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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS 2248

O sr. Marçal Pacheco: - Eu não abusarei da benevolencia da camara, á qual agradeço a prova de deferencia que acaba de dar-me. Direi apenas duas palavras.
Eu creio que puz a questão nos seus devidos termos, nos que devem e podem ser menos desagradáveis para ambos os lados em que estão agrupados os membros do antigo e extincto partido regenerador. Eu podia chamar seismaticos e rebeldes aos assignantes deste manifesta.
Podia allegar que do meu lado estava a bandeira do partido regenerador. Não o quiz fazer, porque não tinha o direito de o fazer. Mal parece que aquelles, que têem tanto direito como eu; não se lembrem de ter, igualmente, a mesma prudencia.
O sr. Lopo Vaz acaba de dizer: «que o partido regenerador não morreu, que a maioria d'aquelle partido está d'aquelle lado, que era quanto houver homens que sustentem as tradições honradas d'aquelle partido, elle não morres.
Mas não attende o illustre deputado a que eu posso dizer o mesmo?! Então, o que se segue é que ha dois partidos regeneradores (Apoiados.) Apoiados?! Mas é supinamente unico dizer que ha dois partidos regeneradores! Mas então, com quanto do velho partido fica cada um dos dois novos? Com metade?! Com dois terços?! Com tres quintos?!
Francamente, parece-me que esta não é a maneira mais conveniente e rasoavel de collocar a questão.
O intelligente e illustre deputado, o sr: Lopo Vaz, está convencido, de que tem pelo seu lado a maioria do partido1 regenerador; (Apoiados) mas se ao intelligente e illustre deputado o sr. Lopo Vaz, e aquelles que o apoiam, se lhes perguntar onde está a prova dessa convicção) hão de ver-se profundamente embaraçados.
Qual foi o censo eleitoral? Quaes foram as categorias approvadas para a eleição do chefe do partido regenerador? Onde estão os que as approvaram? Quem lhes poz a corôa da infallibilidade na cabeça? Quem os fez cardeaes? Quem lhes deu similhante auctoridade? Por que hão do. ter os illustres deputados mais direito do que eu, e aquelles que estão deste lado? Querem ser opportunistas, sendo radicalmente conservadores, e de vez em quando liberaes?! Mas nós podemos dizer o mesmo ou cousa equivalente. Somos radicalmente liberaes e opportunamente conservadores. (Riso.)
A questão é mais lamentável e mais desgraçada do que a muitos parece. Ha de influir certamente no regimen político do paiz e no modo de ser de todos os partidos. Convém dizer as cousas como ellas são.
Os factos fundamentaes são estes.
Homens importantes, altamente distinctos pelos seus talentos e qualidades, aggremiaram-se, constituiram um grupo, elegeram um chefe. Estavam no seu plenissimo direito. É o seu chefe. Outros homens, que, excepto eu, são tambem importantes pelos seus talentos e qualidades, que têem tambem valiosos serviços prestados ao partido esse paiz, esses homens formaram outro grupo, e se amanhã constituírem um centro, ou elegerem um chefe, estão tambem no seu direito. Qualquer d'esses grupos, porém, não é o partido regenerador, por que o partido regenerador não tem duas- faces, como Deus Jano, uma, voltada para a idéa liberal, outra, para a idéa conservadora. O partido regenerador era constituído, como todos os partidos, por uma aggremiação de homens públicos e não por um conjuncto de idéas abstractas, exclusivamente. Desde que esses homens se separaram, se não poderam entender, e num ponto tão capital como o da presidência do partido, é claro que esse partido deixou de existir. Esta é a verdade incontestável.
Disse o sr. Lopo Vaz que morto Fontes Pereira de Mello, nenhum dos homens que ficaram ousará, em merecimentos, rastejar-lhe pela sombra.
Seja, que nisso vae o elogio do novo chefe...
Não havia quem podesse substituir a grandeza de Fontes Pereira de Mello?!
Quero crel-o. Mas quem nos diz que amanhã, mais tarde, não apparece um homem como Fontes Pereira de Mello? Pois ha um só genio? A constellação das glorias não admitte a possibilidade de um outro nome? Pois antes de Fontes Pereira de Mello não houve Rodrigo da Fonseca Magalhães, não houve Passos Manuel, Costa Cabral e Duque de Saldanha e tantos outros homens, que com os seus talentos incontestáveis, com os seus serviços relevantes, honraram este paiz e os partidos que dirigiram?
E se a historia regista estes nomes, porque não havemos de admittir a possibilidade de apparecer amanhã, no futuro, um homem que, pelos seus ascendentes politicos e pela sua importancia, se imponha ao espirito e á consideração dos seus correligionarios, pela superioridade dos seus merecimentos, pela proeminencia dos seus talentos?
E a propasito das opiniões antigas do novo chefe, lamento sinceramente que o meu amigo e talentoso collega, o sr. Lopo Vaz sinta a cruel necessidade de dizer que não tem nada que ver com as opiniões d'aquelle distincto escriptor, antes de ser seu chefe.
Parece que e preciso correr um traço de pena por cima do passado do sr. Antonio de Serpa para elle se poder acceitar, como chefe! Triste confissão!
Depois, sr. presidente, porque é que se fez o novo chefe? Que necessidade havia para essa eleição, agora, que os trabalhos parlamentares estão a concluir? Era inadiável a sua escolha. Era urgente, dizem.
Mas quem lhes deu o direito aos illustres deputados de se julgarem aquelles que podem e devem exclusivamente, decidir do que é inadiável ou urgente resolver rio partido?
Porque são os senhores esses juizes e não ha de pertencer essa qualidade aos homens que entendiam não ser agora a occasião opportuna de eleger o chefe? Porque não ha de a opinião d'estes prevalecer, e ha de prevalecer a de outros?
Uma voz: - Cada grupo fica com a sua opinião.
O Orador: - Logo, não ha partido regenerador, ha um grupo de um lado e outro do outro.
Sr. presidente, depois das declarações de um e de outro lado, não ha necessidade de mais explicações e de mais replicas. Mas fica assentado um ponto essencial e é que quando fallarem no seu chefe, no uso do seu legitimo direito, não digam nunca que esse1 chefe é o chefe do partido regenerador.
Pelo menos, não o digam, estando eu presente.
O sr. Franco Castello Branco: - E se disserem?
O Orador: - Se disserem, responderei que levam alguma cousa do que é meu, sem o meu consentimento. (Hilaridade geral.)
O sr. Presidente: - A ordem da noite de hoje é a continuação da que está dada.
Está levantada a sessão.
Eram seis horas e um quarto da tarde.

Redactor - Rodrigues Cordeiro.