5 DE MARÇO DE 1947 725
ico, as virtudes heróicas, ou seja a mais alta consagração moral dessas duas figuras nacionais, não podia nem devia o distrito de Portalegre ficar indiferente a tal acontecimento, nem deixar de salientar aqui, pela boca de um dos seus Deputados, a alta importância que o acontecimento reveste, dada a sua projecção universal. Mas, porque o Sr. Dr. Froilano de Melo já falou - e com invulgar eloquência o fez- do Beato João de Brito, não farei eu mais largas referências a esse aureolado mártir da Fé que professava, de cristão e de português.
Quero, porém, fazê-las, ainda que desvaliosas, à canonização de Nun'Álvares Pereira, indiscutivelmente o primeiro vulto da nossa História, que deve apresentar-se à mocidade lusa como exemplo a considerar e modelo a seguir.
Com base em documentos históricos anteriores a 16OO e no culto que o povo português começou de render a Nun'Álvares logo depois da sua morte, e em conformidade ainda com as disposições canónicas promulgadas pelo Papa Urbano VIII, vai Sua Santidade Pio XII celebrar a chamada canonização equipolente, a qual representa o reconhecimento, pela suprema autoridade da Igreja, daquele culto imemorial prestado a tão glorioso servo de Deus, que terá, por isso mesmo, as supremas honras dos altares de todo o Mundo.
Essa canonização, Sr. Presidente, que a Santa Sé só excepcionalmente admite, e que tem, por tal motivo, de considerar-se sobremaneira honrosa para a Nação Portuguesa, constituirá, afinal, a alta consagração canónica da veneração religiosa e patriótica quo Portugal vem tributando desde há séculos, a nobre e santa figura de Nun'Álvares Pereira.
Efectivamente, já em 1437, mal decorridos seis anos após a morte do Condestável, o nosso Rei D. Duarte escrevera ao célebre abade Gomes uma carta, cujo original se encontra na biblioteca de Florença, e na qual se pede a canonização de Nun'Álvares, com fundamento nas excelsas virtudes de que sempre dera provas, quer como guerreiro, à frente das suas hostes, quer como monge, sob as abóbadas do convento do Carmo, que ele fundara.
Mais tarde, dois outros Reis de Portugal - D. João IV e seu filho D. Pedro II - esforçaram-se também por obter a canonização de Nun'Álvares, sendo notável a mensagem que a tal respeito enviou para Roma, durante o reinado deste último monarca, o venerando Episcopado Português.
E ultimamente, por determinação honrosa de Sua Eminência o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, foi a Ala do Santo Condestável encarregada de concluir e fazer chegar à Cidade Eterna o processo respeitante àquela canonização, incumbência essa de que já se desempenhou, embora à custa de aturados esforços e de sérias dificuldades de ordem económica, pois andou, por esse Portugal fora, junto dos prelados, dos Governos civis e das câmaras municipais, e através da imprensa e de várias conferências públicas, diligenciando por que a Nação Portuguesa vibre de entusiasmo, num clamor fervoroso de graças a Deus, pela gloriosa figura de Nun'Álvares.
Mas, Sr. Presidente, para que as coisas sejam levadas a bom termo o mais rapidamente possível (e para tanto muito tem contribuído, quer estabelecendo directrizes, quer sugerindo elementos, o Postulador Geral das Causas da Ordem dos Carmelitas, com sede em Roma) torna-se necessário que o Estado, representante político da Nação, se associe a tão belo empreendimento, auxiliando a Ala do Santo Condestável, moral e financeiramente, no seu admirável esforço condestabriano.
Outrossim, e em homenagem à memória de Nun'Álvares, é também necessário que se leve a efeito a consolidação das ruínas do já referido convento do Carmo,
onde, depois de despir o seu arnês de guerreiro, o herói viveu os derradeiros dias da sua vida, envolvido na sua pobre e grosseira estamenha de monge.
E, Sr. Presidente, para que se resgate, quanto possível, a dívida de gratidão que Portugal tem para com o Santo Condestável, pedi eu, nesta Assembleia, ao Governo, há pouco mais de um ano, que mandasse erigir-lhe, numa praça pública, uma estátua, e o Governo -honra lhe seja- ordenou já que tal se fizesse, confiando a respectiva execução ao grande artista que é Francisco Franco, glória da escultura portuguesa contemporânea.
Foi essa estátua, e muito bem, mandada erigir na capital do Império, e porque não será demais erguer em Portugal uma segunda estátua a Nun'Álvares, pois se trata, sem sombra de dúvida, do maior português de todos os tempos, eu peço agora ao Governo que mande levantar uma outra, ainda que mais pequena, na cidade de Portalegre.
É que, se esta não é a capital do distrito onde o Condestável nasceu (e eu creio que sim, que o sou nascimento se terá verificado no Pomar do Bonjardim, junto do mosteiro de Flor da Rosa, onde, durante muitos anos, viveram seus pais), é, polo menos, Sr. Presidente, a capital do distrito onde ele se adestrou no uso das armas e se formou o seu espírito de herói e de santo. Foi ainda nesse distrito que Nun'Álvares, como guerreiro, praticou algumas das suas mais belas façanhas, e foi lá que ele deu os mais edificantes exemplos de piedade cristã, restituindo à pureza do culto religioso alguns templos, como a linda igreja de Arronches, hoje monumento nacional, que a fúria da soldadesca inimiga tinha ignobilmente profanado.
Com mais essa estátua, que poderia, Sr. Presidente, erguer-se em frente da velha e majestosa catedral de Portalegre, daria o Estado mais uma lição de civismo à Nação Portuguesa, designadamente a mocidade, para a qual Nun'Álvares é e deve ser sempre o mais vivo testemunho de virtudes morais e patrióticas da História de Portugal.
Disse.
Vozes:- Muito bem, muito bem!
O Sr. Antunes Guimarães:- Sr. Presidente: no último sábado estiveram na cidade do Porto os Srs. Ministro da Economia e Subsecretários de Estado da Agricultura e do Comércio e Indústria.
Acompanharam aqueles ilustres membros do Governo altos funcionários de várias repartições económicas.
Assim, e com tanta galhardia, corresponderam S. Ex.ªs a um oportuno convite dos Grémios da Lavoura do Norte.
A reunião efectuou-se na magnífica sede da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.
A imprensa, por seu lado, com a noção exacta da magnitude dos problemas ali tratados, deu àquele importante acontecimento o maior relevo, tendo publicado relatos desenvolvidos sobre as reclamações e alvitres da lavoura, apresentados pêlos presidentes de alguns dos seus grémios e pelo ilustre presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.
Por último, ao notável discurso do distinto titular da Economia foi também dado o realce que bem merecia.
Foi mercê desses relatos que eu pude avaliar do merecimento das considerações feitas naquela memorável reunião, pois, embora eu tivesse estado trasantontem na cidade do Porto, entendi tratar-se de uma troca de impressões do Governo com os organismos corporativos da lavoura, a cujos corpos gerentes não tenho a honra de pertencer.
Assim, foi-me dada a satisfação de ler que, logo no início, se pediu a integração da Comissão dos Vinhos Verdes na organização corporativa, se salientou a neces-