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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 343

niscencia dos meus collegas que testemunharam a minha asserção) "que todos elles ministros tomavam a responsabilidade das medidas do sr. conde de Samodães". Pois não foram ellas discutidas em conselho de ministros? Não ha uma lei decretada, me parece, no tempo do ministerio do sr. duque de Saldanha, quando se creou a presidencia do conselho de ministros, na qual se estabeleceu e determinou que medidas de certa importancia não haviam de ser tratadas unicamente por um ministro, e sim de accordo e harmonia com todos os membros do gabinete? Isto, sr. presidente, não foi mais do que a consagração dos principios constitucionaes; e portanto todas as medidas do sr. ministro da fazenda não eram só da sua responsabilidade, mas igualmente da de todos os seus collegas. No entanto desappareceram os srs. ministros da justiça e da fazenda, e ficaram os outros seus collegas, e desappareceram apesar do nobre presidente do conselho, o sr. marquez de Sá, acabar de dizer nesta camara, que nunca viu maior probidade nem desejo tão ardente de bem servir o seu paiz como o mostraram os dois ministros demittidos! Pois apesar de tudo isto uns ministros ficaram, e aquelles dois sairam, pela intimação dos jornaes republicanos que defendem o governo (O sr. Rebello da Silva:- Apoiado). A monarchia que lhe agradeça. Não se querem conservadores no poder, mas querem se republicanos! Forniam estes um partido, e é um partido, e eu respeito as idéas de qualquer partido que for.. Se a republica se estabelecer é mister acata-la; mas em tudo e por toda a forma é preciso que as cousas sigam .º seu caminho natural. Quando se sae do caminho constitucional vae-se direito ao abysmo. Neste ponto caiba a responsabilidade a quem de direito toca.

Não tem o governo assento na camara para vir explicar seus actos? Dois dos srs. ministros desappareceram e os outros não!... Como foi isto? Porque se não explicam as causas destas mutações?... Aventam-se; e digamos aqui toda a verdade, o sr. bispo de Vizeu é a alma do ministerio; é s. exa. que concentra em si todo o poder; e é portanto sobre elle que eu lanço desafogadamente toda a responsabilidade.

Não posso deixar de repetir, e de bem faze-lo sentir á camara, a declaração governamental de que, saindo o sr. conde de Samodães, os seus collegas o acompanhariam nesse acto. Mas que vemos? ... Saem dois, e diz-se que vae proceder-se a uma reconstrucção!

E cuidam, os ministros que ficam, que assim hão de melhorar as nossas finanças? Quem será o novo regenerador financeiro, o novo Colbert, o novo Sully, o novo Necker, o novo Turgot, que venha sentar-se nas cadeiras ministeriaes para pôr a direito a nossa fazenda publica? Quem será o homem que tenha a coragem de dividir os sacrificios por todos, desde o logar mais elevado até á choupana mais humilde? Se alguem apparecer com essa coragem, saudemo-lo, não como um talento fulgurante, não como louvor a uma pessoa, mas como a santificação de um principio, e de uma grande virtude.

Estou ancioso por saber quem será o novo reformador; mas sobre esta minha bem natural curiosidade, está o desejo sincero de que entremos deveras na verdadeira senda do governo constitucional.

Sr. presidente, não ha duvida de que por parte do governo, ou antes por parte do ministro influente, que é o sr. bispo de Vizeu, não se tem poupado cousa nenhuma, inclusivamente intimidações á coroa, para se conservar o poder! Pois o que querem dizer essas allusões aos festins de Balthasar, feitas numa reunião pelo sr. ministro do reino, allusões em que já aqui fallei?! Tenho pena que não esteja presente s. exa. para lhe perguntar onde são esses festins de Balthasar, e o sr. ministra devia responder-me, porque cada um ha de e deve tomar a responsabilidade do que diz. Ha o firme proposito de por todos os modos possiveis ter a corôa em coacção; é portanto preciso, necessario, urgente, que á mesma corôa se aponte quem é essa pessoa que a tem em coacção, e quaes os precedentes desse individuo. Deve sempre fallar-se a verdade ao rei e ao povo, porem nesta occasião, em que o perigo urge, deve dizer-lha nua e crua mais do que nunca.

