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412 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Sr. presidente, tratando do projecto em discussão, eu direi que, era logar de duas canhoneiras, eu quizera mais, mas que não houvesse nem um só pimpão, porque não é esse que nos ha de servir para as nossas colonias, e, emquanto aos barcos que se vão fazer ou comprar, oxalá que elles sejam como devem ser, e que a vaidade e o capricho de quem póde mais que os srs. ministros não venha transtornar a idéa de s. exas e não nos tragam barcos de ostentação e de luxo.

Não ha duvida em que a saraivada de projectos a pedir dinheiro é de assombrar, isso para ruim é de fé.

Mas, pergunto eu, quem tem a culpa disto? Têem todos; os governos e as maiorias; não me queixo das minorias, essas têem andado commigo, queixo-me das maiorias, dos amigos imprudentes principalmente, e da tendencia que os srs. ministros têem para prejudicar o credito e o nome dos governos. (Apoiados.) Mas, a verdade é que tambem muitas vezes são innocentes. Os peiores são os taes amigos.

O antecessor do sr. ministro pedia l.0OO:000$000 réis para reformar as nossas colonias, toda a gente se riu; nós que somos a segunda nação do inundo colonial!

Pois, sr. presidente, aquelle dinheiro foi abençoado, que chegou para tudo, para fazer grandes reuniões de pessoal, muitos engenheiros, muitos conductores de trabalhos, muitos empregados em trinta mil cousas, o para que? Para que podessem haver directores de obras publicas, com ordenados de 500$000 e 700$000 réis por mez! Pois isto é possivel? Póde lá ser? Empregados a ganharem 9:000$000 réis por anno!

Oh! sr. presidente, e v. exa. quer saber? O melhor é que ainda nem houve relatorio do que se fez o anno passado; ha de vir daqui a tres annos, quando já tivermos outra veia politica?

Ha contratos com engenheiros! ha ordenados de réis 9:000$000 annuaes! e adiantamentos de 12:000$000 reis! Quando doentes pagam pela sexta parte dos seus vencimentos, quando?

Agora s. exa. vae pedir-nos tambem mais 800:000$000 réis, e eu tenho pena, e tenho pena porque sympathiso com o sr. ministro, mas custa-me que venham pedir-se réis 800:000$000, para dar logo 400:000$000 réis ao pessoal.

Ouvi dizer que havia avanços de 12:000$000 réis: se é verdade, s. exas que o declarem, para que o paiz o saiba; se não é, que o desmintam.

Ha ordenados de 700$000 réis por mez! Quasi 9:000$000 réis por anno para um só homem!

Mas Deus não nos ha de pedir contas a nós, que queremos resistir a esta tendencia natural para augmentar as despezas.

Sr. presidente, no meio desta despeza enorme com o pessoal technico para as colonias, que vae absorver metade do que s. exa. pede, acontece que os desgraçados que foram aqui ajustados para trabalharem como operarios, e por ordenados pequenos, não têem recebido depois de lá estarem senão metade daquillo por que foram ajustados.

Mas isto acontece com os pequenos; porque para os outros fizeram-se abonações para serem descontadas pela sexta parte do soldo, que ainda que elles vivessem cem annos não acabavam de pagar.

Sr. presidente, eu peço licença para dizer que este embaraço nervoso de que alguns homens sinceros e grande parte do paiz se acham possuidos, e que os srs. ministros levam talvez a mal, foi tambem causado por s. exas, na maneira por que andaram naquelle negocio de Cacilhas, a que o povo chamou cacilhada.

E a rasão é simples: pelo decreto de 15 de março de 1875 foi concedida a linha férrea de Cacilhas ao sr. Filippe de Carvalho, um deputado da maioria que sustentava s. exa., e que era amigo intimo dos ministros, com a obrigação de concluir a obra em tres annos. No anno seguinte foi esta concessão augmentada com mudança da via estreita para larga, no outro anno houve mais a malfadada Quinta do Alfeite partida ao meio, e o concessionario ganhou mais um anno.

E veiu uma portaria de março de 1877, em que se dizia que as obras haviam de começar dentro de quatro mezes. Para que se queria que ellas começassem? Era para que, se não começassem, ser rescindido o contrato. Para isso é que foi a portaria.

Ora até hoje não me consta que as obras começassem, os quatro mezes já lá vão ha muito, logo este negocio morreu.

Foi isto o que eu pensei; agora, porem, vejo renascer este malfadado negocio no artigo 8.° do projecto que se discute, projecto em virtude do qual se vae fazer uma venda de favor, a quem quizer aproveitar uma grande propriedade, do estado pagando-a pela renda della.

Aqui tem v. exa. as rasões porque temos impugnado esta medida, e em especial o artigo 8.°, que está aqui para dar vida a uma concessão já morta.

Não tenho nada mais a explicar. Para mira está tudo explicado. Peço á camara me desculpe ter-lhe tomado tanto tempo, e o mal alinhavado da phrase, o que é filho do estado da minha saude.

O sr. Costa Lobo: - O illustre ministro da marinha começou novamente por insistir sobre a sua modéstia. Modesto, elle. É o seu fraco. Eu, porem, não disse cousa alguma para increpar a s. exa. nem a sua modéstia, riem a sua immodestia. O que eu disse foi que s. exa. se tinha apresentado com largos e pomposos projectos, e acabava por pedir um emprestimo.

Foi isto o que eu notei, o nem uma palavra proferi para declarar que o illustre ministro era ou deixava de ser modesto.

Mas, desde o momento que s. exa. provoca uma discussão sobre as suas virtudes, não posso deixar de estranhar que o nobre ministro, quando a primeira vez apresentou nesta camara o seu programma, julgasse dever incluir nelle a resolução da questão do Oriente, que actualmente tanto está fatigando a diplomacia da Europa.

Peço á camara que se recorde de qual era o futuro que, segundo a s. exa. se antolhava, estava reservado para Diu, a heróica Diu, dizia com enthusiasmo o illustre ministro. Era o avanço dos russos sobre Cambaia, portanto, a expulsão dos inglezes, portanto, a anniquilação da Inglaterra como potencia de primeira ordem. Depois disso a Russia construiria um caminho de ferro para Diu. E Diu, a heróica Diu, surgiria assim das suas ruinas sobre as ruinas da Inglaterra.

Invasão da Índia pela Russia, aniquilação da Inglaterra, um caminho de ferro para Diu, eis para s. exa., segundo me pareceu, a solução da questão do Oriente.

Mal se sabe lá fora que ha esta solução peregrina para a questão do Oriente, e que foi indicado nesta casa pelo ministro da marinha e das colonias de Portugal.

Similhantes arrojos da parte do sr. ministro podem levar algum sceptico a pôr embargos ao diploma que s. exa. se passa a si mesmo de refinada modéstia. A mim não, que tenho nella fé viva.

Creia s. exa. que nunca direi a menor heresia contra a immaculada natureza da sua modéstia, á qual tributo a mais perfeita homenagem. Não ha da minha parta o minimo desejo de contestar que é s. exa. o homem mais modesto que ha em Portugal e suas colonias.

O illustre ministro, depois de ter restabelecido os seus creditos de modéstia, começou a entoar o que eu chamarei a oração do cego do partido regenerador. Declarou que pertencia á escola politica que entende que o déficit só se póde extinguir por meio de melhoramentos materiaes que se introduzam no paiz, o que o partido regenerador tinha sempre seguido essa escola, procurando dotar o paiz com grandes melhoramentos. Numa palavra, s. exa. disse o mesmo que quasi diariamente se repete nesta casa, com relação ao systema de governo do partido regenerador, sys