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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

se póde seguir o systema que foi seguido este armo, e creio que em mais alguns, para a adjudicação do theatro de S. Carlos.

Não podemos estar a votar subsidio para manter a arte em uma certa altura, para depois regatear uns vinténs, pondo completamente de parte as condições artísticas e as garantias que qualquer empreza possa offerecer. Subsidio fixo, e que seja preferido quem der maiores garantias de cumprir a missão elevada que deve incumbir ao theatro nacional.

Portanto s. ex.ª deve ver que n'este ponto não tenho o mais leve pensamento do hostilidade ao governo; pelo contrario, desejo favorece-lo, se elle quizer tomar a iniciativa n'um assumpto que interessa a todos. Creio que posso fallar não só por mim, mas por muitos collegas da opposição que têem o maior desejo de que a arte nacional seja favoneada e favorecida. (Apoiados.)

O que não posso deixar de lamentar, é que s. ex.ª, nomeando uma commissão composta de homens competentissimos para este fim, s. ex.ª não faça nada, ou, se faz alguma cousa, é completamento desacompanhado das luzes e conselhos d'essa commissão, porque tal commissão não se reuniu mais.

S. ex.ª, querendo zelar a arte nacional, ou não fez nada, e esteve zombando com o publico, ou então zombou da commissão, porque se fez alguma cousa, então n'esse caso zombou da commissão porque o fez completamente desacompanhado da sua opinião, porque nunca mais a consultou.

Não sei qual seja a resposta do sr. ministro do reino a - estas minhas breves considerações, mas responder-lhe-ei se necessario for.

Aproveito a occasião de estar com a palavra para chamar a attenção do sr. ministro, para um facto referido por alguns jornaes; refiro-me á noticia dada pelos jornaes de Coimbra, de que a camara municipal d'aquella cidade tinha o proposito de demolir parte do convento de Santa Cruz.

S. ex.ª já me disse particularmente, que tinha mandado colher informações, mas que ainda as não recebêra, e como é possivel que já hoje saiba alguma cousa, por isso me dirijo publicamente a s. ex.ª

Devo dizer, que um jornal de Coimbra, affecto ao governo, disse que a camara municipal d'aquella cidade tencionava demolir uma parte do convento de Santa Cruz que está amodernada, e onde ha muito pouco da primitiva construcção.

Ora, na verdade, confesso que este muito pouco assusta-me bastante, por isso que alguem disse ainda na ultima sessão da academia real das sciencias, que n'uma parte do edificio de Santa Cruz que a camara tencionava demolir estavam incluidos os claustros conhecidos pela denominação do silencio e da manga!

Se assim é, parece-me um vandalismo atroz e ainda mais vergonhoso por ser praticado n'uma cidade que é um dos focos da illustração do nosso paiz (apoiados), mas se a camara municipal effectivamente não tenciona senão demolir a parte modernada do edificio, que longe de contribuir para o embellezamento o attenua, direi que em vez de a condemnar, applaudo a; porque effectivamente acho que estes remendos maculam tanto essas paginas de pedra que nos foram legadas pelas idades heróicas de Portugal como o camartello dos destruidores.

Pedia pois a s. ex.ª que fizesse fiscalisar esta demolição para que não vão de envolta com os remendos alguns restos d'aquelle grandiosíssimo monumento notavel pela sua belleza artistica, ainda mais pelas gloriosas memorias que recorda ainda a todos os portuguezes. (Apoiados.)

Abusarei ainda um pouco da attenção da camara sobre um outro assumpto, que é para mandar para a mesa um requerimento pedindo alguns esclarecimentos pelo ministerio das obras publicas.

Quando aqui se discutiu a questão do ramal de Cacilhas, pedi eu ao sr. ministro das obras publicas alguns esclarecimentos a respeito de uma questão, a que só muito vagamente se alludia nos documentos publicados; refiro-me á questão de um requerimento do sr. Jorge Elliott.

Pediu-se ao sr. ministro das obras publicas que dissesse qual o motivo porque negara a esse cavalheiro a concessão que elle pedia, e s. ex.ª não disse nem uma só palavra a esse respeito, e os deputados da maioria, que fallaram na questão, tambem guardaram a esse respeito o mais prudente silencio. O sr. Filippe de Carvalho, porém, que é mais expansivo, hontem na Correspondencia de Portugal, teve a bondade de nos dizer, que effectivamente o sr. Elliott tinha requerido a concessão de um caminho de ferro do Pinhal Novo a Cacilhas; mas que esse caminho ía tirar ao caminho do sul e sueste parte do seu rendimento, sem lhe dar as vantagens do transporte do peixe de Cezimbra, com que s. ex.ª tenciona beneficiar o caminho de ferro do sul e o paiz. (Apoiados. — Riso).

Desejo, pois, saber qual o motivo porque o sr. ministro das obras publicas rejeitou o requerimento do sr. Elliott e depois concedeu ao sr. Filippe de Carvalho aquillo mesmo que negou ao sr. Elliott?

N'esse sentido mando pura a mesa o seguinte requerimento. (Leu.)

O sr. Ministro do Reino (Rodrigues Sampaio): — Ainda bem que sou accusado sómente de ter nomeado uma commissão pelo interesse da arte; confesso esse peccado, era a arte e nada mais que ou desejava aperfeiçoar.

Quando nomeei a commissão, e tenho tambem o prazer de o dizer, segui, embora o illustre deputado diga que não, o parecer d'ella para não abrir o concurso por mais de um anno.

Se a commissão era tão boa e me aconselhou isto, não sei que mal praticasse eu em seguir o seu conselho.

O governo não descura esse assumpto, sem comtudo eu deixar de dizer que as opiniões do illustre deputado, embora conformes em certo ponto ás minhas, a respeito da administração por conta do governo, não são partilhadas por muitas pessoas competentes. (Apoiados.)

O protesto por ora é mal cabido. Tomara eu não administrar cousa alguma; é esse o meu desejo. Administrem aquelles que melhor possam administrar.

Isto quanto á questão do theatro de que te trata; e visto ser tão fervoroso o desejo do illustre deputado, ainda que não venha tão cedo, como deseja, a proposta, creio que não terá impugnação, quando não sei... não digo... quando ha tanto desejo d’ella ser approvada.

Quanto ao assumpto de Coimbra, direi ao illustre deputado que me fez ha dias a fineza de me perguntar se eu sabia o que havia a este respeito, e que lhe disse que sabia o que se tinha dito pela imprensa, mas que não sabia nada officialmente, que n'esse mesmo dia telegraphei ao governador civil de Coimbra, que me diz o seguinte:

«Não ha demolição alguma, a camara projecta reformar os paços do concelho ou construir outros de novo, e a imprensa começou a gritar que se ía arrazar Santa Cruz. Nem sequer ainda ha projecto para os paços, e nem sei mesmo o que a camara deliberará sobre o assumpto.»

Em carta particular o mesmo governador civil diz-me o seguinte:

«O que se tem escripto a respeito da demolição de Santa Cruz é um desproposito e um disparate; não ha fundamento para nada d'aquillo que se inventou só para fazer bulha.

«As repartições publicas estão n'um lanço do antigo convento da Santa Cruz, e estão lá ha muitos annos; mas as suas condições são taes que uma das mais urgentes necessidades é reformar o edificio para ellas, ou fazer outro de novo, mas uma e outra cousa se póde fazer, e com certeza se faz sem tocar na igreja de Santa Cruz, nem nos ["claustros que têem merecimento historico e artístico,

Sessão de 15 de fevereiro