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II SÉRIE-A — NÚMERO 42

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Perigo à saúde e segurança pública

Os circos com animais selvagens, devido ao facto de serem itinerantes, apresentam fragilidades em termos

de segurança para o público, mas também para os próprios animais. Existem vários relatos de ataques de

animais ao público, a visitantes que se aproximam das zonas de alojamento e mesmo a fuga de animais do

circo. Tome-se como exemplo o caso, ocorrido no final de Janeiro de 2008, em que dois tigres do circo Chen

escaparam da carruagem de transporte de animais à entrada da cidade da Azambuja.

Os circos também não estão preparados para garantir boas condições de nutrição e saúde animal, pois não

há uma vigilância veterinária permanente, nem os seus tratadores detêm, de uma forma geral, conhecimentos

técnicos formais sobre estas matérias. Deste modo, não é de menosprezar a possibilidade de o circo com

animais selvagens ser um foco de doenças transmissíveis a outros animais e mesmo às pessoas, sobretudo

porque não existe um sistema de vacinação nem fiscalização eficiente para os animais selvagens.

Hoje em dia, as preocupações internacionais e nacionais com a preservação das espécies selvagens e dos

seus habitats, as quais têm levado à produção de muita legislação ambiental e de bem-estar animal e ao

crescimento das atividades de educação e sensibilização ambiental, não são compatíveis com a manutenção e

utilização dos animais selvagens em circos.

Apoiar as artes do circo perante públicos mais exigentes

As modificações estéticas e as transformações organizacionais que o circo tem vindo a sofrer nos diferentes

países da Europa não tiveram eco suficiente nos agentes do circo português. As dificuldades financeiras

resultantes da falta de audiência e apoios públicos e o défice cultural dos agentes, impedem este tipo de

desenvolvimento e modernização. O esvaziamento dos circos traduz-se, por isso, numa crise endémica com

efeitos sociais e culturais profundos.

Neste contexto, se o alheamento do Estado subsistir, as perspetivas permanecerão as mesmas, com a

agravante de a baixa escolaridade, a desqualificação profissional, a falta de rigor técnico e a ausência de

competências específicas ao nível da gestão de uma empresa itinerante, acentuarem ainda mais a guetização

do circo.

A transmissão e formação

Os circos que atualmente operam subsistem quase exclusivamente com base nos seus recursos familiares.

A contratação de pessoal para cada uma das funções é inviável, o que obriga a que os circos contem com a

colaboração intensa e não especializada de todas as famílias que nele trabalham num dado momento.

Nos circos portugueses a aquisição de competências técnicas é largamente ministrada pela família. Aliás, a

aquisição de competências e a inserção profissional confundem-se, pois acontecem em simultâneo como se

fossem uma e a mesma coisa. Os pais ensinam as técnicas tais como eles próprios as apreenderam, o que faz

com que os números de hoje sejam os mesmos de há cinquenta anos.

É sabido que, para além do risco, da poesia e do humor, é na excelência técnica e no virtuosismo que se

apoiam as várias formas de circo. Aos artistas, de ontem e de hoje, é sempre exigido um trabalho quotidiano

intensivo porque, em circo, a falta de consistência não é admissível. Por isso, a questão da qualificação

profissional e da criação de escolas é absolutamente determinante para a modernização do sector, pois só a

formação de artistas permitirá perspetivar a produção de espetáculos, clássicos ou contemporâneos, capazes

de atrair públicos exigentes.

A família, independentemente do perfil sociocultural que a caracteriza, não poderá continuar a ser a única

unidade social que sustém a recomposição e continuidade do circo. Só através da criação de escolas será

possível desenvolver verdadeiramente estas novas formas. Daí que, numa primeira fase, as orientações devam

incidir na criação de uma escola com uma formação de cariz profissionalizante capaz de gerar artistas com uma

sólida preparação técnica e artística. Esta escola deve ter em conta as necessidades dos jovens não oriundos

de famílias com tradição mas, também, as especificidades dos jovens oriundos dos circos de natureza familiar.

Por outro lado, é preciso reformular o sistema de ensino para as populações itinerantes, que hoje revela ser

completamente desajustado. Como será possível a estas crianças instruírem-se convenientemente se

professores, manuais e colegas mudam semanalmente? Em consequência desta realidade, a taxa de abandono

escolar é enorme. Muitas pessoas provenientes das "famílias do circo" pensam em enveredar por outra profissão

mas o facto de não possuírem a escolaridade mínima obrigatória limita fortemente esta possibilidade.