Sinto realmente não ver presente a alma do ministerio, o homem que o vivifica com o seu halito, com a sua palavra, com a sua influencia e com a sua decantada popularidade. E notavel que muitos homens, que não querem ver nenhum padre, que aborrecem o poder temporal do papa, estejam tão contentes por ter por seu chefe um padre!... É verdade que o sr. bispo de Vizeu foi a Roma combater o poder temporal do papa, e por consequencia conquistou por esse lado as sympathias de algum patriotismo mal avisado.

Sr. presidente, os srs. ministros têem descurado tudo completamente, e eu chamo a attenção da camara e dos homens que se occupam dos negocios publicos para o artigo do Times do dia 26, chegado hoje, porque desejaria saber se ha algum documento (notem estas minhas palavras) a respeito do emprestimo, e se poderão cotar-se os fundos no stock-exchange.

Hei de exigir todos os documentos a respeito deste negocio, pois é necessario que não estejam diariamente a illudir-nos com telegrammas falsos e com promessas fingidas, e é mister saber-se toda a verdade. Eu hei de dize-la, para que se não continue a abusar da posição de ministro, sem respeito para com os poderes publicos, nem para com as leis. Hei de dizer a verdade toda, repito-o, e hei de insistir nella para que as minhas palavras vão echoar onde é necessario que se repercutam, e para ver se conseguimos assim que por uma vez, finalmente, se entre no verdadeiro caminho constitucional.

O sr. marquez de Sá já não devia estar ao pé do sr. bispo de Vizeu, porque todos sabem como o sr. ministro do reino trata os seus collegas. Isto não se póde tolerar, digo o com pezar meu, mas bem alto o digo, porque fiz tenção de dizer tudo. Se o sr. marquez de Sá já não está capaz de ser ministro, como diz o sr. bispo de Vizeu, deve sair, e o sr. bispo devia fazer com que elle fosse demittido.

Sr. presidente, não me admira que não se respeitem os cabellos brancos, quando não se respeita cousa alguma, quando nunca se respeitou nem a elevação da pessoa, nem a dignidade, nem a historia, nem a auctoridade; mas se teimarem, se presistirem, ha de haver a coragem de levar a defeza dos bons principios até ás ultimas consequencias, hão de apparecer documentos para nos justificarmos. Eu sinto e admiro que o illustre general, de quem sou amigo, e que me persuado está illudido, por que faço justiça ao seu honrado caracter, queira presidir a esta situação da maneira como os negocios caminham, e tendo ao seu lado o sr. bispo de Vizeu como ministro do reino!

Sr. presidente, presistamos na tribuna, e defendamos a liberdade até á ultima, tratando de illustrar aquelles que estão rodeados de nuvens negras através das quaes é difficil penetrar a verdade, e pratiquemos todos os esforços como bons portuguezes, porque a patria nunca careceu tanto dos esforços honrados dos seus filhos. Sr. presidente, é talvez chegada a occasião em que os pares do reino devem imitar os pares da camara ingleza e os membros de outros parlamentos, que se teem dirigido aos mais altos logares, e ahi face a face, com o chefe do estado, fazer-lhe conhecer toda a verdade e toda a gravidade da situação, e a responsabilidade que pesa sobre quem dirige os negocios do paiz, para que elle possa avaliar as circumstancias e prover de remedio prompto, porque quando elle vem tardio já não serve.

Sr. presidente, se as cousas continuam a caminhar assim, não direi que caminhamos para um abysmo, mas direi que caminhamos para a perda da nossa independencia, com a qual folgarão os inimigos de Portugal, e os portuguezes degenerados e ambiciosos que julgam que a união