O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

9 DE MAIO DE 1945
429
Sôbre ela se ergueu a toda a altura da sua grandeza a figura majestosa do Papa para pregar a Verdade, defender o Direito, proclamar a Justiça. E fê-lo numa acção constante e infatigável, que se desdobra em três manifestações, cheias de grandeza e de benemerência: o Papa combateu quanto pôde contra a eclosão da guerra; trabalhou quanto pôde pela humanização da guerra, sacrificou quanto pôde pelas vítimas da guerra.
Lutou contra a guerra pela luz da sua palavra apostólica, procurando esmagá-la no próprio germe doutrinal que a engendrava; lutou contra a guerra, pondo em movimento contra ela todo o complexo e autorizado organismo da diplomacia da Santa Sé; lutou contra a guerra, diligenciando fazer vingar todo o valimento do seu prestígio e influência pessoal junto das chancelarias interessadas.
Malogrou-se essa luta gigantesca e heróica e a guerra estalou, brava e indómita, com fereza de uma tempestade que traz no seu seio a desolação e a morte, que tudo abate, tudo destrói, tudo tritura.
Na sua marcha destruïdora só um direito reconhecia — o direito da fôrça —, uma só lei respeitava — a lei do resultado imediato das armas.
As vagas da violência que quebrantavam as normas da civilização e ao desafôro de deshumanidades que fez retroceder os homens do século XX às maiores baixezas da barbárie opôs o Papa os princípios indefectíveis do respeito pela dignidade, pela sorte dos vencidos, pela verdade e pela justiça, que êle pôs como base fundamental da ordem e da paz.
As mensagens natalícias, que contêm os deveres da guerra e os direitos da paz, padrão imorredouro do direito das gentes, ficarão na memória agradecida da história. Os instantes e renovados apelos à colaboração e à concórdia, são mais que gritos de alma e brados de coração, porque são tesouro de doutrina jurídica que os séculos hão-de seguir e louvar.
Apesar de tudo, as ruínas amontoavam-se, cresciam as vítimas em número e sofrimento. E o Papa inclina-se para elas, para corrigir umas e guarnecer as outras, criando um complexo de obras assistenciais que acudiam a todas as necessidades emergentes e constituem a afirmação da caridade organizada mais vasta e mais perfeita que têm conhecido os séculos.
Êle mesmo em pessoa foi visto, mais de uma vez, no meio das ruínas ainda fumegantes, para consolar os que entre elas choravam e gemiam. Homens de princípios, pioneiros de uma ordem nova que crie um mundo melhor, fica-nos bem saüdar, nesta hora e desta tribuna, o homem branco, que nas horas mais trágicas e afligidas do mundo soube ser mais que o cônsul caritatis, o intrépido defensor e bemfeitor insigne da humanidade sofredora.
O outro cimo que emergiu do mar de fogo e sangue foi o Promontório de Sagres, a zona da paz do nosso País. E chamo-lhe Promontório de Sagres porque foi o espírito que criou, animou e glorificou a escola de Sagres, que deu ânimo à nossa posição na guerra e sentido à nossa neutralidade.
Salazar disse, na primeira hora, que a nossa neutralidade não era cómoda nem barata. Bem sabemos nós hoje que assim foi na verdade. Não foi isenta de sacrifícios, porque não a determinaram egoísmos nacionais, mas altos sentimentos humanitários.
A nossa neutralidade foi, afinal, quer pela acção, quer pelo pensamento, um capítulo ou um episódio da nossa missão histórica, universalista e cristã, tam altamente afirmada em Sagres.
Vozes: — Muito bem! Muito bem!
O Orador: — Ela foi, com efeito, o refúgio de homens de todos os povos, acossados pela fúria da tormenta, e derradeiro reduto dos princípios da concórdia internacional. Servindo Portugal, servimos o mundo, e mais de um povo nos mandou público agradecimento dos nossos serviços.
Defendendo o nosso prestígio com honra, defendemos a causa da humanidade com proveito.
Esta posição de grandeza patriótica e de prestígio internacional não foi simples acidente geográfico ou mera coincidência histórica.
Foi obra laboriosa e difícil dos dois grandes chefes que a Providência pôs à frente dos destinos do nosso País nesta hora tam conturbada.
Quando as chancelarias puderem abrir para a história os segredos dos seus arquivos, ver-se-á com clareza que a nossa neutralidade, com todos os benefícios que nos trouxe e ao mundo que serviu, foi o resultado feliz da superior clarividência com que foi dirigida a nossa política internacional.
Muitos apoiados.
Palmas.
O que Portugal fica devendo a essa política não é possível saber-se com exactidão, mas pode avaliar-se imaginando-se os horrores a que foi poupado. Ao olhar para as desgraças que pesam sôbre as nações que foram arrastadas no vórtice da tormenta, ingente, não podemos deixar de experimentar um profundo sentimento de reconhecimento pela obra dos dois chefes, que souberam, à custa de sacrifícios e de cuidados, servidos pela clara visão da nossa missão histórica, conservar-nos com dignidade à margem do conflito armado e indemnes dos horrores que êle semeou pelo mundo.
Deve-lhes o País reconhecimento eterno; saüdá-los, nesta hora solene, é dever patriótico da mais elementar justiça.
Eu os saúdo desta tribuna, com a minha voz apagada e humilde, certo de que interpreto, não apenas o sentir profundo das mãis portuguesas, mas o sentir unânime da Nação, e seguro de que a história há-de repercutir e confirmar êste aplauso, que é tam ferveroso como merecido.
Disse.
Vozes: — Muito bem, muito bem!
Palmas.
O Sr. José Nosolini: — Sr. Presidente, Sr. Presidente do Conselho, Srs. Ministros, Dignos Membros da Câmara Corporativa e Srs. Deputados: depois da palavra do Sr. Presidente do Conselho, expressão perfeita da alma nacional, todas as outras seriam dispensáveis; mas nós somos nesta Assemblea a projecção viva do pensamento, dos interêsses e dos ideais da nossa terra; temos, por isso, de esquecer, por dever, a pequenez, a modéstia das nossas possibilidades.
Sr. Presidente: ao espalhar-se a boa nova do que esta guerra, que tem atormentado o mundo, acabara na Europa, a gente portuguesa, vibrando do entusiasmo, mostrou compreender e sentir que a vitória tinha para Portugal um alto e extraordinário significado.
Emocionou-nos saber que cessaram os combates; que parou a destruição de riquezas e de valores materiais irrecuperáveis; que terminou neste velho continente um gigantesco ceifar de vidas.
Aplausos gerais.
Compartilhamos da alegria daqueles vencedores que nos são mais, queridos — a Inglaterra, nossa secular aliada, império admirável, que tam sàbiamente mantém e defende a sua brilhante missão histórica; o Brasil, nação que criámos e onde corre o nosso próprio sangue; a França, representante ilustre do génio e do espírito latinos.