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15 | II Série A - Número: 093 | 4 de Abril de 2009

A villae romana da Granja dos Serrões é uma das estações arqueológicas mais notáveis do concelho de Sintra, no que respeita a este período histórico. Em 1944 e 1945 efectuaram-se duas campanhas de escavações que permitiram descobrir estruturas romanas e da alta Idade Média muito significativas, e que atestam a ocupação humana do território numa continuidade que vai, pelo menos, de meados do século I DC., até finais do século XI, em plena ocupação muçulmana.
De facto, todo o contexto arqueológico regional envolvente nos leva a supor que Montelavar tenha sofrido uma forte romanização, pelo menos desde meados do século I AC, e talvez mesmo antes. Mas os vestígios documentados mais antigos datam do primeiro século depois de Cristo. São eles várias inscrições lapidares, num conjunto avultado de exemplares, que nos fornecem dados valiosíssimos sobre estes ancestrais habitantes de Montelavar, como nomes de pessoas e famílias, dados pessoais e relações entre pessoas, noções sobre o culto dos mortos, etc.
Parte integrante, e importante, dos agri do chamado município olisiponense, a região de Montelavar faz parte de um aro, constituído pelos territórios das actuais freguesias de Colares, São João das Lampas, Terrugem, Pêro Pinheiro e Montelavar, cuja presença romana está fortemente documentada.
Dos testemunhos epigráficos descobertos na região destaque para o conjunto da Granja dos Serrões e, também, nos limites de Abremum, num total de mais de duas dezenas de monumentos que hoje ajudam a contar a história do concelho de Sintra, já que estão conservados no Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas.
Também foram encontrados outros materiais da época romana na região, nomeadamente as cerâmicas. É o caso de um fragmento de boca e arranque de asa de uma ânfora, datável do século III DC., de fabrico peninsular e que serviu para transportar pasta de peixe, descoberta apenas numa recolha de superfície em 1983. Escavações arqueológicas neste lugar poderão, certamente, colocar a descoberto outros materiais congéneres.
2 — Da Idade Média à constituição da freguesia: Após a queda do império romano e a chegada dos povos bárbaros, a estrutura social e económica do território que constitui, hoje, a freguesia de Montelavar, não se deve ter alterado muito.
A romanização teve uma repercussão bastante acentuada em toda esta zona, deixando no povo um legado fundamental para a sua vida, para a sua cultura e para a sua história. De facto, os romanos vieram ensinar novas técnicas agrícolas, trouxeram novas ferramentas e novos plantios, abriram estradas e caminhos, ofereceram às tribos lusitanas uma nova língua e um novo sistema de ensino. Incutiram, sobretudo, um novo espírito administrativo, um novo modus vivendi.
Por isso, quando aqui chegaram, os visigodos terão encontrado um povo organizado, com meios de subsistência suficientes e capazes de alimentar as suas comunidades. E, por certo, devem ter-se enquadrado bem no seio desta gente dos campos montelavarenses, onde os vales são férteis e a água abundante.
Também os visigodos eram um povo de agriculturas e pastoreio, menos dado às artes que os romanos, é certo, mas com o mesmo apego à terra.
Aliás, o mesmo acontece com todo este território norte do concelho de Sintra, a chamada «charneca saloia» e que abrange várias freguesias. Por isso, vamos encontrar alguns vestígios deste período em São João das Lampas, na Terrugem, em Pêro Pinheiro, Almargem do Bispo e, é claro, em Montelavar. Se bem que a freguesia merecesse mais escavações arqueológicas, pois julgamos que muito há, ainda, a descobrir, e a extracção da pedra durante séculos tenha danificado, por certo, muitos dos sítios com interesse para a história do lugar, a estação da Granja dos Serrões — da qual já falámos — também trouxe a público alguns materiais deste período, assim como do seguinte, o período árabe.
Vindos do Norte de África, os mouros invadem a Península Ibérica em 711. Comandados por Tarik, derrotam o último rei godo, D. Rodrigo, nas margens do Guadalquivir. E, num surto rapidíssimo, ocupam, em poucos anos, grande parte do território peninsular. A Sintra terão chegado os árabes por volta de 713, ou seja, apenas dois anos depois dessa batalha.
Exímios agricultores, habituados a extrair de terras pobres as suas culturas, encontraram neste território, abundante em águas e de solos férteis, um verdadeiro paraíso terreal. A evolução agrícola neste período foi muito significativa para as gentes que habitavam a região, os moçárabes, ou seja, os cristãos habitantes do campo, os çaharoi, termo árabe que daria origem à palavra «saloio».