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Sessão de 14 de Fevereiro de 1919 7

E ainda no século XIX, pela revolta da Maria da Fonte e outras agitações revolucionárias, é ainda neste momento o povo português, que tam mal dirigido tem sido, é ainda agora êsse povo quem soube dar o exemplo do seu alto valor, do seu patriotismo. É sempre a alma popular a manifestar-se digna da sua grandeza histórica, é realmente o povo da nossa época que continua a não se desdizer do passado.

Neste momento o celebrar a glória da República o mesmo é que celebrar a glória do povo português.

Por isso, quando defendemos as instituições nós sentimos a vitória, o predomínio do povo. E sempre o povo que trabalha nos campos e nas oficinas quem defende os nossos interêsses. Nem há interêsses legítimos que não se baseiem nos interêsses do povo trabalhador.

Se depois da vitória alguém chegar a invocar a sua supremacia, homem, classe, ou facção, eu direi que ninguêm tem o direito de se arvorar preponderância; se alguém pretender dizer que foi um herói eu direi que foi um português como todos. Heróico é o povo português, e mal irão aqueles que pretendam aproveitar-se do valor popular para engrandecimento, vantagem ou poder próprio.

Criar uma classe para dominar, uma classe à qual o povo pague para depois o tiranizar, isso não! Contra tal tentativa protestarei eu sempre; e bem fez o Sr. Machado Santos, o fundador da República, confessando que foi o povo quem fez a República. Foi S. Exa. que o afirmou; e a República deixaria realmente de existir no dia em que não fôsse da pátria, que de nós todos é. Nesse dia a República seria estrangulada. Não seria uma República, para ser uma intolerável tirania.

Eu sou, Sr. Presidente, pela República, pela república democrática, honesta, saída da alma popular desinteressada.

Desde que a República deixasse de ser assim — democrática e honesta, — nós estrangularíamos a República. E é necessário que a pátria viva! (Apoiados gerais).

O Sr. Arnaud Furtado: - A retirada inesperada dum dos membros desta Câmara forçou-me a pedir a palavra, embora eu tencionasse dizer alguma cousa sôbre a consagração dêste momento.

Sr. Presidente: perante as consciências bem formadas não há vitórias nas lutas entre irmãos. Mas deixou de haver, neste momento, uma vitória no Pôrto? Não deixou. Eu quero aplaudir e vitoriar o triunfo da lialdade sôbre a hipocrisia e a traição. Detesto ambas; quer venham envoltas numa roupeta, ou numa bandeira.

O que acaba de suceder é mais uma dura lição dos factos e como tal devemos tomá-la.

Os regimes implantam-se por meio de revoluções, mas só se consolidam e se tornam estimáveis em virtude duma honesta administração. E honestas administrações são aquelas que realmente o são.

Quero, como republicano—porque realmente o sou, e duma só fé — vitoriar a República. Mas fá-lo hei levantando primeiro um viva à Pátria! Porque neste viva envolvo as instituições vigentes, que eu considero indestrutivelmente ligadas à independência da nação.

Viva a Pátria Portuguesa!

Toda a Câmara: — Viva! Viva!

O Sr. Afonso de Melo: — Sr. Presidente: como Ministro especialmente visado pela má -vontade daqueles que acabam de ser vencidos no Pôrto, podia deixar-me sugestionar por um sentimento de desforço, que seria natural, mas em todo o caso não seria próprio de mim mesmo.

Neste momento não quero falar da minha pessoa,c não quero evocar a minha passada situação de Ministro da Justiça, nem o que possa representar na política da República. Neste momento desapareça tudo isso do meu espírito.

Falo como representante, único presente, da agricultura, da classe que mais numerosos representantes tem nesta casa do Parlamento.

Tenho o dever de dizer à Câmara que essa classe deseja a paz, que só quere viver era paz dentro duma pátria feliz, trabalhadora e próspera; que essa classe é, portanto, das que mais se regozijam com que tenha definitivamente acabado esta terrível e tremenda luta que se travou entre irmãos da mesma pátria.

Vozes: — Muito bem.