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160 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 120

Mas não há cegos piores do que os que me querem ver. Se eles abrissem os olhos, haviam de notar o que o Estado vem fazendo e fez. Estudos e realizações em marcha, que são Hirtáveis empreendimentos, como os grandes hospitais, escolares de Lisboa e Porto, que serão os maiores edifícios do País e cujas obras deviam, porventura, prosseguir mais aceleradamente, a ampliação dos sanatórios de Lisboa, para descongestionamento dos hospitais, o instituto de Oncologia, em vias de acabamento, a Escola de Enfermagem e muito mais por esse País fora.
Realizações efectivas: em Lisboa, a Maternidade Alfredo da Costa, o Hospital Júlio de Matos e a transformação do Miguel Bombarda; no Porto, o Sanatório D. Manuel II; em Coimbra, além de tudo o mais, bem conhecido, o Hospital Sobral Cid. E também merecem menção o Sanatório de Abraveses e a Leprosaria Rovisco Pais, magnífica instituição que devia ser visitada por todos os médicos portugueses, etc.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Realizações que os críticos deviam confrontar com o zero, ou pouco mais, da primeira República...

Vozes: - Apoiado! Apoiado!

O Orador: - Mas os cortejos de oferendas não valem apenas como meio original, e até agora inigualado, do contributo particular. Valem também como expressão dos sentimentos nobres e, cristãos do povo português, enfim, da alma do nosso povo; como sintoma de que, na verdade, há coisas novas em Portugal e de ter melhorado o nosso nível moral e social e ainda como revelação de quanto podem a união, a vontade e os esforços de todos ao serviço de uma causa nobre.
Vale a pena. «Tudo vale a pena quando a alma não é pequena», disse um grande poeta. E a alma do nosso povo é sempre grande.
Os cortejos de oferendas são ainda esplêndida escola de civismo, extraordinário exemplo do virtudes para todos, velhos, novos e crianças, testemunho de solidariedade humana. Até porque a oferenda não é esmola humildemente pedida, que avilte, mas tributo voluntário de todos para o bem comum. Não se pede; dá-se.
E belas coisas se vêem!
Há cerca de dois meses tive a consolação de assistir, numa das mais lindas terras do meu distrito - em Águeda -, ao cortejo que pela sexta vez ,se realizava, e que foi deslumbrante e largamente produtivo, graças à valiosa intervenção do novo presidente da Câmara Municipal. Percorri o hospital, instituição modelar, que honra a terra e dignifica quem o doou e quem o dirige, com ciência e consciência e com o coração, pondo esta paixão acima de todas as paixões. Honra lhe seja. Nem a rápida visita ao armazém onde estavam a ser recolhidas as oferendas, presenciei uma cena digna dos ensinamentos da casa do bom padre Américo: um gaiato de palmo e meio, descalço e andrajoso, tirava disfarçadamente do bolso a sua oferenda e arremessava-a para uma rima de vitualhas. Gota de água naquele oceano imenso, mas talvez a mais rica por ser a mais expressiva das oferendas.
Os cortejos de oferendas são, finalmente, notáveis espectáculos de beleza e de arte; de arte espontânea, simples, por vezes ingénua, e por isso mais expressiva e impressionante; espectáculo de beleza, de cor e de alegria. Documentário precioso de tradições e costumes, em que têm realce os ranchos alegres da gente
moça de cada aldeia, em competência amiga para primazia no valor e na apresentação das oferendas, e não em certame a prémio, entre grupos mais ou menos teatrais e estilizados, a passo de compasso, com ritmo e harmonia impecáveis, simpáticas, e generosos, mas nem sempre com tradição no folclore regional.
Enfim, Sr. Presidente: o feito é digno de ser mirrado, cantado e reproduzido na tela. Simplesmente, Deus não me falou para literato, poeta ou artista.
Por isso, nestas simples e despretensiosas palavras, e certamente interpretando o pensamento da Assembleia, apenas me propus dirigir gratas e calorosas homenagens, em geral, tis Misericórdias que promovem, às autoridades que facilitam e colaboram e ao bom povo que realiza os cortejos de oferendas, e, em especial, à gente do meu distrito, onde, ao que imagino, é maior a frequência da realização.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Belchior da Costa: - Sr. Presidente: não era meu propósito usar da palavra na sessão de hoje; porém, a intervenção do Sr. Deputado Figueiroa Rego sobre a coordenação de ligações de caminho de ferro entre a linha do Norte e a linha do Oeste sugeriu-me e estimulou-me, pela oportunidade do momento, a pedir a V. Ex.ª o favor de me conceder a palavra para fazer incidir a atenção da Câmara e, por via dela, o patrocínio do Governo sobre um problema, também ligado a caminhos de ferro, que muita interessa, particularmente, à região que, em certo sentido, eu tenho a honra de representar nesta Assembleia - a região do norte do meu distrito.
Quero referir-me ao caminho de ferro do Vale do Vouga, que, bifurcando-se num dos seus lados em dois braços, que, por assim dizer, abraçam, num amplexo firme, uma das regiões mais encantadoras do País, compreendida entre a ria de Aveiro e as praias que ficam a sul da cidade do Porto - Aveiro e Espinho -, se estende através de um interland extenso em comprimento e extraordinariamente fértil em riqueza e cheio de encantadora beleza paisagística, até terminar nessa jóia da Beira que se chama a cidade de Viseu.
Concluído em 1908 - era eu então menino e moço -, recordo-me, todavia, de que esse acontecimento veio trazer, para as regiões por onde a linha de ferro caminhou, um cómodo de progresso e um novo sentido à vida daquela, região.
Foi, dizia eu, essa inauguração solenemente feita pelo falecido e último Rei de Portugal, D. Manuel II.
Era então eu pequenino, mas recordo-me de que, na freguesia onde nasci, no limite norte do meu concelho, por essa ocasião, as autoridades administrativas vieram receber a Majestade exactamente à terra que me foi berço. E esse espectáculo, para mim extremamente deslumbrante, ficou perdurando na minha memória e jamais foi possível esquecê-lo.
Claramente, com o caminho de ferro modificou-se a fisionomia de toda aquela região, e aquele mistério de beleza que era a região de Lafões - e refiro-me a ela por ver junto de mini o nosso ilustre colega Sr. capitão Ribeiro Cazaes - pode revelar-se em toda a sua imponência aos olhos dos viajantes.
Ficou, Sr. Presidente, entretanto por concluir o trabalho que se havia projectado.
A construção do caminho de ferro do Vale do Vouga implicava a organização de um sem-número de ramais das regiões que lhe ficavam à ilharga, ramais que fizessem convergir sobre a linha central as riquezas dessas