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Diário da Câmara aos Deputados

Do Núcleo Escolar da Chamusca, pedindo que seja aprovado o projecto de N. lei n.° 131.

Para a Secretaria.

Antes da ordem do dia

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Sr. Presidente: faz precisamente hoje 4 anos que um bandido, armado pelos ódios en-cendrados da nossa terra —e que, para vergonha do país e descrédito do regime, ainda goza da impunidade— prostrou, cobarde e traiçoeiramente, o malogrado português que se chamou Sidónio Pais.

(Apoiados das bancadas monárquicas).

Nesta hora que —apesar da cegueira de muitos os levar a não acreditá-lo— é de~luto e de saudade para muitos corações, e de respeitosa recordação para aqueles que, como nós, seus adversários políticos, sempre fizeram justiça às suas honestas e patrióticas intenções, eu, invocando a sua memória, faço-o sem preocupação política, sem o propósito de ferir as susceptibilidades, aliás injustificadas, dos republicanos adversários intransigentes desse republicano leal e valoroso, que, com a sua magia poderosa, congraçou, em redor do seu prestígio invulgar, quá-si uma nação inteira, do norte ao sul.

Basta recordar apenas as apoteoses que o cercaram e a imorredoura consagração do seu funeral.

j Tinha qualquer cousa de lendário esta interessante figura de cavaleiro andante!

E nós, monárquicos, somos insuspeitos relembrando-o,, porque se a Sidónio Pais fosse possível, dentro dum regime republicano, realizar a obra a que aspirava, essa obra seria talvez a obra da naçlío; e, assim, a monarquia poderia, porventura, não voltar a çer tam cedo um facto em Portugal.

Somos insuspeitos, pois.

É que, no nosso arraial político, mantemos sempre altiva a bandeira dos nossos ideais; mas, como portugueses que somos, com orgulho a abatemos em holocausto àqueles que bons e leais portugueses são. (Apoiados').

Não, Sr. Presidente! A invocação dos mortos não é arma adequada a retaliações políticas. Mas nós não podemos, nesta hora própria, deixar de mais uma vez lavrar o nosso veemente e indignado pro-

testo contra a infâmia que se comete mantendo em liberdade o assassino do Presidente.

Lembro à Câmara que neste dia, em memoração do qual certamente o abjecto sicário se banqueteia com os seus libertadores, que o mantêm em recato, não há apenas luto e dor em um Lar. Há também privações. Há, porventura, miséria.

E perante a dor e a miséria todos são iguais. Perante elas, todos devemos cur-varmo-nos, abstraindo de ideais, pondo à margem ressentimentos. (Apoiados).

Foi por assim o entende.? que esta casa do Parlamento, em uma unanimidade que a honrou, com o nosso voto e o de além, com o voto de todos emfim, na sessão de 2 de Março, votou uma pensão às viúvas de Machado dos Santos, que foi um dos triunviros do 5 de Dezembro, de Carlos da Maia, que foi Ministro de Sidónio Pais e de Botelho de Vasconcelos, que foi constante e dedicado cooperador do Presidente.

Porquê?

,; Porque foram vítimas dum nefando crime ?

É certo.

Mas de um nefando crime vítima foi também Sidónio Pais.

,; Porque, nos seus laros havia porvor-tura quem passasse privações ?

E certo também. .

Mas a viúva de Sidónio Pais viu- só forçada a pôr em almoeda recordações de seu marido, relíquias do seu passado!

Privações passa decerto também.

Acresce, senhores, que em contrário do que sucedeu com os seus malogrados coo-peradóres, Machado Santos, Carlos da Maia e Botelho de Vasconcelos — que não ocupavam, à data do vil atentado que os vitimou, função pública que fosse a causa directa da sua morte — Siiónio Pais morreu no seu posto, ao serviço da sua pátria, e infelizmente ao serviço da Kopú-blica, pela qual se perdeu e que o perdeu!

E era Chefe do Estado.