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400 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

n'este ponto parece-me que todos estamos de accordo, porque o pensamento da moralidade nem é necessario hastea-lo, e o pensamento da economia de ha muito tempo que já estava no animo de todos, como mostram os factos ainda anteriores áquella manifestação. A idéa da economia intelligente e pensada entrou sempre no programma do partido politico que eu seguia e que continuarei a seguir. Principio este a que dou a maior importancia, e folgarei poder mostrar pelos meus actos que a minha convicção se traduz em realidades e não só em promessas vás e inuteis para o paiz.

O sr. Presidente: - Agora segue-se a palavra ao sr. marquez de Vallada; observo porém que o sr. ministro da marinha tambem a havia pedido...

O sr. Ministro da Marinha: - Cedo agora da palavra e fallarei depois do sr. marquez de Vallada.

O sr. Presidente: - Então tem a palavra o sr. marquez de Vallada.

O sr. Marquez de Vallada: - Sr. presidente, os annaes da humanidade registam em suas paginas certos factos que presistem na historia para gloria dos estados ou para ignominia dos povos, mais frequentes vezes para lição dos governos.

Se abro a historia não muito antiga encontro na França do seculo passado o desleixo na gerencia das finanças, ao mesmo tempo que uma guerra encapotada entre os partidos, estabelecendo invenciveis barreiras entre os homens que podiam prestar, pelo seu muito estudo e sciencia, grandes serviços ao paiz; porém, repito, essas barreiras invenciveis que os distanciavam, a par, direi tambem, do desleixo das finanças, conduziram a França á desorganisação completa dos laços sociaes, que se converteu pouco depois na tremenda revolução do seculo passado.

Sr. presidente, para que havemos de querer estabelecer barreiras invenciveis entre os homens de diversos matizes politicos? Para que renovar odios antigos? Para que ir buscar ao tumulo inimisades que devem estar para sempre ali sepultadas? Primeiro que tudo devemos attender ao estado do paiz, que é grave e muito grave, principalmente hoje, que, por assim dizer, os partidos parece terem esquecido a sua divisa, e o moto das suas bandeiras. Eu entendo, sr. presidente, que hoje todos os homens importantes dos differentes partidos devem saír a terreno, porque é necessario e urgente que o interesse do paiz se ponha acima de tudo. Portanto, sr. presidente, não vejo motivo para que se evoquem do passado as sombras que n'elle desappareceram? Para que renovar odios extinctos? Nós queremos, nós exigimos, e comnosco exige-o o paiz, o triumpho dos principios que fundam, protegem e presidem, mas na o dos que causam preconceitos e duvidas que destruem, abalam e passam. Seguramente sou eu um d'aquelles que tenho insistido ha muito tempo pela manutenção dos principios da solidariedade ministerial, e esta começa hoje para os srs. ministros; mas se ha a solidariedade ministerial, tambem ha a solidariedade politica entre os homens que se congregam para a defeza dos mesmos principios, e essa solidariedade existe entre mim e dois dos nobres ministros da corôa.

Existe uma especie de solidariedade politica entre mim e os srs. Rebello da Silva e Lobo d'Avila. Nós tambem somos solidarios, porque ha muito tempo que caminhâmos a par, a fim de chegarmos unidos ao mesmo ponto.

Não será portanto hoje, e seria até deslocado, impertinente e improprio de mim, que vendo entrar no ministerio dois cavalheiros com quem tenho estado de perfeito accordo politico ha muito tempo, e principalmente ainda mais depois de certa epocha, fosse eu agora fazer lhes perguntas que denunciassem desconfiança. S. exas. sabem que não devem esperar de mim este procedimento, porque sou leal.

Sr. presidente, a confiança não se exige, conquista se; e s. exas., pelos seus actos, pelas suas palavras e pelas relações que temos tido, já conquistaram de mim uma certa confiança.

Os outros cavalheiros, quaesquer que sejam as minhas relações anteriores com s. exas., não creio que, apesar de qualquer divergencia que porventura tenha havido entre nós, eu deva hoje relembra lo.

Vejo ali sentado um cavalheiro que me faz a honra de ser meu amigo, não direi amigo politico, mas amigo particular, ao qual retribuo com igual amisade, porque s. exa., apesar de ser um dos primeiros homens d'estado e de letras d'este paiz, é tambem um grande coração, e por isso não posso deixar de lhe tributar a maior consideração e a maior sympathia.

Em resumo. Vejo nos bancos do governo homens que pela sua experiencia dos negocios, pelos seus talentos e pela sua honradez, devem inspirar bastante confiança; e quaes quer que fossem em outro tempo as divergencias que houve com o sr. presidente do conselho, meu amigo e meu parente, creio que s. exa. não se julga obrigado a evocar essas divergencias politicas, que nunca comportaram em mim uma palavra contra a dignidade de s. exa. e até porque a missão dos ministros não é avivar antigos odios, mas promover os grandes melhoramentos de que o paiz carece, e a que tem direito.

Por consequencia, posta de parte qualquer idéa do passado, creio que no presente nós podemos congregar-nos de bom grado no campo da patria, em volta do estandarte das grandes reformas de que precisâmos, e sem as quaes poderemos perder a nossa independencia e a nossa autonomia. Eu creio que é permittido esperar isto da parte dos srs. ministros, porque confio na sua experiencia e nos seus talentos para poderem realisar grandes commettimentos.

Já s. exas. em outra parte deram explicações cabaes em resposta a certas perguntas que lhe foram feitas sobre pontos determinados, e até foram mais alem d'essas perguntas, principalmente o sr. ministro da justiça, que declarou a sua resolução de fazer grandes reformas no seu ministerio, e em pontos bastante importantes.

Não é agora occasião de tratar de tudo. Tempo haverá de tratar de cada cousa; do que nos devemos occupar primeiramente, antes de tudo, é da questão de fazenda (apoiados).

Estou certo que os srs. ministros, como homens verdadeiramente patriotas, como amigos do bem publico, hão de tomar aquellas medidas que são necessarias para saírmos da má situação em que estamos.

Sr. presidente, é necessario dizer a verdade toda, e não se perde por isso. Ouvi n'outra parte dizer ao sr. Mendes Leal que a franqueza era a sua divisa. Faz bem. Entendo que nada se perde com a verdadeira franqueza, quer seja na vida politica, quer na particular. Exponha se francamente o estado do paiz, e trate se de o remediar. Estou persuadido que os srs. ministros hão de ter estudado o remedio que devem empregar-se para sararmos os males que nos afflijem.

O sr. ministro da fazenda expoz com toda a clareza as suas idéas, e eu espero muito de s. exa. pela proficiencia com que tem estudado estas questões, e por ve-lo acompanhado de homens que têem estudado profundamente a questão financeira, como o sr. José Luciano de Castro, actual ministro da justiça, a cujo talento todos prestam homenagem; o sr. Joaquim Thomás Lobo d'Avila, homem de uma energia a toda a prova e de uma grande tenacidade, e cujo talento tambem todos reconhecem, e o sr. Rebello da Silva, que ainda ultimamente em longos e brilhantes discursos mostrou que se occupava não só da questão financeira, mas de todas as questões politicas que foram trazidas n'estas ultimas sessões á téla da discussão.

Portanto espero os actos do novo gabinete, não direi n'uma expectativa benevola, porque esta phrase considero a como uma ameaça de opposição, é uma especie de espada de Damocles que pende sobre a cabeça dos ministros, mas n'uma posição de confiança, não n'um ou n'outro dos srs. ministros, mas em todos.