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9 DE MAIO DE 1945
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êste o momento para a revisão que me proponho fazer em breves dias perante a Câmara dos problemas directa ou indirectamente ligados aos acontecimentos actuais. O meu intento hoje é outro e as minhas palavras serão breves.
Caiu finalmente o pano sôbre a tragédia que a Europa representou e viveu na sua carne, e no seu espírito durante os últimos seis anos. Nenhuma dor, nenhuma angústia, nenhum mal de quantos a pobre humanidade em séculos de desvario ou de expiação inventou e sofreu lhe foram poupados, a esta mártir, mãi de civilizações: nem conflitos trágicos de conceitos fundamentais da vida dos homens e das sociedades, nem divisões intestinas e lutas fratricidas, nem as maiores aberrações da inteligência e do sentimento, nem destruições ciclópicas de vidas e haveres, de economias e culturas, de cidades e de nações. Tam extensa e profunda foi a tragédia que nem mesmo todos os vencedores — e lembro piedosamente o Presidente Roosevelt — puderam sorrir ao claro sol da sua vitória. A terra está ensopada de sangue e de lágrimas; sofreu-se e sofre-se demais para que nos entreguemos a ruidosas manifestações de alegria. Contudo, e embora com os olhos embaciados de lágrimas, um íntimo contentamento de alma é justo e devido. Apontarei, resumidamente, os três motivos seguintes.
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Em primeiro lugar cessar a luta e findarem os horrores que a guerra traz consigo é já de si inestimável bem. A libertação de países tam duramente, experimentados e tam dignos na sua provação, a recuperação da sua independência e liberdade de vida, poder-se trabalhar para o bem-estar dos povos e não para o seu aniquilamento, dará, por toda a parte a doce sensação de um quebrar de algemas, acordar de pesadelos e renascer para a vida e a felicidade possível. E, embora o futuro se ensombre de grandes preocupações e a obra de reconstrução material e moral se antolhe mais difícil que os trabalhos da mesma guerra, há-de ver-se que a tarefa a realizar em paz e na esperança, só por si bastantes para desoprimir o espírito, aligeirar os corações, tornar mais leve o esfôrço comum. Bemdigamos a Paz!
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Depois a Providencia dispôs em seus altos desígnios que pudéssemos atravessar o conflito sem sermos directa e activamente envolvidos nêle e sem nêle sacrificarmos mais que dinheiro, esforços, cuidados, algumas privações, o que, sendo muito em si, tudo se deve ter por pouco, em face do que outros houverem de sofrer. (Vozes: — Muito bem, muito bem!) (Palmas). Atravessámos incólumes a guerra e, podemos dizê-lo, sem sacrificar nem a dignidade da Nação nem os seus interêsses e amizades. (Vozes: Muito bem, muito bem!). Sempre que foi necessário marear posições pela palavra ou pelo acto em favor de amigos ou aliados, e fôsse qual fôsse a sua situação de momento, ou o fizemos espontâneamente ou acorremos de boamente ao seu apêlo. (Vozes: — Muito bem, muito bem!). Decerto houve que ter plena consciência das conseqüências possíveis, mas não exagerámos os riscos para nos desviarmos do dever (Vozes: — Muito bem, muito bem!): aceitámos serenamente e em todas as circunstâncias a parte de sacrifício que pudesse caber-nos. E não temos de medir ou recordar os serviços prestados, porque não são nem depreciados nem esquecidos.
Não lembro neste momento dificuldades vencidas; registo que pôde manter-se a posição sem subserviência para com os poderosos e sem desinterêsse, antes com fraternal carinho pelos fracos e pelos oprimidos em demanda de auxílio ou refúgio. E, tendo ficado à margem das grandes paixões que dividiram os povos, pudemos, com o coração isento, debruçar-nos piedosamente sôbre todos os sofrimentos, admirar todos os heroísmos, ser compreensivos para todos os êrros, sem deixar de ser severos para com todos os crimes. (Vozes: — Muito bem, muito bem!) (Calorosos aplausos).
Mais felizes do que aqueles que para perdoar muito terão de esquecer, a nossa missão está simplificada, no mundo que se pretende edificar sôbre o respeito do homem, a amigável colaboração das nações, o bem comum da humanidade.
— Bemdigamos a Paz! (Vozes: — Muito bem, muito bem!)(Aclamação).
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O terceiro motivo do nosso contentamento está em que a Inglaterra se encontra entre e no primeiro plano das nações vitoriosas. Muitos se ufanarão de o ter lido no livro do futuro com clareza meridiana; eu confesso humildemente que a esperança só se me converteu em certeza ao contemplar um esfôrço de guerra que, embora dentro das extraordinárias possibilidades do povo britânico, se duvidará de alguma vez ter sido atingido na história da humanidade.
Ninguém entre nós deixou de considerar o interêsse nacional solidário da posição da Inglaterra (e até da Comunidade Britânica) tal como resultasse da solução do conflito. Todos podiam notar que a uma visão porventura demasiado continental da Europa estava contraposta a concepção històricamente mais exacta da sua universalidade, e era a todos evidente que a vitória inglesa e dos Estados Unidos da América, (em que o Brasil colaborava activamente) teria como resultado arrastar para o Atlântico o centro de gravidade da política internacional, no que importava ao ocidente. E numa e noutra cousa nós somos interessados. Ora eis que, embora sangrando de inúmeras feridas, a Inglaterra se ergue, de entre grandes ruínas, não só vitoriosa mas invencível; e, tendo consolidado os laços das diversas partes do Império, se pode apresentar no mundo e entre os maiores, como verdadeira educadora de povos, mãi e condutora de nações. (Vozes: — Muito bem, muito bem!) (Entusiásticos aplausos).
— Bemdigamos a Vitória!
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E calo-me. A verdade, é que em hora tam alta e quási sagrada não descubro, não sinto em mim senão um vivo impulso de graças à Providência pela sua misericórdia e de preces por que a sua luz ilumine os homens responsáveis pelos destinos do mundo. (Vozes: — Muito bem, muito bem!).
(Toda a assistência, de pé, ovacionou, largo tempo, o Sr. Presidente do Conselho).
O Sr. Mário de Figueiredo: — Sr. Presidente da Assemblea Nacional e Sr. Presidente do Conselho: acabou a guerra na Europa. É motivo para nos regozijarmos com o facto, para saüdarmos a vitória, um dos grandes campeões da qual foi a nossa velha aliada — a Inglaterra. O campeão que com as suas espantosas condições de resistência moral a tornou possível, permanecendo só, quando tudo se desmoronava, a aguentar o embate, indo buscar vigor ao próprio sofrimento e à consciência esplêndida das suas energias seculares ou de que não estava terminada a sua missão imperial no mundo.
Ao saüdar a vitória, não ficará mal uma palavra de piedade para com os vencidos.
Nós pudemos conservar-nos neutrais no trágico conflito. No modo como se desenvolveu na Europa, só a aliança com a Inglaterra podia obrigar-nos a uma atitude diferente. Mantivemos honradamente a posição que toma-