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II SÉRIE — NÚMERO 45

Quantidade esta que, a ser produzida nas nossas refinarias, implicaria o tratamento de mais de 500 000 t de petróleo bruto.

c) Energia geotérmica:

Por recursos geotérmicos entende-se o calor armazenado no subsolo terrestre. A sua utilização pode fazer-se sob diversas formas, esquematizadas a seguir:

a) Aproveitamento de fluidos naturais com altas

temperaturas (de momento acima de 130°C, de futuro talvez 90°C a 100°C) permitindo a produção de energia mecânica e eléctrica;

b) Aproveitamento de fluidos naturais com baixas

entalpias — temperaturas entre as indicadas em a) e a temperatura média ambiente —, utilizáveis para outras aplicações, com aquecimento de águas e locais;

c) Aproveitamento do calor das rochas quentes,

mediante circulação de um fluido injectado, podendo subdividir-se como em a) e b).

Não foram ainda avaliadas as reservas geotérmicas de Portugal e não é fácil fazer uma estimativa com as informações disponíveis.

O único projecto de aproveitamento existente é a instalação, na ilha de S. Miguel (Ponta Delgada), de uma primeira central-piloto, com potência de 3 MW, a que se seguirá outra, industrial, de 10 MW. Se as reservas de calor se revelarem suficientes, aquela i'1'ha terá o seu problema energético solucionado em prazo não muito longo —conjugando centrais geotérmicas de base com centrais hidroeléctricas reversíveis, de ponta— e idênticos aproveitamentos se poderão iniciar nas outras ilhas, nomeadamente a Terceira.

No que respeita ao continente, impõe-se o início do estudo sistemático dos recursos geotérmicos, pois que, pelo menos no campo das baixas temperaturas, os dados existentes apontam para uma provável existência de potencialidades interessantes.

d) Energia oriunda da fermentação de matéria orgânica:

Apenas se considera a produção de biogás obtido pela fermentação anaeróbia de dejectos animais, por ser o processo cuja experimentação é comprovada, já largamente difundida em países pobres de recursos energéticos e com realização entre nós.

A composição do gás produzido é de 55 % a 65 % de metano, cerca de 35 % de dióxido de carbono e uma pequena percentagem de azoto. O poder calorífico varia entre 5000 kcal/m3 a 6000 kcal/m3.

Dado que, no nosso país, são os bovinos e suínos que em maior número se encontram em estabulação, tentou-se, através de estatísticas oficiais, estimar o seu número em explorações agro-pecuárias com dimensão superior a cinco cabeças. Considera-se que os animais nestas condições serão potenciais produtores de matéria orgânica para o fim em estudo, sendo aquele o limite inferior sistematicamente encontrado na literatura para a dimensão da instalação produtora de gás.

Existem grandes dificuldades na obtenção de dados estatísticos actualizados no que se refere ao número de cabeças e sua distribuição. Tendo em conta os elementos do Arrolamento Geral do Gado (INE, 1972) e partindo da hipótese de que nas explorações agrícolas

com mais de cinco animais a estabulação se pode considerar permanente, estimou-se haver 590000 bovinos (59 %) e 1 100 000 suínos (62 %) satisfazendo aquela condição.

Tomando os dados bibliográficos correntes, no que se refere às produções de gás por tonelada de dejectos e as quantidades unitárias da sua obtenção (1), pode contar-se com a produção de biogás da ordem de 0,6 m3/dia por vaca e metade deste caudal por porco. Note-se que estes valores se referem a produções médias, uma vez que tem grande influência nos processos a temperatura ambiente.

Tendo em conta os efectivos pecuários atrás estimados, ter-se-ia uma produção potencial diária de 680 000 m3 de biogás, cujo equivalente calorífico é de cerca de 150 000 tep/ano.

É de salientar que os processos descontínuos, utilizando como complemento de matéria-prima matéria vegetal celulósica (palhas), fazem subir o valor encontrado até sete vezes, sendo comum o valor médio de três a quatro vezes. Ter-se-ia, nestas condições, o equivalente a 500 000 tep/ano.

Convém notar, por outro lado, que o resíduo após fermentação é excelente adubo. Sabendo que os dejectos frescos da vaca contêm azoto na proporção de 1,5 % para a vaca e 3,8 % para o porco, na hipótese perspectivada haveria cerca de 50 000 l. de azoto no resíduo após fermentação — que também conteria quantidades de fósforo consideráveis.

Atendendo a que, em 1976, a produção de adubos elementares azotadas foi de cerca de 750000 t, contendo 118 000 t de azoto, o valor potencial estimado no processo de fermentação dos estrumes equivale a cerca de 40 °to da referida produção industrial nacional daqueles adubos. Intervindo nesta produção gasolina pesada como matéria-prima, poderia resultar uma economia anual de 113 000 t, a que corresponde cerca de 1 milhão de toneladas de petróleo bruto.

e) Energia das vagas e das marés:

As vagas são causadas pelo vento e, portanto, indirectamente, pela energia solar. O seu movimento ondulatório é fonte de energia mecânica, cuja densidade à superfície é directamente proporcional ao quadrado da amplitude e inversamente ao período de oscilação. Em condições médias de ondulação, a densidade de energia bruta é da ordem de 3 kW/m2, isto é, umas dezenas de vezes superior à da energia solar ou eólica.

Considerando, com intuito ilustrativo, um único conceito de aproveitamento, pode provar-se teoricamente que uma fila de bóias espaçadas, por exemplo, de 100 m pode absorver energia da ordem de grandeza dos 100 GWh por ano e quilómetro de comprimento 0). Se considerarmos o perímetro da costa continental portuguesa, o potencial energético bruto seria da ordem dos 80 000 GWh por ano médio (cerca de 7 milhões de tep).

Mesmo descontando o rendimento da conversão e atendendo à irregularidade, vê-se que o potencial energético das vagas seria susceptível de dar um

(1) A vaca produz cerca de 10 kg/dia de dejectos e estes 60m3/t de biogás e o porco 1,25 kg/dia a 240 m5/t, respectivamente.

(2) Cf. Conferência Mundial de Energia, relatório n." 4.5.2, Istambul, 1977.