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5 DE MARÇO DE 1947 727

Bastava esta afirmação para justificar a ida à cidade do Porto daqueles ilustres membros do Governo.
É outro tema que brevemente será discutido nesta Assembleia, oportunidade magnífica para ser convenientemente apreciado.
Que o Ministro e os seus Subsecretários de Estado continuem a trabalhar, como solenemente foi prometido naquela brilhante reunião, em íntima colaboração com as forças vivas do. País, são os meus votos, porque entendo que só assim conseguiremos caminhar para a fórmula de trabalho eficiente que todos sinceramente desejam.
Disse.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente:- Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão o aviso prévio do Sr. Deputado Bustorff da Silva acerca do problema monetário.
Tem a palavra o Sr. Deputado Botelho Moniz.

O Sr. Botelho Moniz: -Sr. Presidente: ao subir à tribuna para justificar a moção que apresentei e já foi lida na Mesa, cabe-me uma vez mais a tarefa difícil do falar quase em último lugar. Ando sempre atrasado nas coisas desta vida; por isso ninguém se admire do que chegue tarde à inscrição para quaisquer debates.
A Assembleia conhece suficientemente o que penso acerca da maneira como têm decorrido os trabalhos parlamentares.
Quando, ainda há poucos dias, lhe manifestei tanta admiração e solidariedade, ao referir-me ao passado, parece que adivinhava o futuro e a elevação extraordinária deste debate. Por isso, escuso de gastar muitas palavras de elogio sobre a maneira, como tem decorrido.
Em primeiro lugar, referir-me-ei ao relatório apresentado pelo Sr. Ministro das Finanças sobre a política monetária de 1939 a 1945. Embora se possa discordar de algumas explicações ou conclusões, não hesito em dar-lhe a classificação de magistral. Merece-a, não pela categoria de professor o de Ministro do autor, mas pelo conteúdo da obra.
Iniciou o debate o Sr. Deputado Bustorff da Silva, cuja palavra eloquente ouvimos com verdadeiro encantamento. Seguiu-se-lhe a oratória verdadeiramente académica, embora algumas vexes prejudicada por citação de números, de Alberto do Araújo. Admirámos depois o saber profundo de Ulisses Cortês. Vieram em seguida dois homens, cujos dizeres analisarei em conjunto, os Srs. Deputados Franco Fraxão e Teotónio Pereira, vozes autorizadas que foram a expressão da prudência, natural em pessoas habituadas às actividades económicas.
Pacheco do Amorim deu-nos uma lição preciosa, que confirma o seu talento excepcional.
Não quero chamar-lhe «aliciante», porque o termo já vai sendo vulgar. Direi que os sons argumentos foram sedutores e perturbadores como os olhos duma mulher bonita, e apresentados com a concisão e a elegância próprias dum grande espírito matemático.
Na sequência do debate, aparece-nos ainda outra impressionante figura de estadista que, com a austeridade e a severidade de um delegado do Ministério Público, talvez um pouco eivada daquela deformação profissional que em tudo vê matéria de acusação - refiro-me ao engenheiro Sr. Araújo Correia -, criticou o muito que não se fez, mas recusou-se - vamos com Deus! - a ensinar--nos quanto deveríamos fazer.
Em compensação, outro homem de Estado, ilustre e expressivo, no qual não sei mais que admirar, se a precisão da forma, se a beleza do conceito, indicou-nos em quatro palavras do final do seu discurso todas as soluções possíveis do problema financeiro, demonstrando que para todas elas nos encontramos devidamente preparados- refiro-me ao Sr. Dr. Águedo de Oliveira.
Sr. Presidente: respeito tanto esta Assembleia que hesitei muito - e a prova disto está na ordem de inscrição- a intervir no debate. Perante tão alto nível de discussão, que pode servir de exemplo seja onde for, verifico que a minha hesitação era justificada.
Já nada venho fazer aqui nesta tentativa do defender uma moção que pêlos oradores antecedentes se encontra justificada no espírito de todos os Deputados.
Se não posso elevar-me a esse nível, será inútil a minha presença?
Talvez não.
Porque nenhum dos oradores antecedentes conseguiu ser vulgar e acessível, torna-se indispensável que alguém o seja. Tentá-lo-ei eu, ao interpretar as reacções do cavador, do mecânico, do capataz, em resumo, do grande público a que se referiu o Prof. Sr. Dr. Pacheco do Amorim.
Que pensa o Pais do nosso debate?
Procurarei analisá-lo vendo-o de fora para dentro, como sói dizer-se.
Para tal efeito não empregarei um único número. Hão-de fazer-me a justiça do acreditar que também consigo compreender os mistérios das ordenadas e das abcissas; das curvas de valores e dos paralelismos das curvas; o dos mapas, muitos mapas, que geralmente apresentamos nos nossos estudos para justificarmos conceitos e conclusões.
As pessoas vulgares lá de fora sentem-se emaranhadas, todas emaranhadas, entre tantas curvas e tantos números. Procurarei servir-me daquilo quo o grande público possa compreender facilmente. E entre esse grande público coloca-se em primeiro lugar a mulher, dona de casa.
Disse algures um grande humorista que a maior vantagem que os povos tinham em sor governados de direito por homens consistia no lacto de, por isso mesmo, serem mandados por mulheres. Neste capítulo das dificuldades económicas, devemos efectivamente reconhecê-lo, quem tem a palavra é a dona de casa. E a dona de casa, geralmente, é uma senhora tirânica quo não admite oposição dentro da sua assembleia, familiar. É ela quem dá aos homens da família o conhecimento -às vezes até agravado, se ela faz economias às escondidas - das dificuldades da vida económica. A dona de casa comanda o lar e, em consequência do governo do lar, comanda a vida nacional. Aquilo que ela disser - eis a opinião do grande público. Ora, em geral, ela diz-nos que é muito fácil ao Estado, por força de leis e mais leis, equilibrar o orçamento oficial; mas que ó difícil ou impossível à dona de casa, que não dispõe do poder do fazer leis ou de aumentar o ordenado do marido, equilibrar o seu orçamento familiar.
Conhecemos, na vida portuguesa, o exemplo de situação política apoiada pela admiração das mulheres, que souberam elevá-la ao mais alto céu do entusiasmo. E sabemos que quando a mulher é adversa a uma política, raro é que ela consiga triunfar.
Perante esta discussão, quais serão as reacções das donas de casa? Sabem elas, porventura, se foi a inflação que causou a alta de preços e o desequilíbrio económico, ou se, ao contrário, a inflação foi causada, pelo menos em parte, pela alta de preços?
Conhece, porventura, o círculo vicioso das influências mútuas e consecutivas da inflação e dos preços?