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8 Diário doa Sessões do Senado

Foi, sobretudo, com os votos dos sindicatos agrícolas das terras do norte que vim trazido ao Senado; foi ali, naquelas terras, que a Natureza fez risonhas e fecundas, que se travaram os combates de que temos ainda imperfeito conheci mento.

Mas, Sr. Presidente, é preciso frisar que tais lutas não significam que as terras do norte prezem menos o regime do que as do sul.

Conheço bem o norte: é dividido em duas camadas sobrepostas: os fidalgos — neo-fidalgos e pseudo-fidalgos - e o povo. Ali ainda se não fez o amálgama democrático que se realizou noutros pontos do país, vivendo alguns ainda ligados à idea do passado, que são velharias respeitáveis, mas dum anacronismo lamentável. A grande massa, o povo. já não se preocupava com essa questão do regime monárquico que, desgraçadamente, nos trouxe à situação que acabamos de ver liquidada pela forca das armas.

Ah! Sr. Presidente, deixem que o povo do norte, mesmo o das regiões que passam por mais reaccionárias, amanhe em sossego a sua terra, vá fazer o seu negócio às suas feiras e festejo, tam pagãmente quanto lhe está na índole, os santos da sua devoção, e êle será um povo feliz, pouco lhe importando as cores azul e branca duma bandeira que a seus olhos, criminosamente, vem de agitar-se como um símbolo de rebeldia!

Em Viseu, a capital do meu distrito, bastou um número do jornal O Século para dar conhecimento ao povo da que lhe tinham, mentido, dizendo-lhe que a monarquia estava proclamada não só no Pôrto, como em Coimbra e Lisboa. Pois bastou essa leitura do Século parti, que, sem combate, sem aguardar mesmo a chegada das tropas republicanas, a bandeira verde-rubra voltasse a hastear-se na frontaria dos edifícios públicos. Bem vê V. Exa. e a Câmara que fraco lugar a monarquia tinha conquistado no coração daquela boa gente!

Falando, pois, em nome da classe agrícola, falando em nome do povo essencialmente agrícola, posse afirmar com plena convicção que nos povoados do norte e na heróica cidade do Pôrto há-de haver regozijo e entusiasmo, nesta hora, que é de triunfo, e é tambêm, de paz.

Faço votos para que, duma vez para sempre, sob a égide da República, possamos viver numa Pátria verdadeiramente feliz!

O Sr. Castro Lopes: — Quando usei da palavra há pouco supus que não haveria hoje número para tomar deliberações, o que fácilmente se justificava pelas notícias dos jornais de que seria hoje feriado. Se assim não fôsse, eu teria mandado para a Mesa uma proposta de saudação às nossas fôrças de terra e mar que souberam de novo implantar a República no Pôrto.

Em nome da maioria desta Câmara proponho que seja por aclamação que se vote a proposta do Sr. Machado Santos.

E aprovada por aclamação.

O Sr. Adães Bermudes: — Associo-me, de todo o coração, às congratulações de S. Exa. e do Senado, assim como à exultação de todo o país pelo fracasso da última tentativa de restauração monárquica, que encerra definitivamente o ciclo dessas criminosas aventuras.

Faço os mais ardentes votos para que, de ora em diante, todos os portugueses, unidos em volta da gloriosa bandeira da República, ponham de parte as suas dissenções, que têm sido habilmente fomentadas e traiçoeiramente exploradas pelos inimigos do regime e que só têm servido para enfraquecer e arruinar o país, paralisando o seu normal desenvolvimento, e para que na paz, no trabalho e no estudo nos consagremos, todos, a prover ao bem geral, ao ideal comum e ao engrandecimento da Pátria unida, livre e solidária dentro da República.

Tenho dito.

O Sr. Presidente: — Em vista da aprovação da proposta, vou levantar a sessão. Grandes aplausos e vivas à República, por todos correspondidos.

O Sr. Presidente: — Amanhã é dia destinado a trabalhos de comissões.

A próxima sessão será na segunda feira, com a mesma ordem do dia. Está levantada a sessão. Eram 15 horas e 50 minutos.

O REDACTOR — Alberto Bramão.