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1188 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Seria assombroso, mas era tão assombroso como o que nós estamos vendo. (Apoiados.)

«Palavras, palavras, palavras», dizia ha dias um illustre deputado desse lado da camara, o sr. Barbosa Vieira, defendendo o projecto da conversão. Consinta-me v. exa. que eu agora, parodiando este illustre deputado, o que é menos do que imitar o genial auctor do Hamlet, brade: «dinheiro, dinheiro, dinheiro! fechando na triangulação que estas palavras marcam a expressão ultima e essencial de todo o plano d´este governo, que, entrando no poder para levantar o paiz da sua situação, que já não era boa, teve a rara habilidade de a converter de má em pessima.

Dizia o illustre deputado que o mal vinha de longe, vem, sr. presidente, mas força é reconhecer que se aggravou e recrudesceu com a má administração, com a errada administração deste governo, administração que ficará asigualada na nossa historia como um dos maiores flagellos que se tem imposto a este bom povo, que resignado sofre e tolera, com uma paciencia que ultrapassa os limites, todos os damnos que a incuria, o desleixo e incapacidade Administrativa dos seus governantes lhe estão causando. {Apoiados.)

E todavia, sr. presidente, o povo é soberano, na formula da constituição e na phrase dos políticos; mas triste soberania a sua !

Definiu-a bem um dos nossos mais talentosos poetas contemporaneos, quando escreveu estes bellos alexandrinos:

E o povo... o povo é rei! É rei, como Jesus,
Para beber o fel, para morrer na cruz.

Lisonjeiam-no, deplorando-o: mas exploram-no, arrancando-lhe a ultima migalha!

E para que, sr. presidente? Para melhorarem a situação do paiz? Evidentemente não, porque este addcional, que é um dedal de agua quando posto em confronto com o mar vasto das muitas despezas e dos esmagadores encargos da divida publica, é todavia uma violencia imposta aos contribuintes, ao paiz, sem exclusão dos pobres, porque o limite de isenção é sómente até 1$000 réis de imposto.

Para que é, pois? Sómente para acudir provisoriamente a algum novo rombo da nau do estado, e assim lhe assegurarem mais uns dias de navegação com a sua tripulação a bordo. (Apoiados.)

E o egoismo, dissimulado pela hipocrisia, que os move.

«Onmis homo mendax», diz a Biblia. E é na politica, sobretudo na politica, que os homens mais se encarregam de demonstrar a triste verdade que aquellas palavras encerram.

Ainda ha instantes, o illustre deputado, o sr. Alpoim, meu conhecido e amigo velho, desde os tempos de Coimbra, cujo caracter por isso conheço e tenho na mais elevada conta, nos dizia, ao começar o seu discurso, que afastaria do debate tudo o que fosse do caracter puramente politico; que cuidadosamente se absteria de azedar a discussão com velhos processos de retaliação politica, que na actual conjunctura, mais do que nunca, reprova: e todavia, sr. presidente, o que é que nós presenceamos durante todo o decorrer da sua brilhante oração? O desdobrar de uma violenta diatribe contra a administração dos seus antagonistas politicos, fulminada numa intensa violencia de phrase, onde aliás os primores da sua educação nada sofreram, mas onde nem por isso o seu azedume politico contra os seus adversarios deixou de vivamente transparecer.

Escutando-o, dizia eu commigo: boas promessas têem elles, mas compril-as ahi é que está o difficil.

(Riso}.

E depois, que singular preoccupação tambem o de alguns dos homens da nossa politica, quando imaginam que a maneira mais efficaz de defender os seus erros, ou os dos seus amigos, consiste em descobril-os iguaes ou parecidos nos seus censores!

Mostrar o que nisto ha de absurdo e até de inconveniente parece-me dispensavel: limitar-me-hei, pois, e por agora, a deplorar que a taes processos, cujo unico enfeito é o desconceito crescente sempre dos nossos politicos e das nossas instituições, não soubesse ser superior quem, na elevação das suas qualidades, tão facilmente acharia maneira tão outra de conduzir o debate.

Estranhou muito o illustre deputado, que defendesse o addicional o sr. Teixeira de Vasconcellos, que vivamente defendera o de 1890. A intelligencia d´este meu amigo e distincto orador, e a sua pratica parlamentar que faz que já não haja artificies que o colham de surpreza, deixou lhe prever este golpe contra o qual s. exa. soube prevenir-se com pericia de superior esgrimista. (Apoiados.)

Apesar d´isso, porém, apesar do argumento estar previsto e antecipadamente rebatido, não deixou de vir. Era um effeito rhetorico a tirar e a opportunidade não podia perder-se. O argumento estava antecipadamente desfeito, completamente annullado, no confronto brilhantissimo que o illustre deputado e meu correligionario politico, o sr. Vasconcellos, fizera em commovedora eloquencia (Apoiados.}entre a quadra de 1890 e a presente, justificando assim a sua these de que os processos hoje deviam ser outros, e que expedientes reputados bons noutros tempos, deviam ser postos do banda actualmente como peiores do que é sufficiente para serem desastrados e prejudiciaes. Pois bem, apezar de tudo, como já disse, o tal argumento veiu. Não produziu enfeito, é certo; mas o formulal-o era empregar palavras, e fallar póde ter a apparencia de defender o addicional e o governo que o propoz, e cuja escassez de idéas e plano, e cujo erro é preciso dissimular em grande copia do discursos congestionados do phrases e de louvores, phrases que nada exprimem, louvores que antes deprimem do que engrandecem, pelo muito que são immerecidos. (Apoiados.)

O sr. presidente, se isto fosse maneira de argumentar, então perguntaria eu tambem ao illustre deputado como é que comprehende que o seu partido, que em 1890 tanto impugnou o recurso ao addicional, seja quem, nas presentes circumstancias, tão miseraveis e tão afflictivas, venha propol-o, renunciando assim o seu programma de out´rora. Se isto fosse maneira de argumentar, então perguntaria eu ao illustre deputado qual foi a sua propria attitude em 1890 a respeito do seu partido e do addicional que então se propoz e votou. Discordou o illustre deputado da condacta então seguida pelos seus correligionários, e apartando-se d´ellos votou o addicional? Não consta; não venha pois s. exa. agora arguir incoherencias que não existem, ou, se existem, nada exprimem, porque incoherencias reprehensiveis só conheço as que se dão entre a consciencia o a palavra ou os actos (Apoiados}; e discuta, se quer e póde, o addicional que se propõe sob o ponto de vista da economia e do interesse publico, cuja melhoria deve ser a unica preoccupação de parlamentos e governos, se elles querem ter direito ás bênçãos d´este paiz. (Apoiados.}

Contraponha argumentos a argumentos, factos a factos, dados a conclusões a conclusões, e usando do seu talento, mostre-nos, se podo, que o paiz está em condições de supportar novos aggravamentos de impostos sem o risco de morrer de fome, e que este addicional é a salvação publica, e eu declaro desde já a v. exa. que se me convencer ficarei com a alma contente, e, se o governo carecer cara a defeza do seu plano de mais uma voz, aqui está a minha (Apoiados) escassa em recursos, mas inspirada na sinceridade, para o applaudir e defender.

Não tinha a honra de ser deputado em 1890, e só muito depois d´isso, em 1896, me coube pela primeira vez a distincção de vir á camara. Não assisti, pois, á primeira das sessões a que me referi, e por isso não posso testemunhar sobre o que em 1890 se passou na camara. Snpponhamos,