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APPENDICE Á SESSÃO N.º 23 DE 28 DE FEVEREIRO DE 1898 384-C

sobre o assumpto, com o seu talento, com o seu trabalho e experiencia dos negocios publicos, offerecendo novos alvitres, ou mesmo apresentando emendas ou até propostas de substituição, que fossem mais vantajosas e que convencessem o governo e a maioria, de que realmente eram preferiveis as suas medidas ás nossas que sustentâmos e o governo apresentou!

Mas o que succedeu? Corresponderam as obras e os actos da opposição às suas boas palavras esperançosas e patrioticas? Não!

Tem-se provado á saciedade que essas palavras não eram sinceros, que as intenções da opposição não eram realmente as que annunciou! É o que se tem visto! (Apoiados.)

Este debate iniciou-se por mais de um discurso inconveniente, violento, impetuoso, indo-se rebuscar nos diccionarios os adjectivos mais extraordinarios para compor imagens rhetoricas de grande effeito, ameaçadoras, tetricas e pavorosas, para afear e ennegrecer propositadamente o quadro já de si realmente triste, desolador, da nossa pobreza e miseria economica e financeira, chegando a dizer-se que este projecto estava sentenciado a ser a vergonhosa mortalha da nossa nacionalidade, a ruina e o opprobrio, a porta aberta á administração estrangeira, a perda da nossa autonomia e independencia!

Isto disse-se e repetiu-se levianamente, em phrases mais ou menos rubras de indignação e violencia, em todos os tons, conforme a força dos pulmões e o temperamento mais ou menos irritavel e apaixonado dos principaes oradores da opposição! (Apoiados.)

Parecia que não se tratava de uma questão magna, de vida ou de morte para o pais! De uma alta e grave questão economica e financeira! De um projecto importantissimo, a que bem se póde chamar de salvação publica, destinado a melhorar a angustiosa e improlongavel situação em que nos encontrâmos, mas sim que se estava debatendo e degladiando uma acirrada e facciosissima questiuncula, de politiquice de campanario, de alguma renhida eleição sertaneja, d´essas que tanto apaixonam e irritam os mandões locaes e os regedores, e que por vezes até fazem repercutir os sons nos echos d´esta camara!

Declaro que n´este ponto não estou fazendo referencia ou dirigindo insinuação pessoal nenhuma a alguem, ou a casos passados na sessão de hoje; fallo em geral.

Questiunculas, repito, a que nós para sustentarmos o fogo sagrado d´esses regedores e d´esses mandões, damos grande importancia e transformâmos em occorrencias de um alto valor civico, para que chamâmos a attenção do governo, pedindo providencias energicas e urgentes!

Cinco votos de mais, cinco votos de menos; a eleição da junta de parochia ameaçada, a da camara tremida; um administrador tyranno que não deixa votar os mortos; um governador civil que requisita tropa para manter a liberdade da urna, uma que não dá o resultado que se deseja; estas sim, que são as graves questões que mais interessam, que mais se discutem, que mais attenções merecem e reclamam!

Mas a questão financeira, a seria e grave questão financeira e economica, que se aggrava e manifesta cada vez mais aguda, perigosa e irreductivel, não de hoje, mas de ha seis, sete ou dez annos, a gravissima questão por excellencia, a que a todas sobreleva e cujo deploravel estado, diga-se imparcialmente, é da responsabilidade de todos os partidos politicos e de todos os nossos homens publicos, embora haja alguns que a tenham maior do que outros, essa parece tratar-se levianamente, sem estudo, sem reflexão, sem seriedade, de animo ligeiro, como cousa de somenos importancia, que aborrece, que enfada, que não merece consideração! (Apoiados.)

É por isso que os eleitores, os contribuintes, a grande maioria do paiz, a que trabalha e paga, por vezes, em arrancos de sinceridade e de revolta, mas de revolta surda, porque o paiz ha muito que não tem coleras nem forças para se revoltar e reagir com energia, faz as criticas mais acerbas ao que se passa n´esta casa, rematando-as com a já conhecida phrase, que realmente não é muito de honrar o nivel moral do parlamento, "de que tão bons são uns como os outros"...

E a verdade é, sr. presidente, que, as culpas do lastimoso estado de pobreza e ruina a que chegamos, da nossa triste decadencia financeira e economica, de tudo o que se está passando de grave e ameaçador, de quasi irremediavel, são talvez quasi tanto d´este lado da camara, como aquelle; mas as d´aquelle lado (indico, a opposição), são mais tremendas, mais esmagadoras, muitissimo mais pesadas, porque nos ultimos e nefastos annos de desleixada e pessima administração, são os regeneradores que mais têem exercido o governo, que mais tempo têem catado no poder que d´elle têem usado e abusado largamente, sem se terem preoccupado com as ameaças da medonha derrocada que os subverteu e obrigou a cair, sem que ninguem os empurrasse! (Apoiados.)

No ultimo quartel d´este seculo, nos ultimos vinte e cinco trinta annos da nossa pacata e socegada vida constitucional, tem sido quasi sempre, ininterruptamente por successivos annos occupado o poder pelo partido regenerador; e, portanto, não é elle que póde desculpar-se, como progressista, não é elle que póde elleger ter menos responsabilidades, nem é elle o que póde, com certeza, atirar a pedra ao telhado do seu vizinho, irrogando censuras, levantando clamores de indignação, que não têem direito a fazer, devendo queixar-se de si proprio, das suas mais graves faltas, accusar-se e fazer penitencia, antes e accusar os seus adversarios politicos, que só raras vezes e sempre em circumstancias difficeis têem logrado o poder!... (Apoiados.)

Portanto, menos palavras, menos declamações e mais obras! Sejam patriotas, sejam sinceros, antes de ser regeneradores sejam portuguezes e auxiliem o governo estudando e apreciando devidamente os seus projectos e os seus planos de salvação, ampliando-os, emendando-os, melhorando-os, para ver se conseguimos saír com honra da perigosa situação em que nos achâmos, o que a todos deve interessar por igual!

Cumprâmos todos o nosso dever! (Apoiados.)

E quando digo todos, quero abranger aquelles que n´esta casa tambem tenham agora levantado vozes de recriminação e censura, e que tendo tido assento nos conselhos da corôa, em circunstancias favoraveis - unicas - para tudo poderem tentar e fazer, nada produziram de util e proveitoso para o bem da nação, o que não podem eximir-se ás grandes responsabidades do seu governo; governo, que não tendo saído da chamada rotação constitucional dos partidos, subiu ao poder em condições excepcionalissimas, em um determinado momento historico, como nenhum outro houve, animado de applausos, cheio de confiança, forte e vigoroso, rodeado de sympathias e esperanças populares, não lhe faltando nenhum elemento para tudo poder emprehender a bem da causa publica, da salvação da patria, e que, nada tendo feito do que se esperava, caíu de fraco e gasto, restando ao chefe d´esse governo a triste gloria de agora aqui vir condemnar asperamente as medidas que se apresentam, censurando tudo e todos, sem se lembrar que quando podia e devia, nada tinha feito de bom, de grande, e salvador, tendo o paiz ficado completamente desilludido a respeito do seu governo e dos seus planos redemptores. Refiro-me, está claro, ao ministerio do sr. Dias Ferreira. (Apoiados.)

E lamento, sr. presidente, não ver ali no seu logar aquelle illustre parlamentar e notavel jurisconsulto, para que elle podesse ouvir as mais considerações que tenho a fazer ácerca da sua nefasta e perniciosa administração, que elle apregoa e defende como sendo a melhor que tem havido, atacando violentamente a dos governos do que não