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Sessão de 15 de Maio de 1923
Ministro dos Negócios Estrangeiros, durante o seu discurso, pretendeu insinuar que eu praticara um acto desleal, falando sem êle estar presente, não teve razão, porque eu estava no meu direito de o fazer, depois das explicações que anteriormente havia dado.
As cousas passaram-se assim, e eu lastimo profundamente estar ocupando um tempo à Câmara que lhe é muito precioso.
Sr. Presidente: eu fiz um longo discurso sôbre assuntos de natureza colonial e internacional. S. Ex.ª não estava presente. Daí a dias respondeu-me algumas cousas que muito me satisfizeram e que me deram uma grande alegria, entre às quais a afirmação de que o convite feita para o Sr. Presidente da República, ir visitar o Cabo da Boa Esperança só seria aceite quando feito pelo Chefe da Nação Inglesa. Congratulei-me com esta declaração, e até fui à sua bancada reiterar-lhe os meus cumprimentos.
Seguidamente S. Ex.ª usou da palavra para se referir ao caso do jornal americano, e foi também com satisfação que vi S. Ex.ª repelir com altivez a afirmação que nele se continha, e que infelizmente tantas vezes já tem sido repetida, de que Portugal é uma colónia de Inglaterra.
Porém, não concordei com outras afirmações, e como a discussão tivesse sido interrompida pela entrada das senhoras da Cruz Vermelha, pedi a palavra no dia imediato, a fim de tratar o assunto com mais desenvolvimento.
Eis a verdade.
Sr. Presidente: na resposta que ontem o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros deu, começou S. Ex.ª por dizer que eu insistira em lhe atribuir a afirmação do que a viagem do Sr. Bernardino Machado a França, Inglaterra e Bélgica não tinha sido oficial, o que não era verdade.
Eu fiquei com essa impressão, e o Sr. Presidente do Ministério também, pelo que por S. Ex.ª aqui foi dito.
O Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros (Domingos Leite Pereira): — V. Ex.ª dá-me licença?
Depois do ler nos extractos dos jornais a resposta atribuída ao Sr. Presidente do Ministério, procurei S. Ex.ª apara lhe preguntar só havia realmente dito que a viagem do Sr. Presidente da República em 1917 à França, Inglaterra e Bélgica não tinha tido carácter oficial; S. Ex.ª respondeu-me que não tinha feito essa afirmação.
O Orador: — Mas esqueceu-se de fazer a rectificação nos jornais.
Sr. Presidente: essa viagem, repito, teve uma excepcional importância.
Evidentemente que o Sr. Bernardino Machado, quando foi ao Eliseu e ao Palácio de Versalhes, não entrou pela cozinha. O convite não foi feito em Lisboa, mas sim no front, que nessa ocasião era, sem dúvida, um pedaço de terra portuguesa.
Êsse convite teve uma grande importância. S. Ex.ª manifestou as suas altas qualidades de diplomata; todos o consideraram imenso, trocaram-se palavras interessantes e fizeram-se afirmações altamente honrosas para a Nação Portuguesa.
Sr. Presidente: é preciso também não esquecer, e eu vou lembrar para dar ainda mais importância ao facto, que, passados três meses, os agentes diplomáticos, ou o que quer que seja, de Sidónio Pais, escreveram nos jornais estrangeiros a notícia oficial de que o Sr. Bernardino Machado e os seus dois companheiros, Srs. Afonso Costa e Augusto Soares, não passavam de criminosos comuns, a braços com a justiça portuguesa.
Mais uma razão ainda para se dar o máximo valor a essa viagem.
Sr. Presidente: eu não disse — porque costumo ser sempre correcto — que era uma falta do Rei de Inglaterra ou do Presidente da República Francesa o não terem retribuído essa visita. O que sustento é que sendo a África do Sul território inglês, o Sr. Presidente da República não pode aceitar êsse convite sem que seja retribuída essa visita.
Disse o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros que as minhas palavras podiam, representar desprestígio para a República e para a sua situação internacional.
De novo repito os meus cumprimentos pela sua inteligência e esfôrço patriótico.
Só ontem é que S. Ex.ª veio aqui dizer que a situação internacional de Portugal era excelente.