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18 DE OUTUBRO DE 1978

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-guarda, fizeram, sozinhos, em enos de dois meses, quase o triplo das importações que estavam destinadas a todo o sector para o ano inteiro...

Entretanto, aos outros industriais passaram a ser sistematicamente negados os boletins de importação.

Mas, sobre este caso, quem poderá dar boas informações são as Dr.as Rita Balbina Colher e Alda de Carvalho, chefes de serviço, e Dr. Boavida, chefe de licenciamento e registo prévio do Ministério do Comércio Externo, e, sobretudo, o Dr. António Celeste, do Partido Socialista e Secretário de Estado nessa data ...

Acrescente-se ainda que, por várias vezes, as quantias, em dólares, constantes nos boletins de importação tiveram um valor superior ao custo real do produto, possibilitando assim a compra de muitas mais toneladas de café do que as autorizadas ou, se se quiser igualmente aventar esta hipótese, possibilitando uma fuga de divisas ...

Possuidores da quase totalidade do produto, em Portugal, toda a comercialização do café passou a ser feita segundo as exigências e condições de preço impostas pelos amigos do anjo-da-guarda ...

(De O Comércio do Porto, de 24 de Setembro de 1978.)

DOCUMENTO N.° 2

António Macedo, o venerando presidente do PS que tanta polémica tem suscitado, centralizou mais uma vez as atenções gerais. No sábado, ao lado de Rego, Curto e Laje, foi «vedeta» num comício socialista em S. Mamede de Infesta, ao qual acorreram algumas dezenas de pessoas: invocou «manobras e campanhas» orquestradas contra o seu partido como causador do desgaste da imagem do PS, por elas responsabilizando jornais que classifica como reaccionários, alguns partidos e até, «esferas altas do Poder».

Neste contexto incluiu, mesmo, Ramalho Eanes, não se coibindo de dizer que o Presidente acaba de «dar algumas alfinetadas ao PS, sem a coragem de o fazer directamente»...

Paralelamente, um matutino portuense acusava António Macedo de responsável por chorudo negócio de café, cujos custos são suportados pelos Portugueses ...

(Do Tempo, de 28 de Setembro de 1978.)

DOCUMENTO N.° 3

O negócio do café desce ao banco da imprensa com o seu anjo-da-guarda

«Café: negócios amargos.» Já lá vão mais de oito dias desde que O Comércio do Porto começou a escalpelizar o negócio do café, mundo que, pelos vistos, se tem prestado a manobras mais que duvidosas com frequentes insinuações aqui e além na imprensa.

Começou O Comércio do Porto a série «Café: negócios amargos» em 22 deste mês em reportagens assinadas por Fernando Barradas e sobre as quais, que nós saibamos, caiu o maior dos silêncios, mesmo nos

meios de comunicação social, excepção feita à Rádio

Renascença, embora o tema se centre no mundo da

corrupção, cancro primeiro das democracias. Cancro ainda maior se a corrupção conseguir os favores de personalidades com cartão de antifascistas. Pior ainda e melhor para os negócios se esse cartão vier do antigo regime em virtude de actos públicos que atraíram as atenções gerais de modo a constituírem espécie de carimbo. (Está tudo em Jacinto Benavente, o grande comediógrafo espanhol dos princípios do século, morto nos alvores do franquismo, na sua peça Os Interesses Criados.) Carimbo que actuará com tanta mais eficiência quanto maior for o posto no aparelho de Estado do seu detentor.

Quando se consegue interessar um tal cidadão, ele próprio será levado pela dinâmica do negócio que urge proteger e pelo escândalo que provocaria a sua revelação a interessar outros e outros. O negociante hábil sabe disto e sabe que o medo do escândalo guarda a vinha e o vinhateiro e pode levar mesmo a produzir legislação que legitime, face ao direito positivo vigente, actuação nada consentânea com a convivência civil em que devem assentar as relações sociais. É este o tema da comédia de Jacinto Benavente que recordámos, ao ler as reportagens de O Comércio do Porto, que nelas se pode enquadrar se tudo corresponder à verdade. E porque o tema é dos mais importantes que a imprensa portuguesa tratou ou aflorou nestes últimos dias, não quis o Expresso deixar de o pôr em relevo, ao mesmo tempo que chama a atenção dos seus leitores para a obra do célebre comediógrafo espanhol e a atenção das companhias de teatro.

O Comércio do Porto não foi, porém, ao fundo da questão.

Ao seu repórter, segundo ele próprio confessa, foram oferecidas «notas de conto» (não diz quantas) para abandonar o inquérito. Entretanto, sabemos que o jornal portuense tenciona ir mais além, depois de um período de pausa, e que um tímido inquérito está a caminho. Não ao jornal, mas ao negócio do café.

Apresentamos a seguir uma parte do texto publicado no passado domingo, respeitando, inclusive, os subtítulos.

Um negócio de milhões de contos

«No dia 28 de Agosto de 1977, acompanhado por dois industriais ligados ao café que inclusivamente lhe pagaram o bilhete de ida e volta de avião, chegou a Luanda um importante elemento do Partido Socialista.

Conforme na altura afirmou numa entrevista à Radiodifusão Portuguesa um seu correligionário político que, na altura, se encontrava igualmente em Angola, o velho democrata e lutador antifascista deslocou-se àquele país por razões de natureza particular.

De facto a veneranda figura do Partido Socialista foi a Angola servir de intermediário entre os milionários do café e Agostinho Neto, num negócio de milhões de contos. Sublinhe-se: milhões de contos.

Refira-se, como informação, para que cada um pense o que quiser, que entre a ilustre personagem socialista e os homens do café só foram estabelecidos contactos para este negócio. Ou seja, nenhum laço de amizade, conhecimento comercial ou até mesmo afinidades políticas existiam entre um e outros.

Como diria o poeta, foi verem-se e amarem-se ...

Para o «namoro» entre o político e os industriais serviu de «correio» um comerciante estabelecido com uma loja de miudezas na Rua de Fernandes Tomás.