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8 DE JUNHO DE 1995

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grupo de jovens portugueses que vão executar bailados e corridinhos na Indonésia e vender o tinto e sardinhas com azeite português!

É escusado pensar que o encontro entre integracionistas e resistentes timorenses possa lançar ideias como o respeito aos direitos humanos em Timor Leste. Da ONU à CE, da UE a governos, resoluções sobre direitos humanos em Timor Leste não têm tido peso de convencimento para o regime de Jacarta. Nem se sonhe que o encontro possa produzir exigências tais como retirada ou diminuição das assassinas tropas de ocupação do território. Muitos pronunciamentos dos integracionistas são em defesa da posição oficial do regime colonialista a que servem, como funcionários do Golkar e do Governo, condição que os cobrem de privilégios, à custa do sangue dos próprios irmãos que eles ajudaram a prender, torturar, massacrar, e depois negar que isso tudo tenha acontecido. Se, por um milagre fora de toda a lógica de análise, um António Parada e um Xavier do Amaral, um Abílio Osório e um Chico Lopes vierem a abordar os temas acima, é impensável deduzir-se que os generais de Jacarta se disponham imediatamente a concordar com isso. Para Jacarta, esses timorenses, que representam servilmente a retórica do governo, são simples cassettes: enquanto ainda puderem ser inteligíveis, elas são tocadas; se estão gastas, são deitadas para o lixo. Não têm importância como pessoas. Têm importância apenas nos serviços que prestam e enquanto prestam. Muitos são os exemplos dos que eram inicialmente tomados como pessoas indispensáveis para a integração de Timor Leste, mas porque, tomando consciência dos seus erros, se recusaram posteriormente a participar activamente no genocídio dos seus irmãos, hoje são uns falidos, do ponto de vista da valorização que o assassino ocupante dá ao timorense.

Jacarta criou há muito tempo esta ideia e tentou encenar a discórdia entre timorenses num painel político, que chamasse a atenção do mundo e diminuísse a noção de anexação militar de Timor Leste que custou a vida de cerca de 300 000 timorenses. O Centro de Estudos Estratégicos Indonésio acertou em cheio na escolha dos actores, mas, como em toda a farsa que promove, Jacarta sabe que está jogando apenas com a sua própria credibilidade.

Fazemos votos para que todos os timorenses que participarem na reunião de Salzburgo não se esqueçam nunca de que o problema de Timor Leste é um caso de violação do direito internacional e um caso da negação dos princípios universais da justiça, da liberdade e da paz, e que esses timorenses assumam que só a aceitação plena da substância do problema pode conduzir a uma solução. Fazemos votos para que, uma vez na vida, os timorenses segurem nas suas mãos a responsabilidade que cada filho de Timor Leste deve possuir e sejam possuídos da coragem e do espírito de luta dos nossos ancestrais, para afirmarmos ao mundo que somos um povo e temos uma Pátria, violada desde há 19 anos e meio, sob a complacência dos governos ocidentais. Uma vez na vida, sejamos timorenses, sejamos dignos filhos do nosso povo! Se as nossas posturas não envergonharem a nossa pele nem insultarem o nosso espírito de guerreiros de uma pequena meia ilha, a solução será em breve encontrada para a felicidade do nosso povo.

O Conselho Nacional da Resistência Maubere, com a FRETILIN, e tendo o apoio da UDT e de todas as forças nacionalistas da resistência como a RENETIL, a AST (Associação Socialista Timorense) e mais outros grupos independentes, declara que, num Timor Leste independente não haverá mais sangue timorense para enlutar a reconstrução nacional. A todos os timorenses que, levados pela ânsia da realização pessoal, viram na integração o meio para um desenvolvimento físico sem olhar para a destruição da mentalidade e do carácter da individualidade histórico-cultural do nosso povo, declaramos que não haverá nenhum acto de ódio ou vingança que venha a ser tolerado. Foi a guerra provocada pela ambição expansionista da Indonésia que nos dividiu e eu acredito que nós, os timorenses, estamos suficientemente maduros para a verdadeira reconciliação da nossa Pátria independente, fechando com consciência as páginas negras da nossa história para, de mãos dadas, trabalharmos para o futuro do nosso pequeno país e para o futuro dos nossos filhos. Esta é a promessa da verdadeira reconciliação, como é o desejo mais profundo do nosso povo e como exigência mais sagrada da nossa Pátria. Seria o nosso simbólico hemu ran (beber sangue), acto de juramento que os nossos ancestrais nos ensinaram como o selo da irmandade, tanto como nos transmitiram o sagrado ideal da Pátria, traduzido no fatuk no rai, uma no ahi!

Digníssimos Senhores, desejaríamos saudar aqui o Secretário-Geral da ONU, pela firmeza com que tem abordado a questão de Timor Leste, na sua recente visita à Indonésia. Em meio ao seu cansaço psicológico, que qualquer povo sentiria quando a sua resistência já durasse 20 anos e, pior ainda, nas condições em que deve apenas contar com as suas próprias capacidades de resistir, o povo maubere sentiu-se insuflado de verdadeira esperança, de redobrada fé e de total confiança de que a ONU, como depositária do direito fundamental dos povos e como guardiã dos princípios universais da justiça, da liberdade e da paz e do direito internacional, não permitirá que um caso como o de Timor Leste venha a ser, pura e simplesmente, relegado para a categoria de assunto interno da Indonésia.

Mas, para isso, para apoiar as Nações Unidas a levar a cabo o seu papel de solução dos conflitos, a clara e firme postura dos políticos em todo o mundo é uma condicionante muito importante! E, hoje mais do que nunca, todas as atitudes políticas em defesa do direito, da liberdade, da justiça e da paz são de uma vital importância para forçar o regime colonialista de Jacarta a entender que os direitos humanos são universais e, como membro da ONU, a Indonésia deve respeitar o direito internacional. Agora mais do que nunca, porque o próprio Secretário-Geral já afirmou que a solução só pode vir da Assembleia Geral da ONU, retirando à Indonésia a veleidade de pensar que a reconciliação seria sinónimo de integração.

A Indonésia tem-se aproveitado do adiamento do debate sobre Timor Leste na Assembleia Geral da ONU, para se tornar arrogante, desafiando a comunidade internacional. A Indonésia fez tudo, aproveitando-se da influência que adquire como o recipiente de investimentos dos mais promissores do Terceiro Mundo, para ganhar uma boa imagem na solução do problema do Camboja, para melhorar a sua posição tornando-se membro do Conselho de Segurança da ONU e despertando até novo protagonismo no conflito na