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410 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

do parlamento nos aponta para as despezas exorbitantes, que, segundo ella diz, nos encaminham para um abysmo, que se ha de forçosamente abrir diante de nós!

Sr. presidente, eu respeito muito estes inculcados e avalumados temores da opposição, mas não renego os principios da minha escola, porque, como v. exa. sabe, ha diversas escolas politicas aqui.

Eu pertenço a uma escola politica que desde 1851 tem caminhado sempre inteiramente á borda desse abysmo com que nos quer atterrar a opposição, e á beira delle ou por cima delle, e ouvindo sem intervallos essas vozes agoureiras, tem traçado e construido todos os nossos caminhos de ferro e todas as nossas estradas; edificou a maior parto das nossas escolas e dotou o paiz com quasi todos os melhoramentos que nelle se encontram, e dos quaes já hoje está auferindo excellentes resultados.

É possivel que nós tenhamos gasto muito na nossa aprendizagem, mas é certo tambem que o grau do prosperidade a que temos chegado, é devido seguramente aos melhoramentos em grande parte iniciados pelo partido a que tenho a honra de pertencer.

Esse partido tem sido umas vezes muito popular e outras muito impopular, mas tom sustentado sempre os seus principios, tem-se regido por elles, e no dia em que o para entenda que este systema não é o verdadeiro, o partido regenerador não estará nem mais uma hora no poder (Apoiados.) para o deixar áquelles que a opinião julgar mais aptos para a governação do estado.

E digo isto por mim e pelos meus collegas. Realmente nós não temos o minimo desejo de nos impor. Se aqui estamos é porque entendemos que podemos ser uteis. Não temos outras ambições nem outro intuito.

Eu pedi ao parlamento que me deixasse mandar construir duas canhonheiras, pelo menos, e sabe v. exa. porque? É por que me consta, e consta a todos os dignos pares, que ainda temos possessões que se chamam Timor, Macau, India; na Africa oriental, Moçambique, e na Africa occidental, Angola, S. Thomé, Guiné e Cabo Verde, e ainda não sei que se tivesse podido realisar o milagre do passarmos a pé enxuto daqui para essas possessões, e ainda não soube que nenhuma nação que tenha colonias podesse passar sem navios.

No dia em que o paiz entenda que se póde transformar em capitão Boyton (Riso.) para ir sem auxilio de navios, ás nossas possessões e ali, com o rewolver daquelle insigne nadador nas mãos, sustentar o que até agora esta nação tem sustentado com as peças de artilheria que levam os seus navios de guerra, então não virei aqui pedir para construcção dos navios nem 200:000$000 réis nem 200 réis. (Apoiados.)

Antes disso, porem, não deixarei de satisfazer um dever dos mais impreteriveis, vindo dizer ao parlamento que é essencial que isto se faça. Eu não peço senão o que é essencial. Quer o digno par, querem os dignos pares, quer a camara que me ouve, que se deixem apodrecer os nossos navios nas estações em que estão, onde alguns já contam cinco ou seis annos, sem que ao menos se veja se os fundos desses navios estão em estado de servir?

S. exa. foi tão previdente que, adivinhando a minha resposta, disse que podiamos prescindir dessas novas construcções, porque quando estivesse estafado um navio dos estacionados por essas longínquas paragens de alem mar, esse navio, embora deixasse ali o nosso dominio sem guarda, podia vir a Lisboa, o aqui, ou em Inglaterra, ou noutra qualquer parte, fazer os reparos de que precisasse.

S. exa. não reflectiu certamente que temos deveres de honra a cumprir em toda a parte. Este conselho que s. exa. nos dava era o mais antipolitico que nos podia dar. Pois s. exa. não sabe que é necessario, para que não perigue a nossa honra e a nossa integridade da monarchia, vigiar que os tratados sejam cumpridos cabal e honradamente? Não sabe que somos por todos os viajantes que vão a Africa accusados de fazer o trafico da escravatura?

O sr. Costa Lobo: - Isso é no interior.

O Orador: - No interior, mas os escravos hão de vir á praia.

O sr. Costa Lobo: - O trafico faz-se no interior.

O Orador: - O trafico no interior, por força, mas os escravos hão de sair pelo litoral.

O sr. Costa Lobo: - Nem sempre.

O Orador: - Não creio isso. Parece-me que, se o trafico da escravatura se reduzisse ás compras que se fazem no interior, todas as nações que se têem colligado no intuito humanitário de acabarem com elle teriam já abolido os seus cruzeiros, e toda a sua fiscalisação costeira por inutil e mandariam para o interior os seus empregados e soldados.

O sr. Costa Lobo: - O que nos exprobam os viajantes que teem explorado a Africa é que os nossos negociantes capturam negros para os venderem a muitas tribus do interior, onde está estabelecida a escravatura, a troco de marfim e outros productos.

O Orador: - É para revender; é para se dirigirem ás nações da America e ás republicas do Pacifico; aliás, para que os queriam no interior da Africa? Essas tribus tambem vão para o Egypto, onde a escravidão existe do facto e de direito, e com isso e fora do nosso territorio não temos que exercer fiscalisacão alguma.

Se s. exa. for um dia ministro da marinha, e é muito digno disso, de certo não sustentará a theoria que sustenta agora na sua cadeira de par do reino.

Perdoe-me v. exa., que eu, habituado desde 1861 aos combates da palavra, ainda tome calor, quando se falla dos negocios do nosso ultramar, e da nossa honra como nação. O modo por que o sr. Costa Lobo me aggrediu, tomou-me de surpreza, tanto mais, que o fez sem que realmente para isso tivesse rasão, porque não me accusa a consciencia de o haver tratado jamais com menos attenções o respeitos.

S. exa. diz: "mas não nos dá as contas e não nos traz aqui o seu orçamento". É verdade, ainda não ha essas contas, mas espero em Deus e tenho fé na minha boa vontade, que hei de um dia apresentar-me ao parlamento, conhecedor de todas as despezas e receitas do ultramar, para poder dar esclarecimentos ao digno par e a todos os dignos pares que os requererem.

Devo, porem, lembrar ainda uma cousa. Esta despeza com os navios não é do ultramar. Nada tem com este projecto as contas a que o digno par se refere.

Chamo agora a attencão de s. exa. para um documento publicado em 1876, no qual vem o mappa geral das receitas e despezas das provindas ultramarinas, relativamente ao anno de 1875-1876.

(Leu.)

O sr. Costa Lobo: - Não foi distribuido nesta camara.

O Orador: - Nesse tempo não era eu ministro.

Aqui se encontram as contas a que s. exa. se referiu, e que parece desconhecer; aqui está descripto o que naquelle anno rendeu cada uma das provincias do ultramar.

Não leio agora todo este documento, porque é bastante longo, e me parece impropria a occasião, visto que não tratámos de uma despeza do ultramar, mas de uma despeza da metropole, no que ha differença. Entretanto, estas contas ficam á disposição do digno par e de toda a camara, se desejarem examina-las. São um documento official e authentico.

Sendo preciso dizer mais alguma cousa neste debate, tornarei a pedir a palavra; por emquanto tenho concluido.

O sr. Marquez de Vallada: - Pouco acrescentarei ao que disse o sr. Costa Lobo; mas permitta-me o nobre ministro da marinha declarar-lhe, que, em vista das palavras que s. exa. proferiu, dos factos que apontou, e das considerações que fez, tenho profunda convicção de que o governo deve estar arrependido da pressa que mostrou em substi-