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3. Os incêndios de 14, 15 e 16 de outubro de 2017

3.1. Condições pirometeorológicas

3.1.1. Condições antecedentes

O ano de 2017 ficou marcado pela persistência de condições meteorológicas favoráveis à

ocorrência em número significativo de incêndios grandes e severos, como é atestado pelo

valor acumulado desde 1 de julho até 15 de outubro do índice DSR de severidade diária, o

qual atingiu o valor mais elevado desde 2003 (IPMA 2018). Essas condições foram manifestas

durante a primeira quinzena de outubro, com médias nacionais de temperaturas máximas

diárias à volta de 30ºC e humidades relativas mínimas geralmente inferiores a 30%. Tomando

como exemplo os dados da estação meteorológica do IPMA localizada no aeródromo da

Lousã, verifica-se que o perigo meteorológico de incêndio (FWI) foi Muito Elevado ou Extremo

em 84% dos dias entre as catástrofes de Pedrogão Grande e de 15 de outubro. Nesse intervalo

de tempo ocorreu apenas um evento de precipitação substancial, 31 mm no dia 29 de agosto,

que reduziu de 889 para 559 o Índice de Seca (DC). Subsequentemente, o DC aumentou

continuamente até atingir o valor de 890 no dia 15 de outubro.

Valores tão elevados do DC como aqueles que se verificaram durante o Verão e quase todo o

Outono de 2017 indicam que todo o combustível morto acima do solo mineral está disponível

para arder, independentemente da sua dimensão e compactação, e que os incêndios

requerem um aturado esforço de rescaldo para serem efetivamente extintos. O stress hídrico

correspondente é suscetível de diminuir a hidratação da vegetação arbustiva para valores

criticamente baixos. Com efeito, os dados cedidos pelo Centro de Estudos Sobre Incêndios

Florestais (CEIF) da Universidade de Coimbra, mostram para a Lousã teores de humidade dos

arbustos na ordem dos 50-60% na primeira quinzena de outubro, inferiores aos 80% típicos

da época e da região (VIEGAS et al. 2001).

Figura 3.1. Precipitação observada e Índice de Seca (DC) na estação meteorológica do IPMA no aeródromo

da Lousã durante o ano de 2017. As chamas assinalam os dois piro-eventos catastróficos.

Em Portugal, três quartos dos incêndios com mais de 2500 ha ocorrem quando DC>630

(FERNANDES et al. 2016a). Do ponto de vista da propagação do fogo, e para lá do efeito

direto na humidade da vegetação e energia libertada, DC elevados reduzem a variação

espacial da humidade do combustível à escala da paisagem e uniformizam-na entre tipos de

vegetação e posições topográficas. Assim, estados de seca avançada desfazem as barreiras

naturais à expansão dos incêndios. Seca pronunciada faz com que haja transferências de

combustível da copa para a superfície do solo, e da fração viva para a fração morta,

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