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582 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 43

§ 5.º

Considerações complementares

21. Merecem a concordância da Câmara Corporativa os conceitos técnicos em que se baseia a previsão de obras complementares, devendo, mo entanto, destacar-se que, mais uma vez, se encontra estreita interdependência entre estas obras e outras necessárias para assegurar a exploração agrícola em todos os casos em que a capacidade de uso o consente e aconselha. A mesma ligação se encontra no que respeita aos aproveitamentos hidroagrícolas que podem ser realizados com maior garantia, uma vez que lhes esteja dada a necessária protecção pelo povoamento florestal que assegura a conservação do solo e da água.
Deve, no entanto, ter-se era conta que a previsão de despesas está apoiada num plano de arborização que parece susceptível de vir a beneficiar de alterações, sobretudo no caso do montado de azinho, conforme se viu noutro parágrafo. Sendo assim, os encargos de arborização com outras espécies poderá ser diferente, devendo suceder o mesmo quanto aos rendimentos.
Julga-se ainda que as produções atribuídas ao montado de sobro parecem exageradas, pelo que fie aconselha a sua revisão.
De qualquer modo, a previsão dos benefícios futuros, que transcendem as conclusões da análise económica sempre falível quando feita a longo prazo, justifica o empreendimento.
O ritmo de povoamento florestal parece ter sido avaliado com prudência e compreende-se que uma transformação radical no uso do solo terá de ser feita de forma necessariamente lenta para que a população rural se adapte às novas circunstâncias.

22. Não se procede no plano a qualquer tentativa de análise do mercado interno e externo de produtos florestais, de forma a avaliar-se a capacidade de absorção da produção que se vai obter. Dispõe-se, no entanto, de referências de diversa ordem feitas às perspectivas de certas culturas florestais incluídas no esquema proposto e o estudo económico baseia-se naturalmente na possibilidade de colocação dos produtos ao preço que se julga estável.
Compreende-se que a análise dos mercados oferece dificuldades específicas e o facto de se não apontarem riscos especiais neste aspecto confirma que as conclusões contidas no relatório final preparatório do II Plano de Fomento, II) "Agricultura, Silvicultura e Pecuária", no que se refere à "análise de conjunto da procura provável", se mantêm na mesma posição quando se afirma que as possibilidades de exportação o "material lenhoso" são muito boas e de cortiça, tanantes e resinosos continuam a ser boas.
Na impossibilidade de construir para a referida análise uma expressão quantitativa, a Câmara Corporativa não vê motivos para formular qualquer receio quanto à colocação dos produtos, desde que se tomem medidas complementares de instalação de industrias capazes de prepararem os produtos de exportação ou necessários ao consumo interno e se organize o mercado impedindo a criação de condições de aquisição que, por vezes, se reflectem no nível dos preços.
Se é certo que toda a indústria carece de segurança quanto ao volume, qualidade e preço da matéria-prima, não deixa de ser menos conveniente que a produção encontre na sua frente uma procura capaz de formular os estímulos necessários à expansão de uma política de fomento, que tanto se podem criar no apoio industrial interno, como, por vezes, no hábil recurso a exportações manobradas, quando possível, por meio de acordos comerciais com o estrangeiro. Como factor de equilíbrio na formação dos preços é fundamental que se oponha à indústria, onde parece ser fácil o entendimento quanto ao abastecimento em matérias-primas, uma agricultura disposta também a montar as coisas comerciais em moldes que lhe permitam fazer valer seus direitos.

23. A Câmara Corporativa, ao ter oportunidade de estudar o problema posto pelo primeiro plano de arborização elaborado ao abrigo da Lei n.º 2069, sentiu a grandeza da tarefa que vai iniciar-se e cresta homenagem aos técnicos portugueses que na silvicultura encontram um campo de actividade que, por sua natureza, nem sempre deixa compreender o valor e o significado dê uma deontologia profissional, plena de abnegação e generosidade, votada ao culto de realizações que se não espera ainda ver criar num dia.
E o interesse do serviço que prestam fica bem interpretado nas seguintes palavras do Prof. Engenheiro Silvicultor M. Gomes Guerreiro 1:

Sem floresta não há água útil; não há poços, nem fontes, nem albufeiras. Sem água utilizável não há indústrias, nem regadio, nem vida sobre a Terra. O homem moderno continua inelutàvelmente ligado e subordinado à floresta por mais que se queira emancipar da sua influência - orgulhoso do poder que a ciência e a técnica depuseram nas suas mãos.
Apesar disso, a sua presença tem-se manifestado sempre, quer pela exploração incontrolada de povoamentos arbóreos e arbustivos, quer pela destruição e pelo incêndio de matas e de associações climaces, quer ainda pelo derrube abusivo de florestas, fazendo crer que é seu intuito substituir o manto vegetal pelo deserto, a plenitude do arvoredo pela angústia do ermo e da aridez.
Para defesa da humanidade cabe ns gerações presentes, com uma política esclarecida em face do problema do ordenamento e da utilização do solo, enveredar por novos caminhos, provar que o homem e a floresta podem e devem coexistir no mundo de hoje.

III

Conclusões

A Câmara Corporativa, tendo apreciado o bom critério e competência técnica que presidiram à elaboração do plano de arborização das bacias hidrográficas das ribeiras Terges e Cobres, é de parecer:

1.º Que o plano seja executado, com os aperfeiçoamentos que lhe possam ser introduzidos, como resultado das conclusões obtidas da experimentação em curso e como consequência do estudo mais amplo dos problemas económicos e sociais da região que porventura possa ser empreendido;
2.º Conclui-se assim porque, na verdade, se considera que o problema florestal, em qualquer região e como outros problemas similares, não pode ser encarado isoladamente, porque depende das técnicas que forem preconizadas no aproveitamento equilibrado dos recursos naturais, não só no sector agrícola, como no industrial e dos serviços, e parece boa política económica e social fazer acompanhar a sua execução de estudos e, se possível, de em-

1 Op. cit.