22 DE NOVEMBRO DE 1980
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Estado e o Presidente em efectividade de funções. Foi o que observaram, por outras palavras, numa reunião da Aliança Democrática relatada por alguns jornais, os deputados Narana Coissoró, criticando Ramalho Eanes de se servir para a promoção da sua candidatura do cargo que ocupa no aparelho de Estado, e Ângelo Correia, chamando-lhe candidato travesti. A acusação, habitual nas hostes da Aliança Democrática, foi da mesma forma explanada em A Tarde pelo jornalista Pinto Soares, em reportagem da visita do presidente-candidato à capital do Norte, onde o general Ramalho Eanes de acto para acto mudava de qualidade.
Aliás, semelhantes acusações a órgãos de comunicação social, visando com especial incidência a Radiodifusão e a televisão, têm partido de outros candidatos, cada qual sentindo-se preterido em benefício de adversários. Trata-se, é bom recordá-lo, de uma tónica de todas as campanhas eleitorais e que, por isso, não encontra grande impacte na opinião pública.
Um candidato à Presidência, Carlos Brito, foi ao Porto, e O Diário concedeu, naturalmente, maior desenvolvimento às suas declarações que os outros jornais.
O órgão comunista citou que o candidato provisório, provisório porque Carlos Brito e o Partido Comunista Português não ocultam que a candidatura destina-se unicamente a veicular propaganda anti-AD e Soares Carneiro antes da desistência a favor do general Ramalho Eanes... Mas, para O Diário, dizíamos, «o que irrita a reacção», e reproduzimos o matutino comunista, «é que o PCP tenha salientado a importância determinante das eleições presidenciais para o futuro da democracia e apontado a derrota de Soares Carneiro como tarefa central, decisiva e prioritária das forças democráticas».
Opinião diametralmente oposta foi a tal respeito a do Portugal Hoje. O matutino conotado com o Partido Socialista, em artigo assinado pelo seu director, João Gomes, proclamou (citamos): «O que mais revolta nas críticas comunistas é, porventura, a tecla do serviço da reacção, da alegria da reacção, da colagem da reacção. «Os democratas deste País», acrescentava o articulista, «habituaram-se justamente à ideia de que o Partido Comunista não tem autoridade para se arvorar em aferidor de uma linha.» (Fim de citação.) Observando que o PCP não pode ser, de nenhum modo, o «partido-juiz da esquerda», dava conta de longa lista de atitudes antidemocráticas do Partido Comunista, nomeadamente o assalto, manipulação e domínio da comunicação social em 1975, para finalizar (citamos) que, «a prosseguir na corrida em que se lançou, o PCP vai, seguramente, prejudicar Ramalho Eanes». Afirmava ainda, a terminar, que esta opinião é já a dos dirigentes da campanha eleitoral do actual Presidente da República.
Relacionada iguaLmente com a campanha para a eleição presidencial, pode situar-se a crónica de José Miguel Júdice, insistindo em tema que tratara uma semana antes, na sua costumada «análise política», no semanário O Diabo. «Estamos», escreveu Júdice, «perante um caso que vai exigir que Ramalho Eanes esclareça o País e as forças armadas, agindo contra os referidos militares, se de facto estão a mentir.» Aludia José Miguel Júdice a declarações de três oficiais
— major Monge e capitães Varela e Marques Ramos —, segundo os quais a intentona de 11 de Março de 1975 seria do conhecimento do general Ramalho Eanes, acusação de que se fizeram eco um matutino de Lisboa e dois semanários.
A informação, que assume foros de escândalo, passou despercebida a outros jornais, não merecendo sequer uma linha daqueles onde é hábito empolar atoardas que posteriormente se revelam sem fundamento. O conhecido comentarista político aduzia as palavras que citamos: «A ser verdade o que decorre da carta de Varela, a imagem política e militar de Ramalho Eanes sai ferida com uma gravidade absoluta.» (Fim de citação.) Mas o mistério persiste. Na realidade, nem o Presidente, nem algum dos seus porta-vozes, ou qualquer dos jornais que difundem as suas opiniões, veio a lume com mera hipótese de desmentido. Isto não obstante o desafio lançado ao general Ramalho Eanes pelo capitão Ramos, numa entrevista publicada na última edição de o Tempo. «Ramalho Eanes», afirmou este oficial, cujas declarações citamos, «tem de dizer a verdade às forças armadas e à opinião pública.» (Fim de citação.) Quanto ao silêncio dos oficiais, que, declara, «permitiu poupar Eanes à prisão», comentou (voltamos a citar): «O nosso silêncio era camaradagem, o seu (do Presidente) será ignomínia.» E reafirmou aquele oficial, ouvido pelo Tempo, o que ele e os seus camaradas já haviam dito (citamos): «Eanes estava inteiramente com o 11 de Março.»
A controvérsia sobre o diferendo Eanes-Soares prosseguiu e foi alimentada substancialmente por O Jornal, que, na sua edição de terça-feira, deu a público o texto do acordo, formalizado numa acta, ou memorando, entre o PS e o general. Pelo «furo» jornalístico daquele semanário ficou a saber-se que o documento, subscrito por representantes socialistas e do Presidente da República, previu, nomeadamente, a eventual articulação das campanhas para as legislativas e presidenciais, a participação de elementos destacados do Partido Socialista nas comissões de candidatura do general Eanes, o compromisso dos socialistas de não restringir os poderes do Presidente na revisão constitucional, a recusa do referendo, etc. Há, pois, uma combinação escrita. No entanto, O Jornal
— cada vez mais empenhado na campanha do actual Presidente da República, assinala Torquato da Luz no vespertino A Tarde — prefere classificar por «acta», ou «memorando», o que para o vulgo aparece como acordo e retirar razão às razões de Mário Soares, quando o líder socialista acusa Ramalho Eanes de ter quebrado, na sua falada conferência de imprensa, as regras implícitas no documento.
A «discussão saltou para a praça pública», conforme salientava o Dr. Piteira Santos no Diário de Lisboa. O director-adjunto daquele quotidiano, admitindo a existência do acordo, considerou de menor importância a questão do rompimento ou não do compromisso. Insurgia-se, a propósito, contra Maldonado Gonelha, por motivo da polémica entrevista por este dirigente socialista concedida a O Pais, em que afirmou, inclusive, que (citamos), «se o general Ramalho Eanes fosse eleito e não cumprisse o acordo que tem connosco (PS), ficaríamos numa situação muito pior do que no caso da eleição do general Soares Carneiro» (fim de citação). Opinião não compartilhada, claro, pelo Dr. Piteira