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O vinho do Douro até 1700 quasi que não foi conhecido em Inglaterra; nos registos das Alfândegas de Portugal, e dos de Inglaterra ate ao anno de 1567 não appareceram vestígios de entrar ou ir para Inglaterra nem uma só gota de vinho de Portugal ; pouco antes de 1700 era tão pouco o vinho que ainda entrava em Inglaterra, que quando se convidavam dons amigos para beber uma garrafa de vinho de Bordeaux, se dizia, e talvez appareça uma gota do do Porto: as primeiras exportações que se fizeram para Inglaterra foi ate' quinhentas pipas, e este era para misturar com os vinhos de França, que, juntamente com os de Florença, eram os únicos que se bebiam em Inglaterra, e que alli eram conhecidos; aconteceu haver uma grande escacezde vinhos em Florença, e d'ahi resultou, juntamente com outra causa que vou contar, o crescer alguma cousa esta exportação de Portugal para Inglaterra; est'outra causa foi que o cornmercio em geral entre Inglaterra e Portugal, que ate ao tempo do Protector, e de D. João IV se fazia por meio de sobre cargas que vinham ern navios a Portugal fazer corn-rnercio , e voltavam para Inglaterra, pelo Tractado feito entre as duas Coroas em 1645; estas sobre cargas estabeleceram-se como feitores no Porto, estabeleceram-se casas de comtnercio, e mais tarde estes feitores inglezes para fazerem o retorno do pro-ducto das fazendas inglezas que importavam, principiaram a comprar vinhos, e os mandavam para Inglaterra; em 1702 em consequência da guerra entre Inglaterra e a França, faltaram os vinhos de França em Inglaterra, e então voltaram-se para Portugal, e principiou a crescer a exportação do nosso vinho do Porto. No anno seguinte, em 1703, celebrou-se entre D. Pedro He a Rainha Anna um Tractado de Cornmercio, e' conhecido pelo nome do negociador, que foi Melhuen ; este Tractado que introduziu em Portugal as fazendas de lã inglezas, e outras mercadorias com grande favor de direitos, também se obteve em troca desse favor uma diminuição no direito do nosso vinho, que ficou pagando 27íibras, em quanto os vinhos francezes pagavam 56 libras, isto é, um terço menos, entào augmentou muito o cornmercio dos vinhos, não só por esta diminuição de direitos, mas porque os Inglezes se viam obrigados a leva-lo em troco das muitas fazendas que mettiam ern Portugal, cornmercio que foi augmentar o da Gram-Brelanha a ponto, que sendo nos annos anteriores apenas montante a trezentas m U libras subiu a um milhão e trezentas mil libras; daqui resultou lambem o augmento do preço do género, o qual de duas libras subiu a quatro, cinco, seis, sele, e mais/libras sterlínas. Assim foram crescendo os tempos até que os Inglezes estabelecidos no Porto fizeram uma espécie de sociedade, compraram uma casa para as sessões dessa sociedade, á qual pozeram o nome de Feitoria, e d'ahi vem o nome que se dá ao vinho fino, etc. augmen-tando o coinrnercio dos vinhos de Inglaterra deste modo, e por e«tas causas; a cultura porem do vinho genuíno do Douro não tinha augrnenlado, já não podia supprir as necessidades do commercio; por que ern quanto os pedidos deste cresciam, a produc-ção era a mesma. Estes mesmos, feitores ensinaram os lavradores a misturar esse vinho fino com os vinhos fracos'do mesmo Douro, aqui está o primeiro ponto de adulteração ; e os próprios negociantes en-VOL. 3.°—SETEMBRO—1842.

sinarani aos lavradores, que para darem cor ao vi-^ nho fino que a perdia pela mistura dos vinhos fracos, que lhe misturassem baga de sabugueiro, aqui está a segunda adulteração; com estes ingredientes e misturas inventaram-se outras, de modo que ern 1727 o vinho do Douro que ale alli era em Ingla-erra considerado corno medicinal e estomacal como muito próprio para a conservação da saúde dos inglezes, foi declarado pelos médicos inglezes como venenoso, isto em 1727, então principiou a decahir inteiramente o credito dos vinhos do Porto; é preciso não perder de vista a consequência que já aqui se pôde tirar (e isto e' muito itirportante para o que depois tenho a dizer), que o descrédito provem, não dos lavradores que eram innocentes, rnas das pérfidas insinuações que lhe ministraram os negociantes inglezes; este descrédito foi augtnentando ao mesmo tempo que crescia a producçâo, não natural, mas a artificial das misturas; e em 1754« chegou a ponto tal, que uma pipa de vinho que já nos anteriores tinha chegado até ao preço de dezesete e dezoito libras estava a três libras, e não havia quem o qui/esse.

Aconteceu que acolheita de 1755 apresentava um aspecto das melhores até alli conhecidas, não só na abundância, mas em qualidade; os negociantes inglezes de feitoria que quizeram tirar um grande resultado desta novidade, quizerarn compra-lo, mas por bai\o preço, e corn esse fim conloiaram-sè no Porto, e disseram para o Douro que não iam comprar vinho nenhum, que não tinham necessidade delle, que o vinho estava desacreditado em Inglaterra, que já se não consumia, e que elles o que desejavam era venderem os seus depósitos ; os lavradores ficaram assustadbsirnos, não havia mais concorrentes, e com esta noticia correram ao Porto, pediram, choraram, e rogaram aos feitores inglezes que lhe comprassem o vinho , e elles decididamente lhe disseram que não queriam vinho, e que só lho comprariam a cinco ou seis mil réis á pipa ; os lavradores desesperados corn esta resposta recorreram ao Governo, e então veiu á idéa do grande homem que estava á testa dos destinos desta Nação o estabelecer a Companhia, e publicar essa serie de Legislação que forma urn systerna, que quem o estudar, quem o conhecer, quem entrar em todos os seus detalhes ha de reconhecer que é o systerna mais maravilhoso e rnaís bem combinado que tem appa-recido neste género.

A Cumpanhia creada como um poderoso concorrente, a Companhia creada para conservar a pureza dos vinhos, a Companhia creada para conservar a pureza das agoas-ardentes, com que os vinhos deviam ser adubados para se não arruinarem , e daqui vem o exclusivo delia para que Os vinhos fossem temperados com a agoa-ardente própria para lhe conservar a pureza.

Sr. Presidente, desde o momento em que a Companhia se estabeleceu armada com toda esta Legislação, o commftrcio dos vinhos augmentou, ganhou nome, produziu a prosperidade daquelle Paiz, a grandeza da Cidade do Porto, e balanciou quasi sempre todo o nosso cornmercio com Inglaterra: todos sabem quanto carecemos de dados estatísticos em todos os ramos de publica administração; e certamente sendo este um dos roais importantes, não pedia bem calcular-se a importância das medidas