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SESSÃO N.° 6 DE 19 DE MAIO DE 1908 5

dos na vigencia da administração regeneradora-liberal.

Não ha duvida que á volta do novo Monarcha se criou uma atmosphera de sympathia rara.

D. Manuel é novo, é um adolescente que teve a vantagem de não ter sido educado propositadamente para o cargo de Rei.

É intelligente e tem a natural ambição dos que começam.

Aquelles que com tanto calor apoiam os successivos actos de dedicação a El-Rei, recommenda elle, orador, pas trop de zéle, sob pena de verem perdida a sua obra.

A primeira obrigação a que, acima de tudo, D. Manuel deve attender, é ser amante do seu país.

É preciso que lhe queira bem e que lhe queira muito; que o seu coração bata com o do país; que, numa palavra, acima de tudo seja um bom português, como Eduardo VII é um bom e o primeiro gentleman inglês.

Em segundo logar é necessario que sacrifique todo o seu tempo, todo o seu cerebro e, se for preciso, toda a sua vida, para defender a liberdade e as nossas instituições constitucionaes.

Conta-se que D. Manuel I, o Venturoso, ao subir ao throno, concentrara o seu ideal politico na figura de D. João II, que com braço herculeo subjugara para sempre as tentativas feudaes da nobreza nacional e continuara a serie dos descobrimentos maritimos que haviam de levar o nome português ao Cabo da Boa Esperança e mais tarde ao Oriente.

E embora a figura de D. Manuel I nunca pudesse igualar o grande vulto politico de D. João II, o certo é que elle soube intelligentemente proseguir na obra do seu predecessor.

Emquanto as naus portuguesas aproavam ao Oriente, lançava elle nos saraus esplendorosos do Paço da Ribeira, que bem podem comparar-se na pompa e na indole artistica aos das Côrtes dos Medieis e dos Valois, os fundamentos da nossa arte dramatica e musical.

Ao novo Monarcha cabe certamente outro ideal politico, em satisfação do qual Elle deve sacrificar todos os minutos livres da sua afadigosa vida.

Esse ideal politico não é, nas exigencias actuaes, o vulto de D. João II, mas singelamente o de D. Pedro V. (Vozes: - Muito bem).

(O discurso do Digno Par publicar-se-ha na integra quando S. Exa. se dignar devolver as notas tachygraphicas).

O Sr. Presidente: - Vae passar-se á ordem do dia.

ORDEM DO DIA

É lido na mesa o parecer n.° l, relativo ao projecto de resposta ao Discurso da Coroa.

É do teor seguinte:

Dignos Pares do Reino e Senhores Deputados da Nação Portuguesa. - O mesmo sentimento humano e civico une a todos neste momento e neste recinto - a dor que revive do transito crudelissimo de meu Pae e Irmão, do nosso Rei e Principe.

Não me cabe tecer louvor á memoria do Monarcha extincto, nem tão pouco á esperança posta em Aquelle que lhe herdaria tradições e nome. Invoco esse passo tremendo de martyrio neste primeiro encontro da Coroa e do Parlamento, como sinal de alliança que empenhe a todos na paz e no progresso da nacionalidade.

Sobre o doloroso transe convergiram as sympathias dos Chefes de Estado, das corporações, da imprensa de todo o mundo civilizado, num brado unisono de humanidade e justiça. Do coração maguado do país brotou o protesto de lealismo e devoção á Familia Real e ás Instituições que refirmou as tradições antigas da união do Povo e do Rei. Seja esta agora que, congregando as energias de todos, num esforço supremo, nos avigore para suster o peso das responsabilidades do poder e dos destinos do país.

Essa nunca vista fatalidade fez-me subir ao throno no cumprimento de um dever dynastico e nacional. Da missão, tenho fé em Deus e em vós, representantes da nação, que bem sairei; tenho fé de que concorrerei comvosco para a felicidade do reino, a que toda a Minha vida e acção estão, d'ora avante, inteiramente devotadas. Buscarei inspirar-Me no exemplo dos imperantes que são para gloria da Monarchia e bem das nações, lição viva na arte de reinar; e reinarei, protesto-o, como manda a lei.

Vivemos na paz e amizade das Potencias, que ha bem pouco ainda nos enviaram Principes e missões a tomar parte em nossas dores e infortunio; da Inglaterra, nação alliada, e da Espanha, vizinha e amiga, nos visitaram tambem representantes de suas esquadras. No Brasil, nação irmã, as manifestações attingiram quasi a grandeza de um luto nacional. A todas agradecemos de coração bom reconhecido tão significativos testemunhos.

Tudo nos permitte affirmar que é segura a situação de Portugal na politica externa. Como demonstração da cordialidade d'essas relações, sempre que as circunstancias o teem permittido, com muitas assinámos tratados de arbitragem. E na defesa d'este elevado principio, como norma internacional, se empenhou a nossa representação diplomatica perante o Congresso da Haya.

Senhor. - A Camara dos Pares associa-se, commovidamente, á dor que alanceou o coração de Vossa Majestade pela perda de Seus Augustos Pae e Irmão, Sua Majestade El-Rei o Sr. D. Carlos I e Sua Alteza Real o Principe D. Luis Filipe, e lavra o seu protesto de profunda indignação contra o execravel attentado de que foram victimas.

Esse passo tremendo de martyrio que Vossa Majestade invocou deu ensejo a que a Nação pudesse demonstrar, por inequivocos testemunhos, como é firme a união do Rei o do Povo.

A Camara dos Pares tem fé em que Vossa Majestade, chamado ao Throno no cumprimento de um dever indeclinavel, justificará no decurso do seu reinado as esperanças que os inicios d'elle tem despertado, e reinará sempre - consoante solemnemente protestou - como manda a Lei.

Foi lenitivo á dor que punge esta Camara o saber que as Potencias e entre ellas a Gran-Bretanha, nossa alliada, a Espanha, vizinha e amiga, e o Brasil, nação irmã, tomaram parte no luto nacional, compartilhando com effusiva solidariedade o nosso pesar.

A affirmação de que é segura a situação do Portugal na politica externa foi, como não podia deixar de ser, em extremo grata a esta Camara. No cumprimento de um dever constitucional dará a Camara toda a sua attenção ás convenções internacionaes que, antes de ratificadas, teem de lhe ser submettidas.