O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

18 DE JUNHO DE 1991

1319

PROJECTO DE LEI N.a 783/V

ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE DA VILA DA AMORA, NO CONCELHO DO SEIXAL

1 — Razões de ordem histórica e cultural

Amora, que fica a oeste do Seixal, apenas separada da sede do concelho pelo rio Judeu, 6 banhada a norte e a leste por dois braços do Tejo: um que termina a noroeste, em Corroios, e o outro a sul, na Torre da Marinha.

Amora, bem como as outras povoações ribeirinhas do concelho do Seixal, devem a sua origem e desenvolvimento à força atractiva dos esteiros do rio Tejo, que garantiram, desde há longa data, uma vida fluvial intensa. Os braços do rio Tejo, que aqui entram pela terra dentro formando vias fluviais, facilitaram a aproximação do conjunto de povoações que constituem o concelho do Seixal. Foi o rio Tejo que uniu, desde há muitos anos, as povoações deste concelho, que apresentam características muito semelhantes, sobretudo nas actividades económicas desenvolvidas na região.

A freguesia da Amora, que data do século xv, pertenceu ao termo de Almada até 1836, ano em que foi criado o concelho do Seixal.

A partir de então ficou a pertencer a este concelho, juntamente com as freguesias do Seixal, Arrentela e Paio Pires. O território da actual freguesia dc Corroios esteve integrado no de Amora até 1976 (a freguesia de Corroios também é muito antiga, pois data do século xv, mas no início do século xrx foi anexada a Amora).

Em 1895, quando o concelho do Seixal foi extinto, Amora voltou, dc novo, a pertencer a Almada até 1898, ano da restauração do concelho do Seixal.

Segundo nos informam documentos dos séculos xvi e xvru, o núcleo populacional mais antigo desta freguesia formou-se em Cheira Ventos, que outrora se designava por Amora Velha. Mas a força atractiva do esteiro levou Amora a estender-se para junto do rio, ficando então constituída por dois núcleos principais: Amora de Baixo, à beira do rio, e Amora de Cima, junto da igreja, para além das quintas de fidalgos, que eram bastantes nesta área.

A riqueza económica desta povoação assentava, desde a Idade Média, na cultura da vinha e na exploração da lenha e de madeira da extensa floresta que se estendia até à Arrábida, fazendo parte da «Coutada» que é descrita, em 1381, por D. Fernando.

Desde muito cedo se edificaram portos cm toda a freguesia de Amora, desde o porto do Carrasco, em Corroios, até ao porto da Raposa, nas proximidades da Torre da Marinha, para garantirem o escoamento da lenha, madeira, vinho c farinha, principais produtos desta área, com destino a Lisboa. No início do século xvru, conforme nos relata o P.e Luís Cardoso no Dicionário Geográfico, eram registados ainda mais os seguintes portos em toda a freguesia de Amora: o da Quinta dos Lobatos, da Quinta da Prata, da Quinta das Fermosas, da Quinta do Minhoto, Cabo da Marinha, Barroca c Talaminho.

A propósito da riqueza das águas do rio Tejo que ficavam na área da Amora, o mesmo autor afirmava que se faziam boas pescarias, desde tainhas, fataças, negrões, robalos, salmonetes, douradas c muitos outros peixes.

Data do século xv (cerca de 1497) a edificação dc um moinho de maré junto do porto da Raposa (já cm 1403 tinha sido consumido em Corroios um moinho deste género

por ordem de Nuno Álvares Pereira). Pois no referido lugar, os carmelitas aforaram, no final do século xv, a João da Rocha, o esteiro com o seu salgado, chãos, abras e terras para que pudesse aí edificar «nuns moinhos com quatro moendas com a obrigação de pagar de foro ao mesmo convento (do Carmo) em cada hum anno por cada huma das moendas doze alqueires dc trigo da terra...».

A construção deste edifício marca o início da industrialização na freguesia dc Amora, embora com características pré-industriais, próprias da actividade moageira incentivada em ioda a área do Seixal desde a Idade Média.

Ainda na mesma época, Braz Annes, morador no lugar da Amora e criado particular da infanta D. Brites, mandou edificar um moinho junto da «Marinha das Vacas», que funcionava com «água doce, que vinha das abertas do Caminho de Cisimbra».

No século xvi, na freguesia de Amora, eram localizadas variadíssimas vinhas, como se pode concluir da leitura de um livro Das Escrituras de Afforamenlos referente a esta área Vejamos o nome dc algumas vinhas referidas nesse livro, porque nos ajudam a compreender a sua extensão: «Valle de Pessegueiro» (pagava de foro 1335 rs.), «Vinha do Pinhal», «Fonte da Prata», «Valle da Loba», «Vale de Crcspim», que vai da igreja para Amora a Velha (Cheiraventos) (pagava dc foro 200 rs.), «Cascalheira», «Caza de Pão»...

O vinho produzido nos campos de Amora era dc excelente qualidade. Pois, quando no início do século xvi Garcia de Resende e Gil Vicente destacavam o vinho do Seixal pela sua qualidade e Gaspar Frutuoso o apontava como o melhor do reino, era ao vinho produzido nas terras do território do concelho do Seixal que se referiam. Este produto agrícola já era exportado no século xvi, como nos sugere Garcia de Resende na sua Miscelania.

Os moradores da Amora eram homens do mar, carreiros, mateiros, moleiros, trabalhadores e lavadeiras, como nos refere o livro das Visitações, no início do século xvra. Por aqui se pode apreciar a grande variedade dc actividades desenvolvidas nesta freguesia desde há longos anos c que, dc um modo geral, eram comuns a todas as freguesias do concelho do Seixal.

Esta freguesia, a partir da segunda metade do século xrx, começa a sentir os efeitos da máquina a vapor. Assim, cm 1862, já existia uma fábrica de moagem e descasque dc arroz. Alguns anos depois, em 1888, é fundada a fábrica da Companhia dc Vidros da Amora, na Quinta dos Lobatos, à beira do rio Judeu, onde se construiu um cais para o embarque dos produtos fabris e matérias-primas.

Este estabelecimento fabril, especialmente dedicado ao fabrico de garrafas e garrafões, foi o primeiro do género a ser consumido no País. Em 1900 já fabricavam 4 941 729 garrafas. Com esta fábrica de grande interesse, não só para a economia local, mas também para a nacional, foi reduzida a importação de garrafas e garrafões que até então se adquiriam na Inglaterra e Alemanha. Nos finais da década de 20 encerrou definitivamente.

Junto da fábrica foi construído um bairro operário, que ainda se pode observar, onde foram instalados os operários garrafeiras que inicialmente vieram dc Inglaterra, mas, devido ao UUimaium inglês, foram repatriados pouco tempo depois. De seguida, foram substituídos por 30 operários especializados oriundos de Hamburgo.

Entre os vários efeitos provocados pela instalação desta fábrica, deve salientar-se o desenvolvimento do movimento associativo na freguesia. Assim, foi fundada pelos operários a Sociedade Filarmónica Operária Amorcnsc e, cm