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992 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 98

cionado com aquilo a que se poderia chamar forças de frenagem e forças de aceleração. Na verdade, a rapidez do 'desenvolvimento depende, em última análise, da natureza e amplitude dos obstáculos existentes num momento dado, bem como da oportunidade e eficácia das medidas tomadas para os transpor.
Escudando-nos em recente publicação das Nações Unidos, poderiam citar-se numerosos exemplos de países que, lançados em programas demasiado ambiciosos, foram guiados unicamente pelo desejo de se industrializarem e que não tinham reunido senão ensinamentos manifestamente insuficientes sobre o conjunto de factores técnicos, sociais e económicos de que depende, na sua maior parte, o sucesso dos programas em questão.

m tais condições, o resultado não podia deixar de ser uma colheita de amargas desilusões.

20. A boa organização do desenvolvimento económico depende essencialmente do equilíbrio de três sectores da economia: a agricultura, a indústria secundária e os serviços e instalações de interesse comum.
Sem se negar o flagrante interesse em apressar a industrialização, pondera-se que há importantes razões para fazer ao mesmo tempo um vigoroso esforço no sentido de aumentar a produtividade da agricultura.
Na verdade, por mais rapidamente que a industrialização se processe, a grande massa da população trabalhadora permanecerá durante décadas ou gerações empregada na agricultura, determinando-se o nível de vida dos rurais pela sua produtividade naquele sector.
Ora, não só o montante dos rendimentos provenientes da agricultura constitui o principal factor do que depende a extensão do mercado industrial, como ainda na necessidade, através de um planeamento regional adequado, de fomentar gradualmente o aumento da produção agrícola com uma mão-de-obra mais reduzida.
Só assim se poderá fazer face às necessidades de uma indústria em contínua expansão, melhorar a nossa posição externa (na medida em que dependa de uma redução da importação de produtos alimentares, por exemplo), satisfazer, em suma, a maior procura de alimentos que a esperada melhoria de rendimentos não deixará e suscitar, atentos os baixos padrões actuais de nutrição.
Uma expansão demasiado rápida e desequilibrada do sector industrial, desacompanhada de transformações complementares no sector agrícola, daria inevitavelmente lugar a fenómenos- que, a longo prazo, retardariam o desenvolvimento económico; queremos referir-nos ao desequilíbrio da balança de pagamentos, à inflação, urbanismo excessivo e subversão da estrutura social tradicional.

21. A industrialização é um processo de criação contínua e, por esta via, ela encontra-se ligada de maneira orgânica ao património económico e social, cujo desenvolvimento se deve efectuar paralelamente. A cadência do desenvolvimento pode variar consideràvelmente de país para país, mas jamais se poderão romper os laços orgânicos estreitos que ligam a indústria ao mercado da oferta dos factores da produção e da procura de artigos manufacturados.
Pois, mesmo mais tarde, quando as indústrias se tenham multiplicado s a mão-de-obra industrial passe a representar uma proporção maior da população activa, torna-se imperioso que as indústrias secundárias se desenvolvam de maneira equilibrada, É necessário que, em cada estádio, o fornecimento da energia, as comunicações e os transportes, bem como os serviços comerciais e financeiros conexos, cresçam paralelamente.
O que se acaba de expor leva a considerar a industrialização, como parte do processo geral de desenvolvimento económico. Não se elabora um plano de industrialização num espaço económico vazio: é preciso articulá-lo, entre outros, com os planos de desenvolvimento da agricultura, das indústrias extractivas, dos transportes e da energia. Ela é parte integrante de uma expansão de tipo orgânico, cuja característica essencial reside na dependência mútua dos sectores interessados.
Mas a necessidade de fazer progredir os diferentes sectores da economia a uma cadência quase uniforme, a fira de se evitarem distorções inconvenientes e se assegurar a continuidade do processo, tende inevitavelmente a diminuir a velocidade do desenvolvimento económico.

22. Sob um ponto de vista económico, o problema básico dos países menos desenvolvidos é o de canalizar mau recursos para a realização de despesas geradoras de desenvolvimento. Tais despesas são, em larga medida, representadas pelo que convencionalmente se chama investimento.
Mas aqui, como em toda a parte, a compreensão do exacto significado dos conceitos reveste-se da maior importância. Por isso, importa fixar desde já que a noção de investimento comummente adoptada para fins de análise do rendimento nacional se revela demasiado estreita quando transposta para a análise dos problemas de desenvolvimento, mormente no tipo de países de que nos ocupamos. Efectivamente, aquilo de que nós precisamos é de um investimento que possa ser funcionalmente relacionado com um aumento da capacidade produtiva.
Simplesmente, se o significado essencial do investimento é a afectação de recursos com o objectivo de aumentar o nível da produção, então, aplicado às áreas subdesenvolvidas, o termo abarca, necessariamente, não apenas a formação de capital fixo, mas ainda despesas em serviços de saúde, formação técnica, instrução, investigação, aquisição de melhores sementes e muitas outras.
No estádio actual do seu desenvolvimento, a eliminação do analfabetismo ou das endemias, a melhoria dos serviços do ensino em geral ou o combate às doenças debilitantes podem contribuir mais decisivamente para a elevação das capitações do rendimento real do que a instalação de novas fabricas ou os acréscimos do equipamento.
A sua utilidade difunde-se no organismo económico, aumentando a sua vitalidade e capacidade de trabalho útil. Mas convém nunca esquecer que elas geram simultaneamente um problema de «contabilidades intertemporais», isto é, oneram o futuro com um encargo que a economia do País deverá poder suportar sem prejuízo do seu progresso; acontece assim na medida em que os despesas provenientes dos serviços criados tenham de ser cobertas pela via orçamental.

23. Quando se procura aumentar o fluxo do investimento, entendido no sentido lato que acabamos de apontar, surgem normalmente novos obstáculos à aceleração do ritmo do processo de desenvolvimento. Entre eles destaca-se desde logo a dificuldade que presumivelmente se virá a encontrar no financiamento do investimento adicional reputado indispensável. Pois, pondo de lado a melhoria das razões de troca internacionais e a possível obtenção de créditos ou auxílios externos, e admitindo que se tomaram as providências requeridas para uma satisfatória mobilização da poupança disponível, só resta a solução de restringir o consumo ou aquelas despesas de investimento que não contribuam substancialmente para o reforço da capacidade produtiva.
A primeira das alternativas, para além dos perigos de ordem política que comporta, pode revelar-se pouco