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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 401

Faço justiça a s. exas. de que são bastante leaes as suas intenções para caminharem direitos ao fim que se propozeram, que é a regeneração, não prompta e immediata, mas gradual e segura das nossas finanças, o que é indispensavel. Eu não posso expor de modo algum o caminho que os nobres ministros devem seguir para chegar ao fim desejado; estou certo que hão de caminhar firmes, decididos e com persistencia, e por isso me abstenho de pedir quaes quer explicações. Pelo correr do tempo farei todavia uso de alguns estudos sobre certos e determinados pontos, como por exemplo, a questão do cadastro, de que prometti já occupar me largamente.

Eu entendo que uma das nossas primeiras necessidades a satisfazer, é proceder á formação do cadastro. Não ha obstaculo insuperavel que impeça á sua formação. Muitos homens notaveis, são d'esta opinião, e entre elles mr. Le brun, que, quando em França se quiz fazer o cadastro, mostrou que não havia impossibilidade em o fazer, e fez-se. E não foi só em França que elle se fez, em Roma e nos estados da Allemanha acha-se tambem realisada esta utilissima instituição.

É necessario fazer o cadastro para que as contribuições sejam distribuidas, com justiça e igualdade, e não pague cada um senão o que estrictamente deve pagar.

Não é portanto hoje a occasião de expor senão, para assim dizer, em curto summario, em curto esboço, quaes sejam as necessidades mais urgentes da situação a que cumpre attender.

Eu entendo que não são só os interesses materiaes que devem occupar a attenção dos srs. ministros; mas os interesses moraes. É por meio da inspiração das crenças que se realisa o bem do povo; o povo são todas as classes, os ministros não são ministros para classes, são ministros para o paiz.

Repetirei agora o que disse um illustre orador nas côrtes hespanholas, respondendo ao sr. Cortina. Fallo do sr. marquez de Valdegamas. Perguntava-lhe aquelle por que razão apoiava um ministerio que não era da sua côr politica, respondeu-lhe elle: «Não se trata hoje de côr politica, trata-se de salvar o paiz, e perguntarei ao sr. Cortina se as minhas idéas a que se refere estão na téla da discussão. Do que se trata é de um ponto á respeito ao qual estou de ac-cordo. Entendo que o governo tem uma nobre e generosa missão a cumprir, e devo auxilia lo».

Com aquelle illustre orador, e como elle, eu entendo que devo apoiar o governo, mantendo intactas as minhas crenças.

O homem politico, embora as conserve intactas e nutra no seu peito desejos de realisar grandes commettimentos; não póde, como homem politico, deixar de ver quando é prudente e opportuno levá-los á execução, porque a opportunidade é tudo em politica.

Nós podemos guardar ás nossas esperanças, mas não podemos exigir de prompto, e mesmo nunca, que se faça o que não houver possibilidade de realisar.

Assim é que deve pensar o homem politico. A prudencia deve presidir a todos os seus empenhos. Sem prudencia não se póde governar, e esta adquire se com o estudo da historia do passado e com a observação do presente; a historia do passado ensina o homem a conhecer o que têem sido os estados, o que n'elles tem occorrido, para poder assim aprender no futuro, e a observação do presente ensina o modo de o preparar.

Taes são, sr. presidente, os sentimentos que nutro em relação ao actual gabinete; taes são os votos que formo em relação á felicidade do meu paiz. Desejo sinceramente que o governo os possa realisar.

Pela minha parte concorrerei quanto em mim caiba para ajuda lo n'esse empenho, porque, ajudando o governo, possuido d'estas idéas, como estou persuadido e intimamente convencido que está, entendo que presto um serviço publico, concorrendo para isso com o obolo da minha acanhada e tenue intelligencia; porque se ella é o que confesso, a minha boa vontade é grande, e não cedo a ninguem em patriotismo.

Por consequencia aguardo os actos dos srs. ministros, e espero que elles corresponderão á grande confiança que eu e muita gente deposita em s. exas.

Estou persuadido que estas esperanças não hão de ser convertidas em desenganos; e se o resultado for como espero, os srs. ministros podem contar com o meu apoio, todo abnegação, todo patriotismo.

(O orador não reviu e seu discurso.)

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. ministro da marinha; mas devo observar á camara que já deu a hora, e é muito natural que os srs. ministros estejam fatigados em extremo; por terem já sustentado larga discussão na camara dos senhores deputados.

Por conseguinte, a camara resolverá se quer prorogar a sessão, ou se quer que ella continue ámanhã.

Consultada a camara, resolveu que se não prorogasse a sessão.

O sr. Visconde de Fonte Arcada: - Sr. presidente, eu desejava que v. exa. me dissesse se porventura á sessão se proroga ou se continua ámanhã.

O sr. Presidente: - A camara já resolveu que se não prorogasse a sessão. Por consequencia a seguinte sessão verificar se-ha ámanhã, e a ordem do dia será a continuação da conversação que hoje teve começo.

Está fechada á sessão.

Eram cinco horas e meia da tarde.

Relação dos dignos pares que estiveram presentes na sessão de 12 de agosto de 1869

Os exmos. srs.: Condes, de Lavradio, de Castro, Duque de Loulé, Marquezes, de Ficalho, de Fronteira, de Sá da Bandeira, de Vallada, Condes, d'Avila, de Avillez, de Fonte Nova, de Fornos, de Linhares, de Peniche, da Praia da Victoria, de Rio Maior, de Samodães, Viscondes, de Aligés, de Fonte Arcada, de Soares Franco, Mello e Carvalho, D. Antonio José de Mello, Rebello de Carvalho, Pereira de Magalhães, Silva Ferrão, Larcher, Moraes Pessanha, Reis e Vasconcellos, Rebello da Silva, Preto Geraldes, Menezes Pitta, Fernandes Thomás, Ferrer.