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11 DE JANEIRO DE 1955 295

O meu pensamento e o meu maior preito de homenagem vão para os primeiros Procuradores, que, sob a presidência esclarecida e ilustre do general Eduardo Augusto Marques, homem de bem, chefe prestigioso e culto, coração bondoso, do mais nobre e fino trato, tiraram da sua inteligência e do seu coração as normas de trabalho e os princípios de vida que se têm transmitido ao longo de duas dezenas de anos.
A tradição de desassombro, de estudo sério e profundo, do amor da Pátria acima de todas as forças e todos os sacrifícios foi-nos legada por esse escol magnífico e impõe-se a nós e a todos os que, depois de nós, vierem tomar em suas mãos esta herança sagrada.
V. Ex.ª, Sr. Presidente, e VV. Ex.ªs, Dignos Procuradores, continuam a manter essa tradição com as virtudes e qualidades que ornamentam as ilustres pessoas de VV. Ex.ªs Que Deus os ajude.
Evoco, respeitoso, todos os que, ausentes de nós para a eternidade, continuam presentes pelo espírito e pelo exemplo.
Quero, finalmente, que as minhas últimas palavras sejam de fé inquebrantável e viva no futuro da organização corporativa e nos destinos gloriosos da Nação a que, por graças de Deus, nos honramos de pertencer e fé inquebrantável na governação do Venerando Chefe do Estado e de Salazar.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos gerais.

O Sr. Pires Cardoso: - Usando pela primeira vez da palavra numa sessão plenária cumpro gostosamente o dever de saudar toda a Câmara, na pessoa do seu prestigioso Presidente, que com tão lúcida inteligência e tão alto aprumo vem presidindo aos seus destinos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Para não fugir à regra do processo de trabalho da Câmara, na base de pareceres escritos, poderei dizer que me encontro, nesta sessão comemorativa, como que na posição de relator de um parecer acerca do panorama actual do Corporativismo português e de um dos seus mais momentosos problemas: a instituição de corporações.
Vou submeter, pois, o parecer, que elaborei, à consideração, ao exame e à crítica dos Dignos Procuradores, penitenciando-me desde já por ter sido, com certeza, mais longo do que desejava, o que me força a abusar em demasia da vossa paciência. Será caso para disser, como Vieira, que me faltou o tempo para ser mais breve.
Sr. Presidente: o aniversário da Câmara não pode deixai* de julgar-se ocasião ajustada para algumas reflexões à volta do nosso panorama corporativo e sobre um ou outro dos seus mais instantes problemas.
Adiantarei ainda: este aniversário suscita mesmo a obrigação de o fazer, a tal ponto seria estranho que, havendo tão poucas oportunidades como esta, a deixássemos passar sem uma afirmação de interesse pelo «facto corporativo». É não faltam, aqui, algumas questões de flagrante actualidade, que podem centrar-se na linha das grandes preocupações do momento português.
Está dito tão pouco, e há tanto a dizer, acerca da ideia corporativa e da sua mitigada realização entre nós, que tem de considerar-se benéfico quanto seja aproveitar os sucessos de certo relevo para chamar ao terreiro da discussão todos aqueles que possam trazer-nos qualquer útil contributo, por pequeno que seja.
Urge, na realidade, concitar, por todos os meios possíveis e adequados, o depoimento de tantos que sabemos interessarem-se pela empresa corporativa e tenham algo u dizer em qualquer dos seus múltiplos aspectos. E, se queremos evitar que esses permaneçam calados, há que proporcionar-lhes o ensejo de exteriozarem o seu pensamento, até mesmo criar o conjunto de circunstâncias que anule as possibilidades de abstenção e force benfazejamente ao voto ambicionado.
De outro modo, vamos ficando todos como que à espera uns dos outros, sem nos darmos conta de que o silêncio de cada um é convite e amparo ao retraimento de terceiros. Vamos ficando todos numa estranha espectativa onde pode haver de tudo - falta de tempo, comodidade ou cepticismo -, mas existe, com certeza, um vírus a instalar-se em corpo que não reage e o vai corroendo não se sabe até onde nem até quando.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E nem sequer poderá afirmar-se que os corporativistas recusem ostensivamente a sua quota-parte de esforço e se proponham apenas concorrer com a sua indiferença. Muito ao contrário, não é raro deparar-se com uma ânsia de ideal corporativo, com o fremente desejo de seguir para a frente, com a crítica acerba ao que se não faz, com a desilusão revoltada. E nota-se, até, o germe corporativo a brotar espontaneamente em alguns sectores das actividades nacionais - sinal consolador, a dar-nos bem a medida de que o Corporativismo é ainda uma ideia viva, embora de certo modo represada.
Chega-se às vezes a ter a impressão, ao tomar contacto com certos espíritos, de que eles respiram uma atmosfera carregada de gás explosivo e só aguardam, para deflagrar, que se acenda um rastilho.
E, se assim acontece, por um lado, também não falta, por outro, uma franca ajuda vinda de cima.
Fez há pouco seis anos que o Presidente do Conselho afirmou peremptoriamente: a O regime não tem de destruir-se, tem de completar a sua evolução» («O meu depoimento», 7 de Janeiro de 1949); e vai já para dois anos que, mais desenvolvidamente - no seu notabilíssimo discurso de 10 de Julho de 1953 -, nos deu a sua palavra de ordem em termos que não podiam ser mais firmes nem mais estimulantes:

É, pois, tempo de reacender o antigo fogo e continuar o caminho. Faltaríamos a um grande dever e até a uma boa oportunidade se, lançadas as bases do plano económico, não aproveitássemos os próximos anos para simultaneamente levar por diante a cruzada corporativa.

Houve por aí um certo estremecimento quando se ouviram ou leram declarações tão repassadas de incentivo e categóricas de fé. E era de supor que a esse estremecimento haveria de seguir-se uma saudável agitação corporativa.
Não sucedeu assim, e tudo resvalou novamente para esse autêntico amar de sargaço», de onde não temos querido descortinar a saída, mas que forçoso é encontrá-la.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Eu sei - e sabem-no muitos - que esta situação melindrosa tem origens profundas e diversas. Não é meu desígnio tentar dissecá-las agora, mas não me dispensarei de tocar rapidamente numa daquelas que se me afiguram mais relevantes.
Quero referir-me à característica de movimento que está na íntima essência do fenómeno corporativo: se há ideia inconciliável com a paragem, se há ideal