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8 DE JUNHO DE 1995

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A a fase é o período de readaptação das consciências, o período de ensaios políticos, o período de preparação técnica e profissional dos quadros, o período de afirmação das potencialidades socio-económicas e culturais. Os partidários da integração terão a mesma igualdade de direitos e deveres que os defensores do direito do nosso povo à autodeterminação e independência nacional.

Não negamos que os ânimos estejam presentemente exaltados, porque a violência e a brutalidade foram apenas prática das criminosas forças de ocupação e dos seus assalariados.

Entendemos bem a recusa de um referendo imediato, porque o resultado poderia ser influenciado pelos estados de ânimo. Até queremos dar oportunidade igual aos nossos adversários, e não será apenas o tempo o factor da estabilização dos espíritos mas também os nossos próprios actos em defesa da verdadeira reconciliação que provarão a nossa boa vontade política de solucionar o problema de Timor Leste à luz do direito internacional e segundo as normas aplicáveis pela ONU, na solução de outros conflitos idênticos.

É a vez de Jacarta reconsiderar que o diálogo não é um conselho que se dá aos cambojanos ou a croatas e sérvios, mas um princípio para se aplicar, tanto mais que a Indonésia detém a presidência do Movimento dos não Alinhados. É a vez de Jacarta reconsiderar que o colonialismo é toda a forma de opressão de um povo sobre outro e que o combate ao colonialismo é um dos objectivos do Movimento dos não Alinhados. É a vez de Jacarta reconsiderar que os seus 50 anos de independência levam a nódoa do sangue de cerca de 300 000 timorenses, vítimas da repressão de uma guerra que já vai no seu 20° ano, imposta a um povo vizinho pequeno e indefeso!

Nós não pretendemos ser os vencedores nesta guerra, que apenas envergonha a Indonésia. A presunção sempre cegou a razão. Aceitar que se errou nunca envergonhou ninguém, aliás torna qualquer pessoa de novo merecedora de respeito.

As transformações no mundo não são acasos históricos nem são acidentes as mudanças para melhor, para o progresso. Acidentes são as tentativas de parar a roda da história e, quando essas tentativas tentam abusivamente ultrapassar o tempo, chamam-se obsessão e arrogância.

Jacarta, a celebrar o 50." aniversário da República Indonésia, pode marcá-lo com um evento histórico para assinalar as mudanças em correspondência com a retórica da globalização e da nova era mundial, em correspondência com o objectivo das Nações Unidas de erradicar o colonialismo até ao ano 2000. Apelamos ao Presidente Suharto para que pratique um acto de coragem política, como presidente do Movimento dos não Alinhados e como presidente de um Estado que respeitamos, celebrando o seu meio século de independência. Independência é o direito fundamental de todos os povos do mundo. E o Presidente Suharto sabe bem disso! O povo irmão indonésio espera do seu presidente actos políticos que o eternizem na história de uma grande Nação do Terceiro Mundo, virado como está para o futuro de um maior progresso, onde a democracia, a justiça social e a paz sejam os parâmetros da sociedade indonésia e exemplo aos povos e Estados vizinhos, incluindo o Estado soberano de Timor Leste!

Digníssimos Senhores, sabemos que Jacarta ainda não está preparada para reconhecer que é tempo para mudanças políticas. Até quando, só o próprio Presidente Suharto sabe! O CNRM está decidido a praticar todos os actos que possam tornear os obstáculos impostos por Jacarta. O representante especial do CNRM, o querido irmão e companheiro de luta e infatigável combatente da liberdade do nosso povo, vai prosseguir no seu esforço de provocar a implementação gradual e consequente da linha do pensamento do CNRM para a criação de condições sócio-político-económicas, sob a imprescindível supervisão da ONU, até que a Indonésia aceite que Timor Leste é um território, não autónomo com direito à autodeterminação e independência nacional.

Nisto seremos intransigentes e disto estamos mais convictos que os generais indonésios! Pessoalmente, eu acredito que os timorenses já estão à altura de assumir as suas responsabilidades!

O povo maubere, por seu lado, tem a convicção também de que esta Conferência Interparlamentar sobre Timor Leste, pela primeira vez realizada em Lisboa, dê um vigoroso passo em frente, como continuidade e resultado de tantas acções, magníficas e inexcedíveis em zelo e dedicação à causa timorense, desenvolvidas pela solidariedade portuguesa e internacional. Temos fé, porque vós alimentais a nossa fé; temos esperança, porque vós cuidais da nossa esperança. E sabemos que, convosco, com todos os homens de boa vontade espalhados pelo mundo, venceremos!

Viva a solidariedade internacional!

Viva a justa luta dos povos oprimidos!

A luta continua, sem tréguas, em todas as frentes!

Resistir é vencer!

Pelo CNRM, Kay Rala Xanana Gusmão, comandante das F AL IN ILL, na prisão de Cipinang, Jacarta, aos 20 de Maio de 1995.

Aplausos gerais.

Sr. Presidente, o nosso líder Xanana Gusmão teve a lembrança de fazer chegar aqui quatro casas típicas timorenses que, por sugestão dele, se destinam às seguintes personalidades, para o que peço aos estudantes da REN1TTL que façam a entrega: a primeira para o representante de S. SS. o Dalai Lama.

Aplausos gerais.

A segunda para o Dr. U Sein Win, na sua qualidade de Primeiro-Ministro do Governo de coligação da União da Birmânia, da grande e patriota, prémio Nobel da Paz, esperança da democracia na Birmânia e no Sudeste Asiático, Sr.* Aung San Suu Kyi.

Aplausos gerais.

E também ao povo saharaui, através do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros aqui presente.

Aplausos gerais.

E a S. Ex." o Presidente da Assembleia da República, Dr. Barbosa de Melo.

Aplausos.