é que falam e do que
falam. Só assim podemos combater a suspeita, que não raras vezes é lançada, de que se legisla para satisfazer
certos interesses. Isso tem de acabar. Num processo legislativo, por exemplo, sabemos quais as entidades que
representam um interesse ou são lobistas, com quem é que falaram, sobre o que é que falaram, quando é que
falaram, o que dá, obviamente, transparência ao processo legislativo.
O PSD estará onde sempre esteve: na linha da frente na luta contra a corrupção, na exigência de
transparência na vida pública e na necessidade de termos menos burocracia,…
Protestos do PS.
… porque a burocracia é efetivamente o terreno predileto para haver fenómenos desviantes e fenómenos de
corrupção.
Vamos travar essa luta com propostas para ter uma regulamentação de lobbying em Portugal. O PSD não
será cúmplice desta ideia de uma certa impunidade para dirigentes políticos, como se as leis não lhes fossem
aplicadas, fruto dos casos e casinhos, gerados por este Governo, com que nos vemos frequentemente
confrontados.
O PSD estará na linha da frente…
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Na linha da frente das passwords!
A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — … no combate a esta opacidade, que vai minando as nossas instituições
e democracia, pugnando pela ética e transparência na vida política. Só assim podemos voltar a unir Portugal.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — A Sr.ª Deputada tem dois pedidos de esclarecimento, aos quais irá
responder em conjunto, como informou a Mesa.
Para o efeito, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Nunes, do Grupo Parlamentar do Chega.
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Emília Cerqueira, estava a ouvir com atenção e,
quando disse que o PSD nunca será populista, tentei interpretar o que estava a tentar fazer.
O Sr. Joaquim Miranda Sarmento (PSD): — E conseguiu?