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28 DE JANEIRO DE 1953 529

riquezas naturais ou dos prodígios da técnica, quanto da interferência profunda de um ideal de vida, quanto, Sr. Presidente, por sobre costumes, mentalidades, raças e credos, os mais desvairados, do poder aglutinador e fecundante dos princípios políticos com os quais aquelas riquezas e aquelas forças foram postas ao serviço do Homem, da sua dignidade, da sua liberdade. O espírito, antes de tudo, a comandar e a enformar.
Também o discurso do Presidente Eisenhower ficou a ressoar nas nossas almas como fonte de confiança, como apelo para a verdade na compreensão dos problemas hodiernos, como modelo de nobreza na vida pública. Foi uma peça fora do comum na oratória política contemporânea e creio, Sr. Presidente, que alguns dos seus conceitos se valem pela oportunidade e eficiência no drama dos nossos dias, são outrossim dignos de se intemporalizarem nas antologias. Permito-me recordar um ou outro:

Os inimigos da nossa Fé só conhecem como Deus a força e só têm uma religião: a da força. Ensinam a traição aos homens. Saciam-se em detrimento da fome alheia.
Torturam tudo quanto lhes resiste e, principalmente, a verdade.
A Paz, em vez de fuga perante a morte, é uma forma de encarar a vida. Não é o refúgio do fraco, é a esperança do valente. É a esperança que nos faz caminhar neste século de provação. É a tarefa que a todos espera, que tem de ser desempenhada com coragem, com caridade e dando graças a Deus Todo Poderoso.
Nunca tentaremos aplacar um agressor à custa de um logro, comprando a segurança pelo preço da honra, porque a mochila do soldado é menos pesada que as grilhetas de prisioneiro.

Não há aqui, Sr. Presidente, apenas a beleza retórica, a expressão incisiva do político que quer encorajar e armar o mundo ocidental. Há, sobretudo, uma grande força moral subjacente, há verdade, há grandeza de pensamento, e são elas, mais que a forma, que tangem as cordas melhores dentro de cada um de nós. Este grande general vitorioso, com uma vida impoluta, este grande homem, aparece-nos assim como um grande orador a dar testemunho, a final, do antigo conceito nemo arator nisi vir bonus.
Também, Sr. Presidente, o conflito de consciência que atravessou o novo ministro da defesa americano, o Sr. Wilson, obrigado, para exercer o cargo, a vender as suas acções da General Motors, venda sujeita a pesadíssimo imposto, impressiona vivamente e denuncia também seriedade, autenticidade e nobreza na vida pública.
Noutro país em que as leis não fossem levadas a sério, em que os costumes na vida pública se deixassem relaxar e não passasse de palavra vã a fiscalização, quer da administração pública, quer da administração das grandes sociedades anónimas, tal conflito nunca existiria. Lá encontrariam mil maneiras de compensar o ministro do seu pesado desembolso... Ali, porém, as coisas são levadas a sério. E este milionário, que, permita-se, Sr. Presidente, a anotação, dirigiu uma das empresas americanas onde a participação dos trabalhadores nos lucros é praticada em mais larga escala, hesitou, como é humano, mas afinal cortou cerce com amarras que o impedissem de servir sem suspeições e sem sombras o bem comum.
Entre a grandeza e a dignidade das circunstâncias que rodearam a posse do novo presidente americano, poderiam ter espantado algumas pessoas na nossa velha Europa certas explosões de vitalidade daquele povo jovem: o cow-boy, por exemplo, que não encontrou forma mais expressiva para enlaçar o presidente no seu afecto senão precisamente com o laço da sua arte...
Certa sisudez que o peso dos séculos impôs nos costumes deste velho continente, se é uma qualidade, não raro serve para apenas encobrir insinceridade, para embotar a pureza dos sentimentos, para afastar da verdade da vida. Sem dúvida, nós temos aqui as matrizes dos grandes princípios que engendraram o melhor da vida americana nos nossos conventos, nas nossas Universidades, nas nossas catedrais, nos nossos museus, nas nossas literaturas.
Mas, Sr. Presidente, enquanto em tantos países da banda de cá do Atlântico nos não aproximarmos da justiça e do equilíbrio que imperam no arranjo social da vida americana, enquanto a miséria abundar à beira do privilégio e da surdez do egoísmo, julgo que não há lugar para desdéns ou para invocar antigos títulos, mas antes para receber de ânimo aberto as saudáveis lições que de lá nos vêm.
A posse do Presidente Eisenhower e as circunstâncias de que se revestiu impressionam como lição de altura e de nobreza na vida pública, como antídoto para certa mediocridade, para certo espírito de pelintrice na condução dos negócios públicos que, às vezes, se depara na velha Europa. E não podem atribuir-se aquelas qualidades sómente à vida pública das grandes nações ricas, pois pode ser-se pobre sem se ser pelintra. Também na nossa pequena casa lusitana surgem às vezes exemplos que convém acentuar.
Como lição de nobreza na vida pública, impressionou-me muito também, e gostaria de a associar aos factos que refiro, ocorridos na democracia norte-americana, a grande elevação com que V. Ex.ª, Sr. Presidente, e os ilustres Deputados Drs. Mário de Figueiredo e Carlos Moreira há dias aqui prestaram piedosa e justa homenagem à vida nobre de homem público, de chefe de família e de intelectual que foi o Dr. Fezas Vital.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O nosso país, Sr. Presidente, devia estar afeiçoado como raros para tirar todo o proveito da grande lição do Presidente Eisenhower. Tem sido motivo há vinte e cinco anos de uma carreira de estadista das mais puras, das mais nobres, das mais abnegadas que a História há-de registar. Tem sido campo de acção de uma «consciência, na antiga e alta acepção da palavra», como V. Ex.ª, Sr. Presidente, há dias sublinhava com tanta propriedade e brilho a propósito da figura do Dr. Fezas Vital.
Nós temos assim especiais obrigações para ter uma vida pública impregnada de nobreza, de isenção, de justiça social, de seriedade nos métodos, de firmeza de carácter, forças estas, Sr. Presidente, muito poderosas, de que nem o mais eficiente armamento atómico permite prescindir na frente de defesa do mundo ocidental.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta da lei orgânica do ultramar.
Tem a palavra o Sr. Deputado António Maria da Silva.