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II SÉRIE-A - NÚMERO 1
• a necessidade de travar a rápida deterioração das finanças públicas que se generalizou a partir de 1990, estando vários países a aplicar programas de ajustamento orçamental que lhes permitam aproximar-se das metas fixadas para a adesão à União Económica e Monetária (UEM);
• o nível de endividamento das famílias nalguns países, que atenuará o crescimento esperado do consumo privado;
• o aumento das pressões competitivas por parte dos EUA e do Japão no mercado comunitario, num contexto em que a oferta europeia no interior desse mercado tenderá a ser afectada pela redução dos apoios públicos aos produtores ineficientes.
11. Estas perspectivas de crescimento lento, associadas a factores específicos aos países europeus e à sua situação estrutural, conduziram já a uma situação de tensão nos mercados monetários e cambiais e, em especial, no interior do SME.
Com efeito, a disparidade nas situações orçamentais, no nível de endividamento dos agentes privados e nos ciclos conjunturais — particularmente, nos níveis de emprego, e nos ritmos de crescimento do produto e dos preços — determinaram políticas monetárias e fiscais nalguns países que Be revelaram de difícil compatibilização contribuindo para uma crescente instabilidade nos mercados cambiais, manifeBta numa queda Inicial do dólar, na tendência ao fortalecimento do marco e na crise verificada no interior do SME.
A instabilidade cambial vem assim adicionar-se a outros factores que tendem a provocar expectativas menos optimistas e que podem fazer tardar a recuperação da confiança de produtores- e consumidores na melhoria das condlçSes económicas.
12. Este panorama Internacional nfio favorece a adopçio de medidas destinadas a Inserir oa paites da ex-URSS e do Leste Europeu na economia mundial. Não só porque a resistência à abertura dos mercados e à recepção de importantes fluxos de imigração é grande, mas também porque a ajuda económica para reestruturação da Rússia e doutras Repúblicas tem sido diminuta (facto a que as incertezas da sua evolução política não SSO estranhas). Os EUA poderão dispor de meios adicionais para um auxílio a Rússia, mas uma redução nas despesas militares que permitisse libertar parte desses meios passaria por uma maior clarificação das futuras relações entre os EUA e a Rússia. O Japão dispóe de meios para ajuda bilateral, mas a permanência de um contencioso territorial com a Rússia tem dificultado a sua utilização. A Alemanha, para além de estar absorvida pelos custos da sua reunificação, tem no horizonte a necessidade de ajuda a vários países da Europa Central e Danubiana.
Tal situação não é facilitada pelo próprio evoluir da situação política interna na Rússia, onde sectores nacionalistas e sectores "industrialistas", estes próximos da grande indústria estatal e do complexo militar-industrial — que têm vindo a reforçar a sua posição — pretendem uma transição mais lenta para a economia de mercado sob um maior controlo do Estado, e defendem uma afirmação internacional mais vincada da Rússia.
Esta evolução não deixará de tornar mais difícil a sua relação com as organizações financeiras internacionais, encarregadas até agora de, em nome dos países industrializados, negociar com o governo russo o seu programa de estabilização e ajustamento económicos, tanto mais que essas organizações não têm margem de manobra para aceitar excepções a orientações gerais que aplicam a outros países devedores. Essa evolução pode vir a tornar mais visível a necessidade de um reforço das relações bilaterais com a Rússia (nomeadamente por parte do Japão e dos EUA), como quadro complementar para uma ajuda económica maciça.
Crescente interligação entre a evolução geopolítica e as perspectivas para a economia mundial
13. O crescimento económico do pós-guerra deu-se num quadro geopolítico estável, embora marcado por fortes tensões. Ora, com a retirada europeia da URSS e com a sua posterior desintegração, todo o sistema tradicional de relações internacionais entrou em colapso. A procura de novos equilíbrios depende actualmente da mudança de natureza nas relações entre anteriores adversários e da evolução das relações dos aliados dos EUA entre si e com o país líder. Este novo quadro de relações é fundamental para introduzir novos factores de organização geopolítica em várias regiões do mundo cuja evolução se tornou subitamente imprevisível, estando ainda por definir o papel das principais potências nessas regiões, bem como os alinhamentos preferenciais entre elas.
14. Basta recordar na Ásla/Pacfflco:
• as relações entre a RÚBSia e o Japão e o papel dos EUA na sua possível evolução;
• o quadro político e económico que permitirá organizar plenamente o potencial chinês na região, envolvendo nomeadamente Pequim, Taipe e Singapura;
• a estratégia marítima chinesa, nomeadamente no Mar da China do Sul, em estreita relação com a evolução das relações da China e do Japão, país cujas linhas de abastecimento marítimo atravessam aquele mar;
• os problemas associados à reunificação coreana e ao futuro posicionamento da Coreia face ao Japlo, à China e à Rússia;
• os problemas associados à incerteza na Ásia Central muçulmana e à futura relação nessa área entre a Rússia, a China e o Irão.
A Ásia/Pacifico, ao contrário da Europa, não dispõe de um quadro unificador do relacionamento económico (do tipo da CE ou do futuro EEE), nem de quadros institucionais únicos que organizem as alianças com os EUA (como a OTAN) ou promovam a cooperação para a segurança a nível regional (como a CSCE). Neste contexto, não é de excluir a possibilidade da região economicamente mais dinâmica do planeta poder vir a ser, a médio prazo, .confrontada com a dificuldade em responder às questões geopolíticas atrás referidas.
15. Ao analisar-se a Europa e as suas periferias, pode identificar-se igualmente um conjunto de transformações geopolíticas que podem exigir uma nova arquitectura europeia. Refiram-se entre elas:
• a independência dos Países Bálticos, que desempenhavam um importante papel estratégico para a ex-URSS, e que pretendem agora reforçar os laços com os países da Europa Ocidental e reduzir drasticamente a sua dependência face à Rússia;
• o surgimento dum novo país independente da dimensão da Ucrânia, ocupando uma posição chave na Europa Central e no Mar Negro, pretendendo afirmar-se face à Rússia e dotas-se. dos meios necessários para dissuadir os outros vizinhos de colocarem em questão as suas fronteiras;
• a desagregação das duas federações eslavas criadas após a (° Guerra Mundial na Europa Central — Checoslováquia — e a» Europa Balcânica — Jugoslávia — e que permitiam enfraquecer,
\ em termos geopolíticos, o mundo germânico e húngaro;
• um risco crescente de radicalização do mundo árabe, com a ascensão das forças fundamentalistas, e de disseminação, na região do Mediterrâneo e do Médio Oriente, de armas de destruição maciça;
• uma incerteza crescente quanto aos arranjos estatais que permitam maior estabilidade na região do Golfo, questão que assume particular relevância com o futuro político do Iraque.
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