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TI SÉRIE-C— NÚMERO 31

Relatório, final da Comissão de Agricultura e Mar sobre a audição parlamentar com vista a apurar da existência ou não em Portugal da encefalopatia espongiforma bovina.

Este relatório diz respeito a uma audição parlamentar, apresentada pelo Partido Social-Democrata, aprovada em reunião da Comissão de 19 de Maio de 1993, com as seguintes votações:

PSD — a favor; PS — contra; PCP — abstenção.

1 — Assunto da audição. — Apurar da existência ou não da encefalopatia espongiforme bovina (BSE), em Portugal.

2 — Entidades ouvidas. — As entidades que a seguir se indicam foram as indicadas pelos vários partidos que constituem a Comissão de Agricultura e Mar, sem qualquer contestação, e são as seguintes, por ordem de audição:

Dr. Mário Armada Nunes; Dr. José Carlos Pereira; Prof. Manuel Cardoso Lage; Dr. Matos Águas;

Prof. Manuel da Cruz Braço Forte Júnior;

Dr. Eduardo Pires;

Dr. Eduardo Maia Tavares;

Prof. António Dias Correia;

Dr. João Cotta Dias;

Associação de Produtores de Bovinos de Raça Frízia

(Dr. José Carlos Duarte); Ordem dos Veterinários (Dr. Fernando Pereira); Dr. Alexandre José Galo; Prof. Amaral Mendes; Prof. Apolinário Vaz Portugal; Dr. Azevedo Ramos; Dr. João Manuel Machado Gouveia.

3 — Situações factuais. — Das situações factuais referidas pelos depoentes, procurou-se mencionar aquelas que pareceram estar directamente relacionadas com a encefalopatia espongiforme dos bovinos (BSE).

Salienta-se, no entanto, que outras de natureza pessoal e de outra ordem foram referidas, mas que em nada podem contribuir para o esclarecimento pretendido, foram omitidas.

A sequência que se segue diz respeito à ordem por que foram ouvidos em audição parlamentar.

3.1. — Dr. Mário Alberto Armada Nunes:

O primeiro caso detectado foi em Junho de 1990 e apresentava um quadro clínico com sintomatologia de uma infecção que não era normal.

Estava informado que a BSE poderia surgir em Portugal.

Comunicou à Direcção de Serviços, tendo posteriormente o animal sido adquirido, morto, recolhida a amostra e enviada para o laboratório do Porto.

Teve informação particular de que tinha sido diagnosticada, histopatologicamente a BSE.

O animal foi importado do Reino Unido.

O diagnóstico clínico apenas levanta suspeitas.

O segundo caso de que teve conhecimento foi numa exploração de Mirandela e apresentava idênticas suspeitas.

Procedeu de igual forma, mas desta vez o animal foi para o laboratório de Benfica.

O BSE apareceu da carne de ovinos.

Também não recebeu qualquer informação oficial do resultado.

Em 27 de Maio presente, existem suspeitas de um terceiro caso.

O diagnóstico clínico pode ajudar, mas só o laboratório pode confirmar.

Tem acompanhado as explorações e não tem. conhecimento de outros casos.

A doença aparece a partir dos dois anos.

O período de incubação vai dos 2 aos 8 anos.

Julga que nenhum criador «enlouqueceu».

Trata-se de uma doença essencialmente de animais.

3.2 — Dr. José Carlos Pereira:

Em 1991 ocorreu-lhe o 1.° caso, que identificou clinicamente como sendo BSE.

O animal tinha sido importado de Inglaterra.

A vaca foi adquirida pelos serviços competentes, foi abatida, recolheram as amostras e depois incinerada.

Oficialmente não soube de mais nada.

Presume que 12 000 vacas importadas tenham sido infectadas pelo agente infeccioso.

O período de importação ocorreu de 1982 a 1989.

Não obteve qualquer resultado oficial.

O único processo de diagnosticar a doença é através de exame laboratorial.

Tudo indica que a doença não é transmissível aos descendentes.

A classe veterinária deveria ter conhecimento da doença. A prevalência de hoje — 27 de Maio — é zero. Teve uma segunda suspeita, mas o animal morreu. Nunca nenhum jornalista lhe mostrou qualquer despacho confirmativo.

Soube por um colega da Ordem que a análise tinha sido positiva.

O diagnóstico de suspeita foi comunicado à Divisão de Sanidade Animal.

Os médicos veterinários estão «bem dentro» da doença. Só deste caso não recebeu qualquer resultado oficial.

3.3 — Prof. Manuel Cardoso Lage:

O Sr. Dr. Matos Águas sabe perfeitamente que o Sr. Director-Geral da Pecuária, na altura, não dispunha de dados seguros para fazer a declaração.

O processo foi mal conduzido desde o princípio.

O director do LNIV não mandou a Inglaterra os investigadores mais experientes. O Dr. Alexandre Galo apenas foi aprender técnicas de diagnóstico histológico da BSE.

O Dr. Matos Águas foi aconselhado a ter cuidado e prudência, quer na escolha dos técnicos, quer na interpretação dos dados.

Todos os departamentos do LNIV foram afastados do processo.

Tem a convicação de que devem existir, em bovinos importados, alguns casos.

Não foram realizadas as provas necessárias e suficientes para declarar com fundamento científico seguro a existência da doença.

O LNTV dispõe de meios materiais e humanos suficientes, mas não foram utilizados.

O secretismo é, em ciência, absolutamente errado e não conduz a qualquer lado.

Devia ter sido aceite a colaboração do Prof. Armindo Filipe, do Instituto Ricardo Jorge.

O agente da BSE é muito complicado e trata-se de uma proteína com uma alteração tão pequena na sua constituição que nem os anticorpos conseguem detectá-la. Está centrado em determinados núcleos nervosos.

O secretismo começou no próprio laboratório.