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II SÉRIE-C - NÚMERO 2S

¿encía, nunca se desesperou ao ponto de desistir da luta! O povo de Timor Leste tem os seus olhos fitos no futuro e o futuro significou sempre, desde o começo da história da humanidade, esperança; o futuro foi

sempre promessa de mudanças e o futuro trará sempre também o momento exacto da vitória da verdade sobre o erro e da justiça sobre o crime.

Já afirmei que o erro de Jacarta não está nestes anos todos de ocupação militar e repressiva de Timor Leste. O erro de Jacarta foi o acto de invasão de 7 de Dezembro de 1975, data oficial que não retira o vandalismo da violação das fronteiras desde Setembro do mesmo ano. Deste erro, justificado por mentiras, de que a conjuntura política mundial da altura necessitava para encenar a defesa dos interesses das grandes potencias (o ex-secretário de Estado norte-americano James Baker'ainda muito recentemente reconheceu que, na invasão a Timor Leste, os Estados Unidos cometeram um erro e continuam a cometê-lo), nasceu um outro erro político, que hoje assusta os generais indonésios: a fatal mentira de que o povo timorense escolhera de livre vontade a integração. E o ex-Minis-tro dos Negócios Estrangeiros, Mochtar Kusumatdja, afirmou, há bem pouco tempo, que não podem aceitar o referendum porque perderiam a credibilidade, porque perderiam a face.

Assim também os generais indonésios que ainda não conseguem ser suficientemente inteligentes para aceitar, com cavalheirismo, a derrota político-militar frente a uma pequena e mal equipada força de guerrilha, num palmo e meio de um terreno de meio milhão de habitantes, e tentam, a todo o custo, incluir Timor Leste no profundamente crónico problema do kesatuan e persatuan indonesia, esforçam-se por mentalizar o povo indonésio a sentir que Timor Leste é um perigo para essa unidade do Estado indonésio. É a única arma política de que podem servir-se os generais de Jacarta para continuar a mentir ao povo indonésio sobre um caso que, como eles próprios sabem, acabará mal para eles.

Aos poucos, a sociedade indonésia começou já a perceber que Timor Leste é um caso de direito internacional e não mais um «caso interno da Indonésia», como era a propaganda do governo. Aos poucos, o povo irmão indonésio, ávido de democracia e de justiça, começou a compreender que o seu governo tem estado a acumular mentiras sobre mentiras acerca do problema de Timor Leste.

Enquanto o regime de Jacarta for ainda monitorado pelos militares, desde o seu parlamento até as aldeias, é difícil pensar-se que Jacarta possa entender que a Indonésia não pode ver a globalização apenas nos benefícios que o seu potencial económico lhe concede, como prerrogativa para não aceitar aquilo a que chama «interferências» e como direito de impor aos outros que a defesa do caso de Timor Leste pode prejudicar as relações económicas.

Mas a indonésia sozinha não poderia ser tão arrogante se o Ocidente não praticasse, com total insensibilidade, a política de dois pesos e duas medidas. Contudo, acreditamos que o envelhecido regime indonésio não terá muito por onde escolher nos próximos tempos. A roda da história traz no seu ventre os sempre novos embriões de renovação e os dentes enferrujados de ontem serão irremediavelmente substituídos por novas peças de uma engrenagem para a transformação global da região.

0 povo timorense vem suportando sozinho a resistência ao colonialista mais sádico do após Segunda Guerra Mundial. No seu 50.° aniversário da independência, a Indonésia sabe que tem as mãos sujas do sangue maubere, sangue que desvirtua a sua própria história de emancipação do colonialismo holandês. O problema é apenas que os generais indonésios não foram feitos para fazer reflexão mas formados para comprar armas, equipar exércitos e planear ataques. E são estes homens que detêm o poder na Indonésia, ao lado dos grandes consórcios, tão endividados como qualquer país do Terceiro Mundo mas salvos apenas pelos enormes recursos que o país tem, recursos que engordam uma pequena élite de conglomerados à custa da pobreza de uma imensa maioria. Existem na Indonésia 15 milhões de pessoas abaixo dos padrões mínimos de pobreza. Até, às vezes, gostaríamos de gritar ao Suharto para cuidar desses 15 milhões de indonésios e deixar em paz o povo de Timor Leste cuja população está a ser dizimada pelas suas tropas de ocupação!

Mas o ciclo vicioso da política leva-nos de novo a considerar a pressão externa como a arma de persuasão para as mudanças de atitude do regime de Jacarta. A solidariedade indonésia expressou-se assim: a invasão de Timor Leste foi uma aventura do regime militarista de Jacarta. Se o povo indonésio fosse governado por um regime democrático, seria impossível que o Parlamento indonésio concordasse em anexar um território pela via das armas, infringindo assim os princípios básicos da Conferência de Bandung, que criou o Movimento dos não Alinhados! É pena que os países defensores dos direitos humanos fechem os olhos não só à situação política de repressão na Indonésia como à violação do direito internacional no caso de Timor Leste! E é aqui que se coloca a responsabilidade da comunidade internacional!

Digníssimos Senhores, será sob este denominador que desejaríamos que esta Conferência se debruçasse aprofundadamente sobre o tempo actual do estatuto jurídico-político de Timor Leste. É hora de se encontrar a via da solução do problema. É hora de forçar Jacarta a entender que o caso de Timor Leste não pode mais ser equiparado ao epíteto do separatismo na Indonésia: Timor Leste nunca foi da Indonésia como nunca foi de Portugal. Assim como Portugal antes, a Indonésia mantém hoje apenas e apenas uma presença física militar e político-administrativa no território, como potência colonial.

Daqui a uns dias, realizar-se-á o encontro intrati-morense. Se se pensa que os Timorenses se vão reconciliar em Salzburgo, não tem sentido darmos à situação em Timor Leste uma causa para as diferenças entre timorenses; se a causa de toda a situação em Timor Leste é a anexação pela via da força pela Indonésia, não tem sentido uma reconciliação entre timorenses. Dizemos assim porque a solução do problema ou a discussão de qualquer assunto, a exposição de qualquer ideia, para terem resultados positivos, tem de provir da explicação da situação política do/no território. Não se pode fugir disto, não se pode ser tão insensível que, por exemplo, se vá lá concordar que foi um gesto excepcionai integrado nas medidas da confiança o plano de Galvão de Melo de escolarizar os indonésios na língua portuguesa quando é proibido falar-se o português no território ou aplaudir-se um