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28 DE MARÇO DE 1979

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Da carta solar do Atlas do Ambiente verifica-se que Portugal dispõe de uma insolação média anual que varia entre 2200 horas (algumas regiões do Norte) e 3100 horas (Alentejo e Algarve), conforme valores médios de 1931 a 1960. Por outro lado, a quantidade anual de radiação solar disponível no solo varia entre 140 kcal/cm2 e 165 kcal/cm2 (-valores médios de 1938 a 1970).

O potencial bruto da radiação solar em toda a superfície do território português é, pois, da ordem dos 13 000 milhões de tep em ano médio, isto é, cerca de mil e seiscentas vezes superior às nossas actuais necessidades em energia primária. Para obter o potencial utilizável haveria que considerar os rendimentos da transformação das diversas aplicações e as superfícies do solo que poderiam ser reservadas para captação (1). Porque, se o aquecimento de água sanitária implica apenas a instalação de colectores nas coberturas dos edifícios, outras aplicações de maior potência (2) obrigam a «queimar» largas áreas de solo. Haveria ainda que avaliar o efeito da irregularidade, diurna, sazonal e interanual, a energia garantida em ano crítico e as formas e sistemas de apoio de outras fontes energéticas,, para atingir graus de garantia aceitáveis.

As aplicações potenciais da energia solar podem resumir-se da forma seguinte:

a) Produção de energia térmica:

1) Para aquecimento a baixas tempera-

turas e arrefecimento;

2) Para produção de calor de processa-

mento, na indústria e agricultura;

b) Conversão termodinâmica em energia mecâ-

nica (podendo ou não seguir-se a conversão em electricidade):

1) A partir da radiação directa;

2) A partir da diferença de temperatura

com a profundidade, nos oceanos;

c) Conversão directa em energia eléctrica, por

meio de pilhas fotovoltaicas.

Todas estas aplicações são objecto de intensa investigação. De todas só são, por ora, economicamente competitivas as referenciadas em a), nomeadamente o aquecimento de água sanitária a partir de colectores solares planos.

Considerando, com fins meramente elucidativos, apenas esta aplicação (que se reputa apta a ser comercializada, no decurso do Plano) segundo o estudo do Grupo de Trabalho para o Aproveitamento da Energia Solar (GTAES) elaborado no âmbito da Direcção-Geral dos Combustíveis, é possível obter uma produção anual considerável.

Utilizando painéis do tipo ensaiado pelo GTAES, obtém-se, no mínimo, o equivalente a 2700 kWh/ano, isto é, 0,23 tep por painel. Se forem montadas 300 000 instalações do tipo considerado, produz-se energia correspondente a 69 000 tep (71 500 t de fuelóleo, ou seja,

(1) Considerando um rendimento de 38,7%, dos painéis projectados cm Portugal, seriam necessários cerca de 140 km' para a emissão do calor igual à actual produção de energia primária.

O Por exemplo, centrais solar-eléctricas de torre (STEC), de que estão em projecto os primeiros empreendimentos-piloto.

138 000 t de petróleo bruto a tratar). Tendo em atenção que para aquecer os mesmos caudais de água a partir de electricidade de origem térmica seria necessário queimar 186 300 t de fuelóleo (ou seja, cerca de 500 000 t de petróleo bruto a tratar), podemos avaliar do interesse do aproveitamento desta fonte de energia.

b) Energia eólica:

A energia mecânica produzida pelo vento é derivada da energia solar. A intensidade de conversão desta naquela foi calculada como sendo de 4000 kW/km2, em média no conjunto da superfície terrena. A densidade de potência, por unidade de área, é proporcional ao cubo da velocidade do vento. É, portanto, fortemente variável de tocai para local e ao longo do tempo.

Em Portugal desde há muito que se utilizava esta forma de energia em pequena escala, para diversas finalidades, entre as quais se salientam, além da navegação, a extracção de água dos poços, a moagem de cereais e, mais tarde, a produção de electricidade.

Porém, estas aplicações foram sendo substituídas por outras fontes conjunturalmente mais económicas.

No que toca à produção de electricidade, a sua substituição resultou fundamentalmente da política de desenvolvimento da rede eléctrica nacional.

Segundo documentos apresentados no Encontro Nacional de Política Energética (1975), existiram talvez mais de uma centena de milhares de aerodínamos com uma potência conjunta de 50 MW (aproximadamente a potência instalada na central de turbinas a gás de Alto do Mira ou na de Tunes).

Da experiência havida neste campo pode avaliar-se das possibilidades de voltar a desenvolver o aproveitamento da energia eólica. Tal conclusão é reforçada pela observação da carta do Atlas do Ambiente relativa a frequência do rumo e da velocidade do vento. Verifica-se que, em geral, no continente, os períodos de calmia são pouco relevantes e que há grandes superfícies onde o vento tem velocidades significativas.

A avaliação do potencial energético eólico obriga a estudos pormenorizados de sítios, em termos instantâneos e não só em média, os quais não estão feitos de forma sistemática. Por isso os números a seguir expostos têm mero valor simbólico.

Considerando uma velocidade média anual de 25 km/h durante 60 % do ano (valores perfeitamente aceitáveis em face dos elementos indicados na citada carta) e um rendimento de conversão de 40 % (pode atingir 45 % em unidades sofisticadas), a potência instalada de 50 MW forneceria aproximadamente 100GWh/ano — o que dá uma utilização anual de 2000 h.

Posto que a gama de potências até 6 kW se encontra largamente experimentada e comercializada no estrangeiro, considerando possível instalar aerodínamos de potência variável em número tal que, a médio prazo, se consiga atingir os 500 MW, bastariam para isso 200 000 instalações de potência média de 2,5 kW.

Assim, para as condições anteriormente enunciadas produzir-se-iam aproximadamente 1000 GWh/ano 0), o que se traduziria .numa poupança de 230 000 t de fuelóleo se a mesma quantidade de energia eléctrica fosse produzida pela via térmica convencional.

(1) Cerca de 8 % do consumo anual de electricidade.