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12 UE FEVEREIRO DE 1959 575

res importados do mundo mais distante, eficientemente trabalhados por meio de selecção e da hibridação.
Seja como for, alguma coisa se passa de novo em matéria de técnica florestal. O que persiste como limite a uma evolução ainda mais espectacular do que a presente é o obstáculo que a natureza da investigação e experimentação florestais ainda impõe, como resultado do lento apuramento dos resultados. Mas a lentidão dos ensaios não pode estabelecer barreira eterna à descoberta de novos rumos. O mercado pede produtos florestais - o mercado tem de ser abastecido e deve caminhar-se mais depressa quando o processo produtivo é necessariamente lento.
As regiões de sequeiro do Sul, abandonadas durante muitos anos ao domínio das criações ecológicas, constituem exclusivamente o suporte do sobreiro, da azinheira, do pinheiro manso, onde foram abertas clareiras imensas de utilização agrícola, uma vezes certa e outras vezes errada, por destruir o solo e escravizar o trabalho reduzindo-lhe a produtividade.
Existem motivos fortes para supor que é possível introduzir espécies exóticas e explorar de maneira mais correcta as indígenas, organizando sistemas de aproveitamento que defendem o solo, produzem o máximo rendimento possível numa utilização conservadora e conciliam as necessidades da exploração agro-pecuária com a exploração florestal.
Muitos dos conceitos da silvicultura clássica encontram-se hoje seriamente abalados. O estímulo das exigências económicas obrigou a abandonar os preceitos rígidos dos tipos de floresta natural, durante muito1 tempo estudados, e estabelecidos de acordo com normas baseadas na dendrometria.
A utilização de clones e de híbridos seleccionados, acompanhada de técnicas culturais intensivas, transformou a silvicultura, conduzindo-a a uma verdadeira
"cultura de árvores" que a identifica com o esforço já realizado pela agricultura na obtenção de altos rendimentos. Mas os horizontes indiscutivelmente abertos à silvicultura moderna, quando se mostram largamente prometedores, não deixara, no entanto, de oferecer riscos que obrigam a desenvolver um crescente esforço de investigação e experimentação.

11. é por este motivo que se não pode deixar de manifestar o natural receio de que o apoio do plano em estudo na investigação e na experimentação não seja, infelizmente, tão forte quanto seria desejável.
Na verdade, a investigação e experimentação florestais tiveram um início prometedor quando Mendes de Almeida, há cerca de trinta anos, criou a Estação de Experimentação Florestal do Sobreiro e Eucalipto, em Alcobaça, cuja direcção foi entregue ao Prof. Engenheiro Silvicultor J. Vieira Natividade. Desta Estação saíram, praticamente todas as iniciativas, estudos e os especialistas mais destacados no sector da investigação florestal no nosso país. A sua múltipla actividade teve enorme projecção do ponto de vista científico, que se reflectiu também no campo prático, como devia ser norma em Portugal, destacando-se os valiosos estudos sobre o sobreiro e a sua exploração no montado alentejano. Além deste sector, que dispõe hoje de bibliografia mundialmente conhecida e apreciada, há também os estudos sobre o castanheiro, sobre o melhoramento genético de algumas espécies com vista à instalação de .uma silvicultura intensiva e da tecnologia da madeira e da celulose. Em todos estes sectores se formaram técnicos dos mais prestigiosos, que alcançaram consideração internacional.
É com natural receio que se assiste hoje a uma estranha interrupção do caminho que ia sendo trilhado, sendo de esperar que o II Plano de Fomento active trabalhos interrompidos há quase uma dezena de anos.
E assim, além do conhecimento de que dispunham em relação à cultura do sobreiro, os serviços florestais, ao iniciarem os estudos no sequeiro do Sul, só podiam basear-se, em matéria de experimentação, nos trabalhos há pouco empreendidos no perímetro florestal de Mértola. Foi apenas há oito anos que se iniciou a arborização do baldio, gravemente erosionado pela cultura agrícola, e as conclusões à vista são animadoras.
Os serviços, aperfeiçoando as técnicas usadas em Mértola, iniciaram há dois anos trabalhos no perímetro florestal de Barrancos, ensaiando uma colecção muito rica de eucaliptos, plantados segundo normas agora preconizadas, que muito diferem das técnicas em uso na propriedade particular.
Pela mesma altura deu-se início a trabalhos no perímetro da Contenda de Moura, recorrendo-se a processos inteiramente novos de mobilização do solo, que se mantêm em estudo.
Ao abrigo da Lei n.º 2069 foram estabelecidos viveiros que se aprontam para fornecer as plantas necessárias para as novas plantações. Nesses viveiros multiplicam-se as espécies que melhores provas vão dando, e deve destacar-se como assumindo enorme importância o que se tem reunido no que respeita ao eucalipto, choupo e outras espécies ripícolas, destinadas a facultarem rendimentos imediatos e a assumirem fundamental função na compartimentação da paisagem e na defesa contra os ventos.
Ao mesmo tempo, os serviços acompanham de perto, o trabalho dos engenheiros silvicultores espanhóis, que montam uma experimentação em condições muito
semelhantes perto da fronteira, além das ligações que são mantidas com todos os serviços idênticos de muitos outros países, interessados no intercâmbio de espécies florestais e na identificação das que se mantêm em cultura ou que se apresentam nas reservas naturais.
Existem novas técnicas que bem podem ser ensaiadas no Sul; existe o seguro equipamento da dedicação e entusiasmo de técnicos devotados à profissão e ao trabalho, mas não se descortina nada mais do que os primeiros passos em matéria de investigação e experimentação e é reduzido o número de investigadores, e nem sempre a qualidade basta perante a grandeza da tarefa.
E a tarefa encontra-se anunciada nas palavras de Vieira Natividade1:

A floresta sobro a qual nos debruçamos é a floresta de amanhã, erguida com ferramentas científicas, a floresta de arvoredos modelados, por assim dizer, pela mão do homem, a floresta regida por leis naturais: criação prodigiosa, fruto de mais de um século de labor científico, e para a qual contribuíram, com sucessivas oferendas, quase todos os ramos da ciência humana, permitindo que, pouco a pouco, se desvendassem alguns dos mistérios da biologia da árvore, os segredos do equilíbrio e da harmonia da mais estranha, da mais complexa e da mais grandiosa das comunidades vegetais.

Receia, no entanto, esta Câmara que, não estando funcionalmente estruturados os serviços florestais, como já se afirmou, de modo a poderem corresponder ao que o Governo deles espera, seja prejudicada ou muito diminuída a actividade científica, com o propósito de satisfazer em quantidade as tarefas cada vez mais volumosas que lhe são atribuídas. Compreende-se perfeitamente que esta não pode ser a norma de trabalho

1 J. Vieira Natividade, A Nova Floresta, Academia das Ciências de Lisboa, 1954.